Vice-procuradora da República, Ela Wiecko renunciou ao cargo depois de ter revelado que o
presidente interino, Michel Temer, "está sendo delatado"; em entrevista concedida hoje, ela
também classificou o processo de impeachment de Dilma Rousseff como "um golpe" e declarou
que "tem muita gente dentro da instituição" que pensa como ela; com sua queda, abre-se uma
crise no Ministério Público e a crise institucional brasileira sobe mais um degrau.
Jornal GGN - Ela Wiecko renunciou ao cargo de vice-procuradora da República na noite desta terça-
Jornal GGN - Ela Wiecko renunciou ao cargo de vice-procuradora da República na noite desta terça-
feira (30), após dizer, em entrevista à Veja, que o interino Michel Temer (PMDB) está sendo
delatado na Lava Jato e, por isso, ela não vê com bons olhos que o peemedebista assuma a cadeira
conquistada por Dilma Rousseff na eleição de 2014. A iniciativa da magistrada ocorre na véspera do
julgamento final da presidente.
A então número dois da Procuradoria Geral da República recebeu uma ligação de Veja porque o
veículo queria repercutir um vídeo em que Wiecko aparece em um protesto contra o impeachment,
em Portugal, em meados de junho. Ela explicou que estava frequentando um curso de férias e
decidiu se juntar a manifestantes que consideram o afastmento de Dilma um "golpe".
"Eu acho que, do ponto de vista político, é um golpe, é um golpe benfeito, dentro daquelas regras.
Isso a gente vê todo dia, é parte da política", disse Wiecko quando questionada sobre sua opinião
sobre o processo.
Veja quis saber, então, se Wiecko estava chamando o impeachment de golpe mesmo com a
Veja quis saber, então, se Wiecko estava chamando o impeachment de golpe mesmo com a
"participação" do Supremo Tribunal Federal e da Procuradoria-Geral da República no processo. "Aí
tem que ser uma conversa muito mais comprida", respondeu, recusando-se a aprofundar este assunto
ao telefone. "Tem que ser olho no olho", afirmou.
Segundo Veja, Wiecko comenteu uma "inconfidência" quando disse que Temer está sendo delatado
Segundo Veja, Wiecko comenteu uma "inconfidência" quando disse que Temer está sendo delatado
na PGR e que este seria um dos motivos que a leva a rejeitar a ideia de que ele será presidente da
República em caráter definitivo. Ela também comentou que dentro do Ministério Público Federal há
outras figuras com o mesmo ponto de vista.
"Tem muita gente que pensa como eu dentro da instituição. Eu estou incomodada com essas coisas
"Tem muita gente que pensa como eu dentro da instituição. Eu estou incomodada com essas coisas
que estão acontecendo no Brasil. Acho que não foi da melhor forma possível. E pelas coisas que a
gente sabe do Temer, não me agrada ter o Temer como presidente. Não me agrada mesmo. Ele não
está sendo delatado? Eu sei que está. Eu não sei todas as coisas a respeito das delações, mas eu sei
que tem delação contra ele. Então, não quero. Mas as coisas estão indo."
O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, deputado Padre João,
emitiu uma nota em solidariedade à Wiecko.
O GGN reproduz abaixo:
Colaboradora de anos e anos desta Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados, Ela Wiecko é uma referência em lutas essenciais à nossa democracia: contra o trabalho
escravo, pelos direitos dos povos indígenas e quilombolas, pela igualdade racial e de gêneros, pela
ética na política. Uma pessoa cuja sensibilidade social e compromisso com a Justiça são
indissociáveis de sua atividade profissional e posicionamento cidadão.
Respeitamos sua decisão de renunciar ao cargo de Vice-Procuradora Geral da República, registrando
no entanto a lacuna que se abre na instituição neste momento delicado da vida nacional, com tantos
riscos à democracia e aos direitos humanos. Sabemos que poderemos continuar contando, como
sempre contamos, com sua atuação funcional destemida e consequente na defesa dos direitos
fundamentais do povo brasileiro.
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