quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Ciro sobre Temer: “É o caso de a gente ir lá e tacar fogo, metaforicamente, ou não”


Em participação no evento promovido pela Agência Democratize, o ex-governador falou sobre 
o polêmico caso envolvendo o candidato Pedro Paulo (PMDB) no Rio de Janeiro, além de 
traçar linhas de pensamento sobre o governo Michel Temer: “O Paulo Skaf vai tomar um 
monte de pato na testa, porque eles [governo Temer] vão propor aumento de impostos”

Por Francisco Toledo, da Agẽncia Democratize

Cada vez mais presente no debate político brasileiro, o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), participou do debate promovido pela Agência Democratize em sua festa de aniversário, neste domingo (21) em São Paulo. O tema central da conversa foi a atual conjuntura política brasileira — mas sobrou espaço para outras questões polêmicas.
A principal delas foi a declaração feita por Ciro sobre a candidatura de Pedro Paulo (PMDB) para a prefeitura do Rio de Janeiro, durante a semana passada. O ex-governador havia dito que não tinha problema o PDT apoiar o candidato do PMDB no Rio, acusado de ter agredido sua ex-mulher.
“Eu lá no Rio de Janeiro, tinha escolhas pessoais diferentes dessa [de apoiar Pedro Paulo]. Sou amigo do Molon (deputado federal e candidato pela Rede). Tenho uma relação histórica e antiga com o PCdoB, gosto muito da Jandira [deputada federal e candidata pelo PCdoB). Sonho em conseguir reunir o campo progressista em uma única frente”, disse Ciro.
Porém, diante da escolha do PDT do Rio, o ex-governador afirma ter preferido evitar uma discussão interna e uma divisão partidária, ao acolher a decisão da sigla. “Mas o PDT, que tem relevância absoluta, optou pelo Pedro Paulo. Vocês acham que eu iria bancar o purista, bancar uma dissidência no meu sétimo partido?”, completou.
Mas a conjuntura política atual foi o papo central do debate com Ciro Gomes neste domingo em São Paulo.


