Por Renato Rovai
Há muitos elementos que indicam que um novo partido político de esquerda pode estar em gestação.
O cavalo de pau dado por Dilma após a eleição em que venceu montada num discurso de centro-
esquerda e a incapacidade do PT para reagir à sua demonização, estão levando intelectuais, líderes
sociais, políticos de esquerda e personagens dos novos movimentos a realizar eventos e iniciar
conversas que ainda não têm como objetivo a formação de um partido, mas que tudo indica pode
desembocar nisso.
No meio da crise do mensalão houve um movimento relativamente semelhante que levou à criação
No meio da crise do mensalão houve um movimento relativamente semelhante que levou à criação
do PsoL, mas naquela ocasião o que unificava os descontentes era um sentimento muito balizado por
petistas que queriam saltar do barco e criar um novo espaço de representação.
E que de alguma forma tinham a ilusão de que a então senadora Heloísa Helena, que fazia um
discurso quase de ódio ao seu ex-partido, poderia se tornar uma liderança de caráter nacional.
O PsoL foi criado para fazer contraponto ao PT, não para combater a direita e construir um campo
conectado aos movimentos sociais. Com o tempo, o partido foi achando um melhor caminho e novos
representantes e hoje é muito melhor do que no seu início.
Mas fora do Rio de Janeiro o PsoL não tem base popular significativa e por isso nas disputas
eleitorais ainda patina em votações nanicas.
Hoje não são apenas lideranças políticas que estão achando que o PT pode ter perdido sua
capacidade de liderar a centro-esquerda no Brasil. Há um sentimento ainda difuso que tem
movimentado muita gente de setores populares a achar que talvez seja hora de criar uma nova
alternativa política.
Hoje, movimentos do campo, da habitação, do sindicalismo, da cultura, da democratização da mídia
e de tantos outros setores começam a pensar se de fato as bandeiras que levaram Lula ao poder não
precisam de novos ares.
O PT, claro, ainda é muito forte. E teria como re-incorporar esse sentimento. Mas precisaria dar
sinais a partir do governo Dilma. A fase do discurso de esquerda com governo de direita em algumas
áreas não cola mais.
As nomeações de Kassab e Kátia Abreu tiveram um simbolismo muito mais traumático do que o
As nomeações de Kassab e Kátia Abreu tiveram um simbolismo muito mais traumático do que o
cálculo político dos pragmáticos poderia prever.
Além disso, Dilma parece refém do PMDB e da política econômica de Joaquim Levy. E o PT está
Além disso, Dilma parece refém do PMDB e da política econômica de Joaquim Levy. E o PT está
amarrado aos mandatos dos seus parlamentares e governantes. Muitos deles com interesse em tudo,
menos em mudanças que possam tirar algum naco do seu poder interno.
Junta-se a isso o sucesso do Podemos, na Espanha, e do Syriza, na Grécia. Esses partidos foram
criados em meio a crises de representação, apostando num discurso popular e de esquerda. E estão
mais conectados às novas formas de organização que resultam de processos menos verticais e mais
de ação em rede.
Construir um novo projeto de esquerda no Brasil está longe de ser um desafio fácil. E por este
motivo muita gente ainda que começa a conversar sobre saídas para a esquerda ainda não arrisca
abrir mão de uma liderança, por exemplo, tão importante e simbólica quanto Lula.
É a figura de Lula que segura essa ainda marola que pode virar uma onda.
Mas as declarações do senador Paulo Paim (RS) ontem para o Estado de S. Paulo e o movimento de
muitos grupos que têm realizado encontros com centenas de pessoas sinalizam que um Lula sem
poder e uma Dilma ignorando os setores que a elegeram podem animar os mais reticentes.
Ainda é cedo para prever cenários, mas que há algo novo em curso já é algo que não pode ser
ignorado.
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