sábado, 1 de novembro de 2014

A segunda chance de Dilma



Luis Nassif

As comemorações do mercado com o aumento da taxa Selic, pelo Banco Central, é a repetição 
recorrente do autoengano nas avaliações econômicas.
Os efeitos são conhecidos:
Nova rodada de apreciação cambial, dificultando a recuperação da economia.
Necessidade de ajustes fiscais adicionais, para comportar os efeitos da alta de juros na dívida pública e 
manter a trajetória de queda da relação dívida/PIB.
Impacto na atividade econômica, na geração de emprego e nos resultados da Previdência Social.
Retração dos investimentos privados, já que a Selic mais alta desestimula wa migração da renda fixa 
para os investimentos de longo prazo.
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Se a intenção era impedir o rebaixamento do rating brasileiro pelas agências de risco, seria bom uma 
consulta ao último relatório da Agência Moody's.
"Os esforços do governo Dilma Rousseff para fortalecer o crescimento econômico, combater a inflação 
e aumentar a confiança das empresas provavelmente acarretará um reequilíbrio fiscal e monetária que 
pode ter implicações relevantes para as carteiras de empréstimos e lucros de bancos públicos e privados 
do país". A alta da Selic vai na contramão.
O ponto positivo para as empresas brasileiras: "Uma continuação da corrente descendente do real que 
se seguiu à eleição seria positivo para alguns setores exportadores, como papel e celulose, mineração e 
proteína". A alta da Selic vai na contramão.
O ponto negativo para as empresas: "A política fiscal mais apertada pode levar a taxas de impostos 
corporativos mais altos e uma redução de subsídios e incentivos corporativos, o que afetaria muitos 
setores (...) Ajustes de política fiscal e monetária para estimular a economia poderiam enfraquecer a 
qualidade de crédito dos activos subjacentes em securitizações brasileiras e prejudicar sua 
performance".
A alta da Selic é pró-cíclica.
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É importante que a presidente entenda que as medidas tomadas agora pelo BC, as declarações 
reiteradas do MInistro da Fazenda Guido Mantega, não são lidas pelo mercado como ecos de um 
passado desastroso, mas sinais do que poderá ser a futura política econômica.
Ambos - o BC de Alexandre Tombini e a Fazenda de Guido - representam um modelo que não deu 
certo.
Mas o mercado continua lendo suas medidas como extensão da vontade da presidente.
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É questão de prudência uma freada de arrumação. O aumento da Selic foi inconveniente. Nem o 
mercado esperava. Se o tal ajuste fiscal radical for mais do que um balão de ensaio, Dilma matará seu 
segundo governo antes de iniciado. Comprovará que, a exemplo do primeiro governo, será feito com 
medidas heroicas, pouco pensadas, dependendo exclusivamente da vontade da presidente.
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Faria melhor dar uma freada de arrumação, indicar pessoas capacitadas para a área econômica e, junto 
a elas e aos demais Ministérios, apresentar ao país um plano econômico factível, lógico, integrado. E, 
principalmente, com porta-vozes de peso sabendo explicar a lógica.
Em todo movimento político há a segunda chance - aquela que o governante recebe do eleitor quando 
comprovadas suas boas intenções (e Dilma tem a melhor das intenções) e quando se julga que ele 
aprendeu com os erros anteriores.
Perdoa-se o erro anterior, mas não sua reiteração.
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