sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Lobão, Marina Silva, Gilmar Mendes… Os 10 piores casos de complexo de messias em 2014



por : Kiko Nogueira

O fim do ano é o momento em que nos lembramos do messias JC, mas é impossível deixar de lado os
malas sem alça que possuem o complexo de messias. O ano de 2014 foi pródigo em megalomaníacos 
com fórmulas infalíveis para a salvação do Brasil e, em última análise, do universo.
Alguns tentaram nos livrar de uma ditadura comunista, outros ameaçaram seus discípulos se não 
seguissem seu voto — em comum, todos incapazes de admitir qualquer erro e eternamente tentando 
encaixar os fatos em sua visão de mundo. O tipo de gente que estraga qualquer festa de réveillon.

Lobão (o Bobão)



O velho cantor já vinha há alguns anos num ritmo pesado e intenso de paranoia, trocando Herbert 
Viana pelo PT em sua doideira. Na sequencia da eleição de Dilma, adotou uma longa barba de profeta, 
copiada do bispo Edir Macedo, e resolveu incorporar o papel de líder revolucionário. Ficou chateado 
quando tomou um cano de Aécio numa manifestação com 15 pessoas, rompeu com outros colegas de 
extrema direita, foi até o Congresso com aloprados. Junto com seu guru Olavo de Carvalho e o brucutu 
Marcello Reis, do grupo Revoltados Online, alertou os brasileiros sobre o socialismo. Sua grande 
vitória política foi tomar um café com Marco Feliciano.

Gilmar Mendes (o Mentes)



O ministro do STF é o Palpiteiro Oficial da República. Denunciou o perigo do Supremo se converter 
“numa corte bolivariana”, disse que Lula não passaria no teste do bafômetro, suspeitou de lavagem de 
dinheiro nas doações para pagar as multas de petistas condenados no mensalão, culpou Dilma pelas 
suspeitas de fraude nas eleições etc etc. Com exceção, talvez, do futebol, não houve assunto em que 
Gilmar não tenha emprestado um átimo de sua sabedoria. “Os fatos são chocantes. Há uma cleptocracia instalada”, diz ele. Dependendo do ângulo, Gilmar dá saudade de Joaquim Barbosa.

Joaquim Barbosa (Baboseira)



JB saiu da história para cair na vida, mas não deixa o posto de Batman nem sob decreto. 
Ninguém mais se importa com o menino pobre que mudou o Brasil, mas no Twitter ele continua 
trovejando. Entre uma saída e outra para ir ao teatro com a atriz Antônia Fontenelle — ninguém é de 
ferro — , JB dita os rumos da nação, eventualmente em inglês e francês. “The ousting of a 
congressman by his peers for his involvement in this disgusting scheme. A new check for the Brazilian 
political system?”, mandou. “Min Público é órgão de contenção do poder político. Existe para 
controlar-lhe os desvios, investigá-lo, não p assessorá-lo. Du jamais vu!”. “Du jamais vu” é sua 
releitura pedante do bordão lulista “nunca antes” etc. Dependendo do ângulo, Barbosa dá saudade de 
Gilmar Mendes.

Silas Malafaia (o Mala)



O pastor mais sem noção da América Latina gritou suas excentricidades ao longo do ano, guiando seu 
povo contra o PT. Mostrou-se um pé frio. Primeiro apoiou Marina Silva, evangélica como ele. Quando 
Marina beijou a lona, inclusive por causa de seu apoio, pulou para o barco de Aécio. Quando se trata 
de Malafaia, tudo assume ares de histeria e convocação divina. Conclamou seus fieis para “tuitaços” 
que micaram, ameaçou com o fogo do inferno os que votassem em Dilma, mentiu, ofendeu — e 
perdeu. Malafaia deu voz à estupidez da extrema direita religiosa.

Marina Silva (a Bla..Bla..Bla...)



Ela surgiu do útero da floresta com a promessa da nova política, batendo na polarização PT-PSDB, se 
vendendo como uma opção nem de esquerda e nem de direita. Sua candidatura tomou um direto no 
queixo com quatro tuítes de Malafaia, para sucumbir de vez diante de suas próprias contradições. O 
fanatismo religioso fez com que utilizasse o velho messias (no caso, Jesus Cristo) para justificar seus 
problemas, como o da falta de clareza. Segundo ela, Jesus “tergiversava”. Devemos a Marina a 
popularização do termo “desconstrução”, usado por ela para explicar a tática de seus adversários e hoje 
aplicado até mesmo em receitas de risoto de frango.

