quinta-feira, 26 de março de 2015

UM NOVO PARTIDO DE ESQUERDA.....



Por Renato Rovai

Há muitos elementos que indicam que um novo partido político de esquerda pode estar em gestação. 
O cavalo de pau dado por Dilma após a eleição em que venceu montada num discurso de centro-
esquerda e a incapacidade do PT para reagir à sua demonização, estão levando intelectuais, líderes 
sociais, políticos de esquerda e personagens dos novos movimentos a realizar eventos e iniciar 
conversas que ainda não têm como objetivo a formação de um partido, mas que tudo indica pode 
desembocar nisso.
No meio da crise do mensalão houve um movimento relativamente semelhante que levou à criação 
do PsoL, mas naquela ocasião o que unificava os descontentes era um sentimento muito balizado por 
petistas que queriam saltar do barco e criar um novo espaço de representação.
E que de alguma forma tinham a ilusão de que a então senadora Heloísa Helena, que fazia um 
discurso quase de ódio ao seu ex-partido, poderia se tornar uma liderança de caráter nacional.
O PsoL foi criado para fazer contraponto ao PT, não para combater a direita e construir um campo 
conectado aos movimentos sociais. Com o tempo, o partido foi achando um melhor caminho e novos 
representantes e hoje é muito melhor do que no seu início.
Mas fora do Rio de Janeiro o PsoL não tem base popular significativa e por isso nas disputas 
eleitorais ainda patina em votações nanicas.
Hoje não são apenas lideranças políticas que estão achando que o PT pode ter perdido sua 
capacidade de liderar a centro-esquerda no Brasil. Há um sentimento ainda difuso que tem 
movimentado muita gente de setores populares a achar que talvez seja hora de criar uma nova 
alternativa política.
Hoje, movimentos do campo, da habitação, do sindicalismo, da cultura, da democratização da mídia 
e de tantos outros setores começam a pensar se de fato as bandeiras que levaram Lula ao poder não 
precisam de novos ares.
O PT, claro, ainda é muito forte. E teria como re-incorporar esse sentimento. Mas precisaria dar 
sinais a partir do governo Dilma. A fase do discurso de esquerda com governo de direita em algumas 
áreas não cola mais.
As nomeações de Kassab e Kátia Abreu tiveram um simbolismo muito mais traumático do que o 
cálculo político dos pragmáticos poderia prever.
Além disso, Dilma parece refém do PMDB e da política econômica de Joaquim Levy. E o PT está 
amarrado aos mandatos dos seus parlamentares e governantes. Muitos deles com interesse em tudo, 
menos em mudanças que possam tirar algum naco do seu poder interno.
Junta-se a isso o sucesso do Podemos, na Espanha, e do Syriza, na Grécia. Esses partidos foram 
criados em meio a crises de representação, apostando num discurso popular e de esquerda. E estão 
mais conectados às novas formas de organização que resultam de processos menos verticais e mais 
de ação em rede.
Construir um novo projeto de esquerda no Brasil está longe de ser um desafio fácil. E por este 
motivo muita gente ainda que começa a conversar sobre saídas para a esquerda ainda não arrisca 
abrir mão de uma liderança, por exemplo, tão importante e simbólica quanto Lula.
É a figura de Lula que segura essa ainda marola que pode virar uma onda.
Mas as declarações do senador Paulo Paim (RS) ontem para o Estado de S. Paulo e o movimento de 
muitos grupos que têm realizado encontros com centenas de pessoas sinalizam que um Lula sem 
poder e uma Dilma ignorando os setores que a elegeram podem animar os mais reticentes.
Ainda é cedo para prever cenários, mas que há algo novo em curso já é algo que não pode ser 
ignorado.
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