por Luiz Carlos Azenha
Viomundo: Senador, a pergunta que meus leitores se fazem é a seguinte. Como um senador sai de um partido nomeadamente socialista para se juntar a alguém que propunha um Banco Central independente na campanha de 2014, uma política ecônomica claramente neoliberal?
Randolfe Rodrigues: A Rede é um partido em formação. Estes pontos programáticos se fossem os da Rede eu não me alinharia com eles. Eu estou apostando no que virá a ser a Rede, no perfil de militantes como eu, como Alessandro Molon, como dois deputados companheiros do PCdoB que nela se filiaram, como outros companheiros do PSOL que estão saindo, nomes como Heloisa Helena — isso tudo me dá a convicção de que nós vamos construir um perfil de um partido de esquerda, democrático, progressista, em que caibam desde comunistas, socialistas até democratas radicais.
Viomundo: O senador Paulo Paim, do PT, vai para a Rede?
Randolfe Rodrigues: Eu estou conversando muito com Paim. Ele reforçaria este perfil que nós estamos procurando construir para a Rede Sustentabilidade. Para mim a prioridade número um é trazê-lo para a Rede.
Viomundo: Nas conversas com Marina Silva ela tem dito que pretende para o partido o mesmo perfil que o sr. descreveu?
Randolfe Rodrigues: A trajetória de Marina é uma trajetória de esquerda. Seringueira, oprimida, do interior do Acre, se alfabetizou com 16 anos de idade, companheira de Chico Mendes, militou no Partido Revolucionário Comunista no âmbito do PT, uma das melhores ministras do Meio Ambiente que já se teve… Se isso não for esquerda, nada mais é. Ela tem demonstrado que pretende construir a Rede com este perfil. Gostaria de lembrar que no final dos anos 70 um partido começou a ser forjado. O perfil deste partido: ele seria um amplo partido de esquerda. Reuniria democratas, gente dos movimentos eclesiais de base e organizações de esquerda que resistiram à ditadura. Naquela época os partidos comunistas e o PMDB acusavam o PT de ser um instrumento a serviço da ditadura, mas ele se notabilizou como um dos maiores partidos de esquerda do Ocidente. Um partido de esquerda no Brasil tem de ser tal qual foi no passado o PT, amplo, em que caibam de democratas radicais a comunistas.
Viomundo: A Rede quer se apresentar como o PT do século 21?
Randolfe Rodrigues: Eu estou desejando isso. Um ambiente político em que conviverão parlamentares de esquerda, ativistas e ambientalistas. Esta é a novidade do século 21. Além disso, a forma de organização do partido, em rede horizontal, sem presidente, mas com porta-vozes, um de cada gênero, respeitando os direitos das ditas minorias que são maiorias na sociedade. Isso é o que eu imagino seja a esquerda do século 21. As posições do partido tem demonstrado isso: contra a lei que acaba com o sigilo na internet, contra a definição de família reacionária que foi aprovada na Câmara, contra a redução da maioridade penal… de qual campo político são estas bandeiras?
Viomundo: Como é que Eduardo Cunha continua dirigindo a Câmara diante das acusações que sofre?
Randolfe Rodrigues: Em qualquer partido democrático do mundo ele não seria mais presidente da Câmara, mas estaria na cadeia. Ele tem se notabilizado como chantagista-mor da República. Ele impediu ontem uma sessão do Congresso chantageando o Senado. Esse senhor Eduardo Cunha é a pior coisa que tem nessa República. Ele deveria estar na cela de uma cadeia, não presidindo um Parlamento.
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