Felipão (o mamão)



O ex-técnico da seleção jamais assumiu qualquer erro na condução da seleção brasileira. Jogadores 
choravam antes de bater o escanteio, mas o time não tinha problema de desequilíbrio emocional. 
Neymar se machuca, os atletas têm um chilique, mas e daí? Até acontecer o inolvidável 7 a 1 diante da 
Alemanha e, na partida seguinte da Copa, os 3 a 0 para a Holanda. Na coletiva, a casa já em 
escombros, Felipão deu declarações como “desde 2002 não chegávamos às semifinais”, “disputei três 
Copas do Mundo e fiquei entre os quatro em todas”, “não jogamos mal” e “tivemos momentos muito 
bons”. Felipão foi visto no Grêmio.

O juiz filho de Deus (o sem placa)



Uma agente da Lei Seca dirimiu uma dúvida ancestral: se juízes achavam, mesmo, que eram Deus. Ela 
cumpriu sua função ao tentar multar o juiz João Carlos de Souza Correa, que dirigia um Land Rover 
preto sem placa e estava sem a carteira de habilitação no momento da abordagem. (Depois se descobriu 
que Correa, titular da 1ª Vara de Búzios, é protagonista de uma coleção de imbróglios jurídicos). Mas o 
doutor Correa não precisa cumprir a lei porque, afinal, está acima de você. “Imagina eu, que faço 
Justiça, sendo injustiçado. Ela disse: ‘Ele é juiz, não é Deus’. Foi desacato”, afirmou.

Fernão Lara Mesquita e os editoriais do Estadão (o Fodido)




Ninguém lê, mas os editoriais do Estadão e os artigos de um dos herdeiros são como uma máquina do 
tempo em direção ao nada. A missão de resguardar os valores liberais se transforma numa necessidade 
doentia de orientar seus pobres leitores no sentido de se precaverem diante de qualquer coisa que 
cheire a bolivarianismo, seja lá o que isso quer dizer. Isso inclui dar conselhos para os EUA sobre 
como conduzir a reaproximação com Cuba. Fernão Lara Mesquita –fotografado num protesto com um 
cartaz com os dizeres “Foda-se a Venezuela” — mantém a tradição batendo no inimigo morto da 
família: Getúlio Vargas. No dia 25 último, escreveu que Getúlio “veio para combater a corrupção, 
impôs o fascismo como instrumento do desenvolvimento e encarregou o Estado, com o Trabalho e o 
Capital a reboque, de promovê-lo”.

Edir Macedo (Rei Salomão)



O dono da Universal inaugurou o Templo de Salomão no Brás, em São Paulo, uma atualização brega 
do santuário arrasado pelos romanos na Antiguidade. Com uma barba de profeta, copiada de Lobão, e 
um novo cerimonial inspirado em ritos do judaísmo, com direito a quipá e solidéu, Edir levou Dilma, 
Alckmin e outros políticos à abertura de sua obra máxima, numa prova de seu poder e prestígio 
terrenos. Edir vive garantindo a volta de Jesus, mas Jesus provavelmente olha para ele e pensa que é 
melhor ficar de boa onde está.

Arnaldo Jabor (Jaborto)



Jabor começou a pirar no ano passado, ao mudar de opinião sobre as manifestações em 48 horas. 
Perdeu o posto de comentarista no Jornal da Globo, mas continua dando conselhos e advertências 
importantes no rádio e em jornais. O tom apocalíptico cresceu e hoje tem-se a nítida impressão de que 
o cineasta está trancado numa quitinete no Leblon, com as persianas permanentemente fechadas e um 
chimpanzé de estimação chamado Igor para servi-lo. Suas memórias andam cada vez mais estranhas. 
“Um dia, um companheiro (que morreu há pouco) me disse: ‘Não tema a morte. Marx disse que somos 
seres sociais. O indivíduo é uma ilusão. Para o comunista a morte não existe’. E eu sonhei com a vida 
eterna”. A reeleição de Dilma aconteceu apesar de seus alertas. “Tudo vai explodir em 2015, o ano da 
verdade feia de ver”, disse. “Essas são algumas das doenças mentais que estão levando o Brasil para 
um pântano institucional. Temos que nos salvar desse determinismo suicida”. Deus é pai.
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