Impeachment e Dilma
Para Ciro Gomes, a vida de Michel Temer não vai ser nada fácil nos próximos meses — até mesmo se o processo de impeachment contra Dilma sair vitorioso no Senado Federal.
O ex-governador tocou em algumas frentes específicas que podem dificultar as intenções do atual presidente interino em seu projeto político, sendo a principal delas a política de austeridade, e como isso pode se tornar um problema para a sociedade civil.
“No dia seguinte ao impeachment, vocês vão ver a grande mídia partir pra cima [do governo Temer] para cobrar a austeridade por parte do governo”, disse Ciro, sobre a participação da grande mídia corporativa para os próximos episódios da política brasileira.
“O Paulo Skaf vai tomar um monte de pato na testa, porque eles [governo Temer] vão propor aumento de impostos. Vem a CPMF, vem a CIDE. E ainda assim com grande dificuldade de prosperar no Congresso, porque esse Congresso não votou a favor de Michel Temer, votou contra a Dilma”, concluiu o ex-governador.
Outra linha defendida por Ciro foi a questão internacional diante do processo político brasileiro. Para ele, o novo governo deve caminhar cada vez mais longe dos países em desenvolvimento que formam os BRICS, e que isso mostra claramente uma postura de “entreguismo” para a política defendida pelos Estados Unidos: “Dos BRICS pode sair para o Brasil, por exemplo, um regime de preferências comerciais que dão a econômia brasileira e ao empreendedor brasileiro um mercado consumidor de 3 bilhões de bocas. Você tem a possibilidade nos BRICS de transferências tecnológicas sensíveis para superar rapidamente determinados atrasos tecnológicos, especialmente tecnologias militares ou e de comunicação”.
Ainda no tema internacional, o entreguismo voltou a ser assunto sobre a possibilidade de venda do patrimônio público. “Esses canalhas estão se aprontando para vender a BR Distribuidora, que é o lado filé do negócio, é a distribuição. É o caso de a gente ir lá e tacar fogo, metaforicamente, ou não, pois não houve discussão popular, para ele — Temer — fazer uma mudança tão violenta no país, sem legitimidade”, disse sobre o projeto que tramita no Senado Federal que poderá tornar possível a privatização e venda da Petrobras, principal empresa estatal brasileira.
Quando questionado sobre quais foram os méritos de Dilma Rousseff no comando do Brasil que a fizeram cair nas mãos do Congresso, Ciro tocou em alguns pontos específicos.
O primeiro dele foi a capacidade de Dilma não ter influenciado diretamente na Operação Lava Jato — ou seja, ter deixado as investigações continuarem, mesmo quando figuras centrais do Partido dos Trabalhadores foram afetadas diretamente. Segundo o ex-governador do Ceará, isso teria sido um dos motivos principais que fizeram Dilma perder apoio no Congresso, principalmente na Câmara dos Deputados: “Se a agenda do golpe são esses três grupos hegemônicos, a primeira grande questão é que a Dilma não aceitou fazer acordo para travar a Lava Jato”.
Outro motivo teria sido a honestidade de Dilma que, mesmo tendo seguido um caminho considerado “errado” na política e economia, como na nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda em 2015, nunca se demonstrou uma pessoa indigna de ocupar o cargo da presidência da República.
Ciro 2018?
Para encerrar a conversa, não poderia faltar a pergunta sobre a possibilidade de Ciro Gomes concorrer para a presidência da República nas próximas eleições, no ano de 2018.
Ao contrário de outras declarações neste ano, o ex-governador sinalizou pela primeira vez a vontade de ocupar o cargo mais importante do país — mas não necessariamente a intenção de concorrer.
“Eu posso ser candidato a presidente da República, ou posso não ser. Não queria ser. Estava a 10 anos sem disputar eleição. Voltei pra luta por causa desse golpe. Eu me consideraria um covarde se não estivesse fazendo isso”, disse no começo do debate. Porém, o assunto voltaria depois horas de conversa, no final do evento, após ser questionado se teria vontade de ser candidato — e não necessariamente se vai ser ou não.
O ex-governador, que já foi candidato para presidente em 1998, ironizou uma possível candidatura com a atual situação brasileira: “Eu gostaria de encontrar uma forma de ser presidente sem ter que ser candidato e passar por eleições”, disse Ciro Gomes, que foi rebatido com gritos irônicos de “é golpe!”, em referência ao presidente interino Michel Temer, que deve ocupar o cargo de forma permanente até 2019, caso o impeachment de Dilma se concretize.

Acompanhado por Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e Pompeo de Mattos, presidente 
estadual do partido, o pré-candidato à presidência da República pela sigla, Ciro Gomes, esteve 
em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, na noite desta terça-feira para o 
lançamento da candidatura de Daniel Bordignon à prefeitura da cidade no Centro de 
Tradições gaúchas (CTG) Aldeia do Anjos. Saudado como "nosso futuro presidente", Ciro 
Gomes tirou selfies com os apoiadores, tomou chimarrão e conversou ao pé do ouvido com 
Bordignon que, preso no trânsito, chegou atrasado ao evento. Em conversa exclusiva com ZH, 
cearense não poupa críticas ao governo de Michel Temer, que faz questão de chamar de 
golpista e canalha, afirma que os escândalos em Brasília devem ter pouca influência nas urnas 
em outubro e que a crise econômica não será resolvida sem aumento de impostos.

