quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Chico Buarque e o tempo da delicadeza



POR FERNANDO BRITO

Pode parecer estranho aos jovens, mas o Brasil já viveu um tempo de delicadeza, mesmo em meio a
uma realidade opressiva e sangrenta como aquela da ditadura em que vivi minha infância e 
adolescência.
Porque a crueldade e a burrice eram as oficiais, mas as pessoas – a imensa maioria – eram gentis, 
algo que parece estar demodê.
Vendo pedacinhos do documentário “Chico Buarque – Um artista brasileiro”, de Miguel Faria Jr. (o 
que reproduzo abaixo e o doFantástico, também muito bom), que estréia amanhã, no Festival de 
Cinema do Rio, senti vontade de agradecer a Chico ter sido um dos que proporcionou a minha (e a 
várias) gerações este privilégio.
Não perco tempo em falar sobre sua obra, a poesia, o ritmo, a coerência, a combatividade que lhe 
valeu um exílio, a brasilidade e tudo o que todos aprendemos a ver nele.
Fixo-me no que mais precisamos agora, do que nos faz tanta falta, o tempo de delicadeza que sempre 
está presente nele e tão ausente de nós, hoje, na vida brasileira.
E me sirvo de quem escreve muito melhor isso, ele próprio: “Pretendo descobrir/No último 
momento/Um tempo que refaz o que desfez/Que recolhe todo sentimento/E bota no corpo uma outra 
vez”.

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