quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A Presidenta preferiu a tela azul do Zé Ruela Cardozo ao seu próprio coração valente…


Isso é coisa do Zé Ruela Cardozo

POR FERNANDO BRITO

A ilustração aí de cima é para que a Excelentissima Senhora Presidenta da República, Dilma 
Rousseff, veja como será a transmissão de um seu hipotético direito de resposta seu a uma matéria 
ofensiva a ela que, amanhã, venha a ser veiculada pela Rede Globo, mostrando montagens de 
imagens que a reúnam aos piores dos sem-vergonhas desta República, exibida em rede nacional.
É assim, com esta tela azul e letras brancas, que ela vai protestar, na voz de um locutor frio, gelado, 
às mais candentes e dramáticas ofensas à sua honra pessoal. Talvez, quem sabe, na toada que as 
coisas vão, até em relação à sua vida pessoal e à de sua família.
Porque é assim que será, porque ela deu às emissoras de rádio e televisão de transmitirem deste jeito 
o direito de resposta concedido pela Justiça, com texto previamente examinada por um Juiz – o que 
já garantiria, óbvio, uma fala equilibrada, sem baixarias ou devolução de ofensas. Foi o que fez, a 
confirmar-se o que a Folha noticia, quando tomou a decisão de vetar o artigoque o Senado 
restabeleceu – depois de derrubado pela Câmara de Eduardo Cunha – o artigo que garantia ao 
ofendido, querendo, o direito de apresentar, pessoalmente ou por quem achasse conveniente, a 
contestação a ofensas recebidas nos meios de comunicação.
Certamente teve a aconselhá-la este Varão de Plutarco que é o Ministro da Justiça, sempre a postos e 
disposto a combater pela República nas páginas amarelas da Veja ou em entrevistas à Folha.
Ele, só ou com outro assessor sabujo ao lobby emissoras de TV fez o serviço, criando a alegação de 
que ao não “definir critérios para a participação pessoal do ofendido, o dispositivo poderia desvirtuar 
o exercício do direito de resposta ou retificação”.
Que critérios, “seu Zé”, se o material será gravado e submetido antes ao juiz, o que resta 
regulamentar que possa ser razoável? Nem a roupa que o fulano deverá usar, pois que quiser 
aparecer pelado o juiz poderá mandar refazer por uso de forma inconveniente para o exercício do 
direito!
O que o veto traz, isto sim é que fica evidentemente estabelecido o desequilíbrio.
William Bonner, com suas caras e bocas faz a ofensa: vil, baixa, odiosa. Cobrindo suas palavras, 
imagens desfavoráveis, cenas editadas, quem sabe até uma trilha sonora dramática, amplificando as 
palavras ferinas.
A Presidenta, ofendida, reage com um processo judicial, dias depois, porque é preciso conseguir 
advogado, burilar o texto para que o Juiz nele não veja ofensa devolvida, cuidar da linguagem, do 
tempo, por que este há de ser, no máximo, igual ao da ofensa, recolher as custas, esperar a defesa e 
conformar-se ao tempo do Fórum, sempre tão assoberbado.
Dois meses depois – e isso é rapidez das bem rápidas – enfim, vem a reparação.
Então, vem esta tela azul, aí em cima, debaixo da qual uma voz minguada, sem expressão, lê 
burocraticamente um texto já de si burocrático, enquanto o cidadão fala – ih, propaganda de 
candidato, de novo – e se levanta para pegar a cerveja na geladeira, enquanto a “sua senhora” trata de 
tirar a louça do escorredor e guardá-la…
Nenhum olhar, nenhuma expressão facial, nenhum embargo na voz que denote quanto o que se fez 
foi indigno, foi sujo, foi sórdido.
O dia seguinte, os jornais, para a meia-dúzia que ainda os lê, repercutirão as respostas e, na internet, 
enquanto os adversários reproduzem as ricas imagens da agressão, seus defensores mambembes se 
esmerarão, com programas gratuitos de edição de vídeo em colocar, pelo menos, um rosto sobre a 
maldita tela azul, para que aquele texto ganhe alguma aparência humana,
A Presidenta não precisaria ter feito nada, apenas sancionar o que os senadores, a começar pelo 
valente Roberto Requião, lutaram contra o lobby das emissoras de televisão e rádio para aprovar.
Mas fez, embora não tudo, o que as famílias proprietárias da grande mídia queriam. Como não fez 
tudo, ainda reclamam, claro.
Preferiu ceder a quem nada lhe concede.
Se um dia se arrepender e, ofendida, pleitear e conseguir o direito a responder, já está pronta a cartela 
aí em cima. O resto, peça ao José Eduardo Cardozo.
Quem não acha que olhar no olho do nosso povo faz diferença, quem não crê que a emoção dê vida 
nova às palavras, quem não acha que o coração dá tom à voz, não precisa mais que isso.
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