terça-feira, 16 de junho de 2015

Como Brizola previu o aparelhamento do estado pelos evangélicos e a ascensão dos caras de Cu...nha


Ele

por : Kiko Nogueira

Bem que Brizola avisou.
Em dezembro de 1998, ele e Anthony Garotinho, então governador do Rio, tiveram uma briga em 
torno da escolha do secretariado.
Dizia uma matéria da Folha: “Brizola não aceita a indicação do ex-presidente da seção fluminense da 
Ordem dos Advogados do Brasil Sérgio Zveiter para secretário de Justiça, nem a de Eduardo Cunha, 
presidente da Telerj no governo Collor (90-92), para a Habitação.”
A questão envolvendo Cunha era, para começar, o desconforto pelo fato de ele ter sido presidente da 
Telerj por obra de Fernando Collor.
Cunha era uma indicação de um deputado federal evangélico chamado Francisco Silva, que apoiou 
Garotinho na campanha. Dono da rádio Melodia, do Rio, Silva fez fortuna produzindo o inesquecível 
Atalaia Jurubeba, beberagem para o fígado.
Foi ele quem levou Cunha para os cultos da igreja Sara Nossa Terra há 20 anos, introduzindo-o no 
pentecostalismo (hoje o presidente da Câmara é membro da Assembleia de Deus em Madureira, 
maior e mais influente). EC ainda faz inserções diárias na Melodia, encerradas com o bordão “afinal 
de contas, o povo merece respeito” (rs).
De volta: em 2000, o aparelhamento evangélico no Rio de Janeiro chamou a atenção de Brizola. “O 
governo tem de ser mais discreto, está vivendo um protestantismo exagerado”, declarou.
Brizola estava incomodado com a Cehab, comandada por Cunha, dona de um dos maiores 
orçamentos do governo fluminense. Organizou um abaixo assinado pedindo o afastamento de 
Eduardo Cunha “devido à má-gestão e também aos seus antecedentes”, de acordo com outra 
reportagem da Folha de S.Paulo.
Seu descontentamento incluía o subsecretário do Gabinete Civil, uma figura chamada Everaldo Dias 
Ferreira — que viria a se transformar no Pastor Everaldo, aquele que formou com Aécio Neves uma 
das duplas mais desprezíveis das corridas eleitorais em todos os tempos. Everaldo era ligado à vice-
governadora Benedita da Silva, do PT, também evangélica.
“Qual a legitimidade de tantos pastores no governo? Quem são esses pastores da Benedita?”, dizia 
Brizola. “Vivem posição ambígua, se queixam de tudo, começam a fazer denúncias, mas não deixam 
os cargos que ocupam. Ora, se o caminhão tá ruim, é só pedir para desembarcar.”
Cunha deixou o cargo naquele ano, após denúncias de irregularidades em licitações. Os processos 
abertos no Tribunal de Contas do Estado foram arquivados em 2004 e reabertos em 2012.
Brizola enxergou a ocupação evangélica e os monstros que se criavam. O capeta quis que Cunha se 
tornasse, 15 anos depois, o messias do fundamentalismo religioso no Brasil. Morto em 2004, Leonel 
Brizola escapou de testemunhar o país ser subjugado por um exército de fanáticos de ocasião.
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