quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Principal Nascente do Rio São Francisco secou


'Nunca vi essa situação em toda a história', afirmou Luiz Arthur Castanheira. Bacia abrange 5 
estados; biodiversidade está ameaçada, diz especialista.

Saiu no G1: Diretor de parque diz que principal nascente do Rio São Francisco secou

O diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, disse em entrevista ao 
G1 na tarde desta terça-feira (23) que a nascente do Rio São Francisco, situada em São Roque de 
Minas, secou. Segundo Castanheira, essa nascente é a principal de toda a extensão do rio, que tem 
2.700 km. O São Francisco é o maior rio totalmente brasileiro, e sua bacia hidrográfica abrange 504 
municípios de sete unidades da federação – Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, 
Goiás e Distrito Federal. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas, e desemboca no Oceano Atlântico 
na divisa entre Alagoas e Sergipe.


Principal nascente do rio está seca (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)

Segundo Castanheira, o motivo é a estiagem. "Essa nascente é a original, a primeira do rio e é daqui 
que corre para toda a extensão. Ela é um símbolo do rio. Imagina isso secar? A situação chegou a esse 
ponto não foi da noite para o dia. Foi de forma gradativa, mas desse nível nunca vi em toda a história”, 
afirmou.


O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, 
disse ao G1 que, embora a notícia ainda não tenha chegado oficialmente ao conhecimento do comitê, 
não causa surpresas em virtude de essa ser uma das estiagens mais graves desde que foi iniciado o 
acompanhamento histórico do rio. Para ele, a situação é preocupante, já reflete no nível das barragens e 
ameaça a biodiversidade do São Francisco.
“Isso não é comum, é preocupante. Não há dúvida de que algo em grande escala está mudando em 
nosso ecossistema. As principais barragens do Alto São Francisco, que são a de Três Marias e 
Sobradinho, estão sendo ameaçadas e se aproximam do limite de volume útil de água. Ou seja, a água 
dos principais afluentes está chegando ao nível zero, e a biodiversidade do rio está comprometida, além 
de a qualidade do rio estar se deteriorando", explicou Miranda.
O volume útil da Represa de Três Marias, que é a primeira barragem construída ao longo do rio, 
chegou a registrar 6% nesta semana. A de Sobradinho, 31%. “São níveis baixíssimos e que causam 
impactos catastróficos, como já vem ocorrendo no Baixo São Francisco. Com o nível baixo, o oceano 
está invadindo o rio e salinizando a água doce”, concluiu Miranda.
Ele ressaltou que, apesar de a nascente em São Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado, não ser 
determinante para o volume de água da bacia, ela serve como um "termômetro", uma vez que o nível 
dos reservatórios da região é fundamental para o São Francisco.
Soluções
O presidente do Comitê da Bacia do rio diz que não se pode contar com o período mais úmido que 
deve vir após outubro. Ele defende que, independente das mudanças climáticas, a questão é 
emergencial e, para ser amenizada, deve-se mexer no modelo da bacia enérgica do São Francisco, 
realizando um grande pacto das águas.
Anivaldo Miranda pontuou ainda que o poder público deve tratar a bacia hidrográfica com prioridade 
por ser uma das principais do Brasil e estar entre as mais vulneráveis. “O rio atravessa quase 1 milhão 
de quilômetros quadrados de região semiárida, atende a região nordeste e grande parte de Minas, onde 
há grande vulnerabilidade hídrica”, afirmou.
Diante dessa situação crítica, que na visão do especialista começou a se agravar em abril do ano 
passado, o Comitê da Bacia do São Francisco vai realizar audiências públicas com pessoas diretamente 
ligadas à bacia. O diálogo terá duração de 18 meses e será feito com o governo federal, municípios, 
usineiros, mineradores, pescadores, população nativa das comunidades ribeirinhas e comunidade civil.
O objetivo das audiências será discutir sobre o futuro da bacia e apresentar a urgência de investir na 
recuperação hídrica do São Francisco.


Principal nascente que secou fica na cidade mineira de São Roque de Minas (Foto: Anna Lúcia 
Silva/G1)

Incêndios
Para piorar a situação, a seca tem causado vários focos de incêndio no Parque Nacional da Serra da 
Canastra nos últimos meses – levando à utilização da pouca água do São Francisco para apagá-los. Em 
julho, o fogo devastou cerca de 40 mil hectares de vegetação nativa. “Combatemos as chamas usando 
água do parque, mas isso não foi o fator mais agravante. O que pesa mais é a seca, a falta de chuva. 
Corre pouquíssima água, e essa realidade é triste”, disse o diretor do parque. O incêndio mais recente 
durou quatro dias e, pouco depois, outros focos foram registrados.
A estiagem deste ano ocorre em todo o país há vários meses, exceto na região Sul. Em Minas, diversas 
regiões enfrentam o problema da seca, entre elas cidades do Triângulo Mineiro, Zona da Mata e 
Centro-Oeste do estado, que já chegaram a decretar situação de emergência pelo desabastecimento e a 
multar moradores flagrados desperdiçando água.
E as previsões são pouco animadoras. A primavera começou às 23h29 desta segunda-feira (22) e, de 
acordo com o meteorologista Marcelo Pinheiro, da empresa Climatempo, a tendência é que na estação 
a temperatura fique de 2ºC a 3ºC acima da média nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. 
No Sul, a temperatura pode ficar até 3ºC acima da média.
Além disso, a primavera deve ser caracterizada por temperaturas um pouco acima do normal e chuvas 
dentro da média na maior parte do país – porém ainda insuficientes para resolver o problema de falta 
d’água nos reservatórios. Especificamente para a região afetada pela seca no Centro-Oeste de Minas 
Gerais, a previsão é de que o período de chuvas só comece em outubro.


Incêndio no parque no dia 8 desse mês controlado com apoio de aeronaves (Foto: Edvaldo 
Fausto/Divulgação)

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