sexta-feira, 10 de outubro de 2014

José Eduardo Cardoso, Dilma e a solidão de Jango




Luis Nassif

A governo Dilma entra na batalha final do segundo turno. Perdendo, joga fora um projeto de país do 
qual é fiadora. Trata-se, portanto, de uma batalha final onde está em jogo um governo e, mais que isso, 
um projeto de país.
Nas gravações clandestinas dos depoimentos de Paulo Roberto Costa há um jogo de vazamentos 
seletivos, cuja responsabilidade é do juiz Sérgio Moro. Digo isso pelo fato da gravação ter sido 
efetuada na sua presença, sem que tomasse a menor precaução em prevenir o grampo - mesmo 
havendo um número reduzido de pessoas assistindo o depoimento - e por seu desinteresse em apurar o 
episódio.
Trata-se de um vazamento articulado com os grupos de mídia, cada qual atuando como peça de uma 
estratégia maior. E a gravação clandestina foi cometida nas narinas de Moro, sutil como um estupro à 
luz do dia, em plena Avenida Paulista.
Abre-se uma guerra de informações e declarações. Do lado do governo, o porta-voz autorizado, o que 
obteria maior espaço na mídia seria o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. Ele seria o campeão 
de Dilma, a entrar em campo, de peito aberto, em defesa do seu governo.
Sem minimizar a gravidade das denúncias, ele poderia dar uma de suas aulas de direito - que reserva 
para os cursos que coordena nas Faculdades Damázio, acumulando com seu cargo de Ministro.
Lá poderia didaticamente explanar sobre os abusos dos vazamentos, anunciar medidas para apurar as 
responsabilidades, atuar junto ao Conselho Nacional de Justiça, ao Ministério Público Federal e à 
Polícia Federal para punir os infratores e interromper o estupro da lei. Tudo isso sem abrir mão do 
reconhecimento das tramoias.
Nada faz. Não corre riscos, não se expõe em nenhum momento.
Contam que, ao sair de uma apresentação do documentário "O dia que durou 21 anos" - sobre a 
ditadura - Dilma comentou com interlocutores, emocionada, como Jango estava só. Referia-se ao 
Comício da Central, com Jango cercado por assessores e aliados parte dos quais, dias depois, o 
abandonaria.
Um dos convivas olhou para José Eduardo, que também assistia o documentário, pensou em falar 
alguma coisa para a presidente. Mas achou melhor não. Com a teimosia da presidente, o alerta cairia no 
vazio.
Se reeleita, talvez Dilma já esteja suficientemente vacinada contra a mais cruel das armadilhas: os 
assessores que só dizem sim e que jamais se expõem.
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