quinta-feira, 5 de março de 2015

Haddad uma missão civilizatória e as nuvens dúbias da política



Luis Nassif

Dizia o sábio Magalhães Pinto que a política é como as nuvens do céu. Você olha, estão em uma 
posição. No momento seguinte, em outra.
A posição atual das nuvens, para 2018 mostra uma possível polarização entre o PSDB e o PMDB. 
Baleado pela Lava Jato, depois de gravemente ferido pelo mensalão, o PT terá que lutar muito 
chegar na largada.
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Os movimentos atuais das nuvens:
O PSDB virá com o governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Antes, terá que passar pelo desafio 
das águas. Em caso de rodízio em São Paulo, nem caminhando sobre as águas, como São Pedro, 
conseguirá manter-se à tona.
O PMDB apostará suas fichas no prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Nos últimos tempos, a 
banda carioca tomou conta do PMDB, com o trio Eduardo Cunha, Sérgio Cabral e Eduardo Paes. Há 
que se aguardar os efeitos políticos da Lava Jato para avaliar o seu fôlego para 2018.
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A situação do PT é mais complexa. O partido anda sem rumo e apostando demais suas fichas em 
Lula. O Lula atual está a léguas de distância do Lula do mensalão e da crise de 2008, sem reflexos e 
incapaz de um discurso mobilizador, assim como a presidente Dilma Rousseff.
Resta ao partido a aposta no prefeito de São Paulo Fernando Haddad – mas que, antes, terá que 
passar pelo desafio das eleições municipais de 2016 que virá com ventos de renovação.
A situação política e econômica conspirará contra todos os prefeitos e governadores.
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E aí entram virtudes e vulnerabilidades de Haddad, que o fazem um sucesso de crítica e um fracasso 
de público.
As virtudes estão nas ideias. Hoje em dia Haddad é o político (e intelectual) que melhor sintetiza a 
social democracia. Tem ideias claras sobre inclusão, costumes, temas contemporâneos e não foge da 
briga no terreno das ideias.
Não tem antagonismos com o setor privado. No Ministério da Educação desenvolveu políticas 
sistêmicas, valendo-se de conceitos claros de educação, bom uso de ferramentas tecnológicos, busca 
de sinergias com outras áreas, como inovação e compra de equipamentos.
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As vulnerabilidades estão no punch político.
Haddad aposta que a política depende exclusivamente de ideias claras, planejamento objetivo, e 
resultados entregues. E, depois, do tempo de TV para explicar-se. É pouco.
Hoje em dia, é praticamente desconhecido na periferia, apesar das inúmeras obras construídas. Há 
regiões relevantes que jamais receberam uma visita sua. Evita grandes inaugurações, não gosta de 
perder tempo com lideranças comunitárias e sequer com vereadores
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Além disso, ele e o governador Geraldo Alckmin mantém uma relação de genuína simpatia de um 
para com o outro. E essa troca, boa para os sentimentos, tem sido ruim para a estratégia política de 
Haddad, impedindo-o de assumir um protagonismo maior, nos vácuos deixados por Alckmin.
Este ano Haddad avançou na estratégia política com a indicação de Gabriel Chalita para a Secretaria 
de Educação, do símbolo Eduardo Suplicy para Direitos Humanos, e de Alexandre Padilha para as 
Relações Institucionais.
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As melhores cabeças paulistas já perceberam em Haddad uma missão civilizatória que não se vê 
mais nem em seu partido nem na presidência da República.
Seria importante que ele se desse conta e começasse a avançar além das ciclovias.
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