Técnicos alertaram em laudo sobre risco na barragem da Samarco em 2013
POR FERNANDO BRITO
Como a Samarco não é uma empresa pública e metade dela pertence a uma multinacional, a BHP Billiton, australiana (a outra metade é da Vale), quase não aparece o nome da empresa nas manchetes sobre a tragédia de ontem, em Mariana. Sabe o leitor como seria se o acidente fosse com a Petrobras, não é?
Mais impressionante ainda é que não se tenha dito – ao menos que eu lesse – que a possibilidade de ruptura da barragem de rejeitos era prevista desde 2013, como fica claro no parecer técnico sobre a ampliação de seu nível para acima da cota 920, assinado por Tereza Cristina Souza Sposito, Hebert Lopes Oliveira, Felipe Fonseca do Carmo e Luciana Hiromi Yoshino Kamino, do Instituto Prístino, formado por professores, na maioria, da Universidade Federal de Minas Gerais.
No documento “Análise Técnica Referente à Revalidação da Licença Operacional da Barragem de Rejeitos do Fundão – Samarco Mineração S/A – , eles dizem isso, explicitamente. ao condenar a existência de pontos de contato direto entre a “pilha de estéril” (rejeitos da mineração) e a barragem, cuja altura se pretendia ampliar (ou ampliou-se) para a cota 930 m.
A Figura 2 (ao lado) ilustra, de maneira esquemática, como poderia ser a evolução de um processo de saturação na pilha adjacente à barragem de rejeitos do Fundão. No estágio I (Figura 2) na zona de contato entre a pilha de estéril e a barragem de rejeito, ocorreria a obstrução da drenagem da pilha e tentativa de equilíbrio do nível de água entre ambas as estruturas.
Com a evolução da saturação devido ao fluxo natural das águas superficiais resultantes da precipitação atmosférica (chuva), conforme apresentado na Figura 3 (estágio II), a zona acima do nível de equilíbrio hidrostático ficaria saturada.
Tal situação ocasionaria a ressurgência de água nas faces dos taludes da pilha de estéril. A Figura 4, mostra de maneira simplificada a evolução em cinco subestágios da saturação e ressurgência de água. Além disso, ilustra a possibilidade de desestabilização da face do talude, resultando num colapso da estrutura.Dependendo do raio da ruptura neste processo, podem ocorrer vários colapsos em diferentes níveis taludes e criar um fluxo de material com grande massa de estéril se deslocando para jusante em direção ao corpo da barragem do Fundão e adjacências.”
Traduzindo: com chuva, havia a possibilidade de parte da pilha de rejeitos desabar sobre a represa e gerar um grande impacto sobre a barragem, com o óbvio risco de ruptura.
Os especialistas, então recomendam uma análise pormenorizada “sobre os possíveis impactos do contato” entre a pilha de rejeitos e o corpo da Barragem do Fundão, bem como da segurança da interação entre ambos.
Óbvio que, sem a capacidade de apurar no local e sem os laudos da investigação não se pode afirmar que é esta a causa da tragédia. Mas tem grandes possibilidades de ter sido, pelo que está no alerta técnico e em suas recomendações.
Cabe à empresa esclarecê-lo, indo além das declarações de solidariedade às vítimas.
A palavra está com a Samarco, que se orgulha de ser tricampeão do prêmio “Maiores de Melhores” da Editora Abril e de gestão ambiental, pela Benchmarking Brasil, este ano, justamente por sua “Gestão Adequada de Resíduos”.
Como diz o Alcelmo Gois: “ah, bom…”
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