Publicado no Observatório da Imprensa
Apenas Fernando Rodrigues sabe quem são os brasileiros que abriram contas bancárias na filial suíça do HSBC. Mas ele não divulga esses nomes. Até agora, só identificou dados restritos a 2006 e 2007, envolvendo trinta pessoas citadas na já seletiva Operação Lava Jato. O resto, mais de oito mil e quinhentas contas, fica em segredo. E, pelo jeito, assim continuará.
O jornalista assumiu a tarefa de estabelecer o “interesse público” das informações que obteve. Isso equivale a adivinhar o que o distinto leitorado quer saber acerca do caso. Em outras palavras, o sacrossanto direito da sociedade à informação depende da ética profissional e do espírito investigativo de Rodrigues.
Os indícios de enriquecimento de familiares e amigos de José Serra na época das privatizações de FHC foram considerados irrelevantes pela mídia corporativa. Rodrigues, que fez carreira no meio, jamais usou a verve detetivesca para esclarecer aquelas estranhas coincidências. E segue achando que o período não tem “interesse público”, tanto que ignora que o número de contas abertas por brasileiros no HSBC da Suíça cresceu de maneira substancial entre 1997 e 2002.
Ora, basta juntar os documentos apresentados no livro “A Privataria Tucana” com o histórico das contas suíças. Os nomes se repetem? Possuem elos com os personagens da máfia dos cartéis metroviários, criada na mesma época? E com as famílias donas das redes Globo e Bandeirantes e do Grupo Folha, que apareceram na lista? Afinal, por que diabos Rodrigues não elucida um mistério tão simples e verificável?
A alegação de resguardar inocentes é capciosa. A citação num inquérito em andamento não previne injustiças, pois, mesmo condenados, os réus da Lava Jato podem ter contas legítimas no exterior. Ademais, se os depoimentos dos delatores da Petrobrás têm “interesse público”, ainda que não comprovados, o mínimo que a cartilha jornalística exige diante da abertura de contas estrangeiras nos contextos das privatizações ou dos cartéis é lhes conferir tratamento similar.
Rodrigues diz que a Receita Federal não responde às suas ralas consultas. Mas a imprensa precisa de governos para nortear apurações? Então por que não esperar a fase de provas para espalhar apenas as delações verdadeiras da Lava Jato? Aliás, quando as suspeitas envolvendo petistas ou agregados mereceram cautelas desse nível?
O falso zelo de Rodrigues funciona como garantia de que o Suissleaks não sairá do controle da direita brasileira. É um subterfúgio partidarizado e hipócrita para manter a lama do escândalo distante da mídia empresarial e do grande tucanato. O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos dá guarida institucional a esse logro.
Diante dos riscos que Rodrigues assume contra sua própria reputação, podemos imaginar o teor das informações que ele oculta.
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