Confira os principais trechos:
Foram divulgadas as primeiras pesquisas eleitorais no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, PSoL e PT, dois partidos de esquerda, saíram na frente. O senhor acha que as urnas vão mandar algum recado para o governo interino?
Nas grandes cidades há sempre um componente relevante da política nacional embora o predominante para quem tem a vivência que eu tenho e você vai ver isso de novo nessas eleições, seja o interesse local. A conjuntura do município onde acontece a eleição. O PT está sofrendo um trauma, em função de todos os escândalos que aconteceram. Mas tudo indica que é uma eleição onde vai marcar muito mais o aspecto local do que uma referência para o país.
Os eleitores vão levar mais em conta a vida nas cidades que os escândalos em Brasília?
É a tradição brasileira. A eleição municipal é a ultrafederação e ultrafragmentação partidária. Isso é uma característica da vida política brasileira e não são boas características. São consequências de uma vida democrática pouco longa. As ideologias políticas estão muito contraditórias com a retórica e os políticos estão muito desmoralizados, aí os eleitores acabam olhando muito mais o aspecto local.
Nos próximos dias, o Senado vota o impeachment da presidente Dilma, na qual o senhor já se manifestou contrário. Todas as estimativas apontam uma derrota da petista. Ainda dá para virar o placar?
Há uma chance remota, improvável. Mas precisamos lutar até o fim porque a História fará o registro dessa fase. E será um registro muito azedo se consumado o impeachment. O país entrará em uma instabilidade de uma, duas décadas a partir disso. E a primeira vítima será o golpista, salafrário e traidor Michel Temer.
Alguns indicadores econômicos já começam a dar algum sinal de reação. Essa melhora é pontual?
Isso é mentira da grande mídia. Não tem nenhum sinal de melhora com consistência. Quando se vive uma depressão profunda, como a que estamos vivendo, a riqueza brasileira cai nove pontos percentuais em 24 meses, acontece o efeito fundo do poço: você bate e volta. Ainda com a Dilma esse fundo do poço já estava se aproximando. Tivemos a explosão do câmbio que ajusta uma série de coisas importantes no país e que não foi nenhuma providência tomada pelo governo. O sintoma mais grave que foi apontado contra a Dilma, que foi a irresponsabilidade fiscal, está dramaticamente piorado. Esse governo interino é muito mais irresponsável. Do jeito que está ano que vem a dívida pública se aproximará de 90% do PIB. Isso trava a taxa de juro em um momento de queda da inflação. O que torna o juro real no Brasil muito alto, impedindo o sistema produtivo de reagir.
Caímos na tão falada armadilha do crescimento?
Exatamente. E tudo indica que o desemprego que hoje esta em 11% caminha a passos muito sólidos para o redor de 14%.
Como o senhor avalia as propostas de reforma trabalhista e previdenciária, apresentadas pelo governo Temer?
Na verdade essa é a essência do golpe. Eu acredito que ainda teremos uma grande discussão olímpica de quem será enganado. Porque esperar colher um maracujá de um pé de maçã é improvável. Padilha, Moreira Franco, Michel Temer e Romero Jucá forma uma quadrilha de marginais. Esperar austeridade daí é esperar maracujá de um pé de maçã. O Congresso brasileiro, uma vez superado o impeachment, vai voltar a sua hiperfragmentação ideológica já mirando as eleições. Quero ver esses calhordas corruptos conseguirem votar uma emenda a constituição que reduzirá despesas com aposentados, universidades e SUS. Fora a ira popular. A maioria das pessoas ainda está paralisada pela decepção com o governo Dilma, mas conforme a conversa avançar haverá revolta popular. Evidentemente não vai ser tão fácil como eles pensam que vai ser.
Tem como o país sair da crise sem passar por um ajuste fiscal?
Sem chance. Só que o ajuste fiscal que nós precisamos é tão violentamente grave que não é possível em ambiente contracionista. Se você não tomar a decisão de retomar o crescimento econômico e bancar os riscos, tensões e contradições inerentes a isso e se também não introduzir aumento de impostos não há menor chance nos próximos 24 meses. Principalmente com um governo ilegítimo, que não tem nenhuma moral para pedir nada de ninguém.

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