sexta-feira, 6 de março de 2015

A terceira chance de Dilma



Luis Nassif

Há espaço para uma recuperação do segundo governo Dilma 2, devido às seguintes razões.
A primeira é que presidente Dilma Rousseff está começando a ficar barata.
O princípio básico do mercado é que ninguém é bom ou ruim: é caro ou barato. Se o mercado 
percebe que algum ativo está precificado acima do seu valor, dá início a um ajuste de preços, 
derrubando as cotações. Esse ajuste acaba potencializado pelo fenômeno conhecido como 
“overshooting”. Cai tanto até que começa a ficar barato. Se não virar pó, pode se recuperar, quando o 
mercado se dá conta que também não é assim tão ruim
“Virar pó” significa o impeachment.
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O desastre político de Dilma consistiu em outro fenômeno eleitoral: a segunda chance. Em geral, 
depois de grandes erros, alguns políticos acabam tendo direito à segunda chance. Só que, nesse caso, 
encontrará eleitores muito mais severos, pouco propensos a perdoar a repetição de erros.
Com a teimosia e os erros de avaliação na disputa da presidência da Câmara, na divulgação do 
pacote de ajuste fiscal e na demora em resolver a questão Petrobras, Dilma queimou a segunda 
chance e tornou-se a Geni do país. Todos os problemas estão sendo debitados na sua conta. E isso a 
torna barata.
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A segunda razão são sinais de mudança de estilo da presidente – premida pelas circunstâncias.
Nos últimos dias ela desceu do salto e aproximou-se do PMDB, reuniu-se com lideranças, prometeu 
participação nas decisões, tentando recompor sua base política.
Esse sopro de realismo é um sinal, ainda que pequeno, de alento.
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A terceira razão é a descompressão das demandas imediatas.
Nas próximas semanas, os seguintes problemas deverão estar equacionados:
Petrobras. O novo presidente Aldemir Bendini assumiu com um plano claro de ajuste: implementar 
formas de governança modernas, desmobilizar ativos que não estejam na operação central da 
empresa e equacionar as novas necessidades de investimento. É questão de tempo para a empresa 
recuperar-se e deixar de ser notícia.
Recomposição da base de apoio.. As denúncias da Lava Jato baratearam novamente, especialmente 
por enfraquecer os dois principais caciques do PMDB.
Recomposição do grupo estratégico, com a inclusão do vice-presidente Michel Temer. Com sua 
senhoridade, Temer poderá dar rumo às discussões e domar os conflitos internos, controlando 
melhor os ímpetos do Ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante.
Ajuste fiscal. O saco de maldades está prestes a se completar. Por falta de alternativas acabará 
recebendo apoio do PT e do próprio PMDB. Depois, haverá espaço para começar a espalhar 
bondades. Dilma tem dois bons oficiais para o segundo tempo do jogo: o Ministro do Planejamento 
Nelson Barbosa e o Secretário de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger.
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A quarta razão é que o impeachment não está mais sendo visto como saída.
Quando o presidente do Senado, Renan Calheiros, devolveu a Medida Provisória do ajuste fiscal, 
como represália, e foi saudado pelo senador Aécio Neves como “presidente de todos os brasileiros”. 
Comprovou que a única bandeira da oposição é ver o circo pegar fogo. Era assim com o PT 
oposição; é assim o PSDB.
Por falta de alternativas, é possível que Dilma seja premiada com a terceira chance.
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