O repórter Marcelo Auler faz, em seu blog, um impressionante relatório da verdadeira corrida
de tartarugas que são os procedimentos da Polícia Federal quando se trata de investigar as
escutas, vazamentos e outras suspeitas de irregularidade. A rapidez com que vazam os
depoimentos sigilosos e acordos de delação premiada – como o de Nestor Cerveró – é
inversamente proporcional à da busca de esclarecimentos. Os papéis secretos que foram parar
nas mãos do banqueiro André Esteves – e deixaram indignado o ministro do STF Teori
Zavascki – até hoje, mais de um mês depois, não apenas continuam um mistério como o
delegado ainda está esperando as imagens das câmeras de segurança. A sindicância sobre a
escuta encontrada na cela de Alberto Youssef (no ano passado!), apesar da promessa da PF a
Sérgio Moro de concluí-la em novembro, vai passar o reveillon inconclusa.
Marcelo Auler
Ninguém nega que os resultados das investigações que escancaram o lamaçal de corrupção que há
anos domina as relações de empresários, políticos e governantes brasileiros são impressionantes.
Discute-se sim que estas investigações sejam focadas nos governos dos petistas, embora não tenham
começado com eles. Também se tornaram questionáveis os possíveis métodos adotados por
operadores da Lava Jato para atingirem o fim desejado. Bem como o pouco caso destes mesmos
operadores, quando diante de irregularidades, ou mesmo crimes teoricamente praticados por alguns
dos encarregados desta investigação.
Entre agosto – quando publicamos “Lava Jato revolve lamaçal na PF-PR” – e dezembro deste ano, os
Entre agosto – quando publicamos “Lava Jato revolve lamaçal na PF-PR” – e dezembro deste ano, os
números que retratam a Lava Jato aumentaram vistosamente: os procedimentos instaurados pularam
de 716 para 1016; as buscas e apreensões somavam 356 e hoje são 396; eram 86 mandados de
condução coercitiva, agora são 99; foram executados 105 mandados de prisões e hoje totalizam 119;
de 53 pedidos de cooperação internacional pulou-se para 86; as delações premiadas subiram de 28
para 40; na época estavam protocoladas 31 denúncias criminais contra 143 pessoas, atualmente são
36 com um total de 179 denunciados.
O delegado Moscardi na premiação aos delegados da Lava Jaro pela Associação de Delegados
da Polícia Federal.
O delegado Moscardi na premiação aos delegados da Lava Jaro pela Associação de Delegados
da Polícia Federal.
A esta contabilidade acrescente-se o pioneirismo de se levar à cadeia por envolvimento em suposta
corrupção, desvio e lavagem de dinheiro dos donos das construtoras, a um senador no exercício do
mandato. Isto é, teoricamente a prisão atingiu a todos os extratos da sociedade
Há, porém, uma área em que o trabalho da Força Tarefa da Lava Jato, composta pela Polícia Federal
Há, porém, uma área em que o trabalho da Força Tarefa da Lava Jato, composta pela Polícia Federal
(DPF) e pelo Ministério Público Federal (MPF), resiste e não caminha: as investigações de
irregularidades e até mesmo crimes supostamente cometidos na superintendência no Paraná
(SR/DPF/PR) seja com a possível participação direta, conivência ou apenas uma suposta “distração”
de agentes e delegados.
Pela maneira como encaram este problema, verifica-se que não é por falta de instrumentos ou
dificuldade na investigação que elas não caminham. Seria muito mais uma opção política. O medo de
que estas possíveis ações delituosas ponham o trabalho – ou parte dele – a se perder.
Sobre esses fatos, delegados, procuradores e outros agentes da Força Tarefa da Lava Jato que vivem
na mídia, simplesmente emudecem. Quando cobrados, silenciam ou tangenciam. A grande imprensa,
por sua vez, se omite.
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