sexta-feira, 26 de setembro de 2014

BLÁ BLÁ: BC INDEPENDENTE É BOM PARA O TRABALHADOR


Sem detalhar se sua proposta de tornar o "Banco Central independente" incluiria mandato 
para controlar também metas de crescimento ou emprego, candidata do PSB, Marina Silva, 
afirma apenas que seu objetivo é "recuperar a estabilidade da nossa economia": "A proposta é 
boa também para os trabalhadores; um Banco Central que não tenha autonomia, que deixa a 
interferência política, muitas vezes por preocupações eleitorais, leva o nosso país a fazer com que 
o teto da meta de inflação vire o centro".

O Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Luciano Coutinho, 
rebateu críticas da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, sobre a política de 
empréstimos do BNDES: "Eu sugiro que a equipe da Marina estude um pouco mais as 
atividades do banco para não municiar a candidata com informações erradas"; segundo ele, o 
apoio para a internacionalização de grandes empresas brasileiras foi concedido a preços de 
mercado e não houve influência política na destinação dos recursos; o assessor da presidência do 
BNDES, Fabio Kerche, também contestou declarações de Marina: ‘ela erra ao dizer que o 
BNDES empresta para "meia dúzia". Em 2013, 97% de suas operações foram para micro, 
pequenas e médias empresas’

MARINA E O BNDES
Por Fábio Kerche - Doutor em ciência política e pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, é 
assessor da Presidência do BNDES. Foi secretário-adjunto e secretário de Imprensa da Presidência 
da República (governo Lula),

O BNDES é um dos principais instrumentos que o governo brasileiro dispõe para implementar sua
política econômica. É o governo em exercício que escolhe as áreas prioritárias e as linhas de atuação
do banco, que as executa por meio de um rigor técnico garantido por seu capacitado corpo funcional.
Para ficarmos em apenas dois exemplos: no governo Fernando Henrique Cardoso, o BNDES teve um
papel fundamental nas privatizações e no governo Lula, respondendo à forte crise iniciada em 2008,
expandiu o crédito à indústria e à infraestrutura.
É, portanto, absolutamente legítimo que o papel do BNDES seja debatido na campanha eleitoral. O
próximo presidente terá a responsabilidade de manter ou modificar as prioridades do banco nos
próximos anos, decisão que poderá afetar todo o financiamento ao setor produtivo brasileiro.
Mas esse necessário debate eleitoral seria mais proveitoso para o país se fosse lastreado por um correto
diagnóstico por parte dos candidatos. Como corrigir rumos se não conseguimos entender a atual
direção? Esse parece ser o caso da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva. Senão, vejamos.
Nesta quinta-feira (25), em entrevista ao programa “Bom Dia Brasil”, da TV Globo, a candidata disse
que “o que enfraquece os bancos é pegar o dinheiro do BNDES e dar para meia dúzia de empresários
falidos, uma parte deles, alguns deles que deram, enfim, um sumiço em bilhões de reais do nosso
dinheiro”. O número de imprecisões só dessa frase é impressionante.
Em primeiro lugar, o BNDES não “dá” dinheiro a ninguém, ele empresta. Isso significa que o banco
recebe de volta, corrigidos por juros, os seus financiamentos. Sua taxa de inadimplência é de 0,07%
sobre o total da carteira de crédito, segundo o último balanço, sendo a mais baixa de todo o sistema
bancário no Brasil, público e privado.
Isso nos leva a outra imprecisão da fala da candidata. A qual “sumiço” de recursos ela se refere se o
BNDES recebe o dinheiro de volta e obtém lucros expressivos de suas operações? O lucro do primeiro
semestre, de R$ 5,47 bilhões, foi o maior da história do banco.
Em relação aos empresários “falidos”, talvez a candidata, em um esforço de transformar em regra a
exceção, esteja se referindo ao caso Eike Batista. Se isso for verdade, temos mais uma imprecisão: seja
por causa de um eficiente sistema de garantias das operações, seja porque grupos sólidos assumiram
algumas empresas, o BNDES não sofreu perdas frente aos problemas enfrentados pelo empresariado.
Por fim, nada mais falso do que dizer que o BNDES empresta para “meia dúzia”. No ano passado, o
banco fez mais de 1 milhão de operações, sendo que 97% delas para micro, pequenas e médias
empresas.
Embora o BNDES não tenha a capilaridade dos bancos de varejo, a instituição aumentou seus
desembolsos para as pequenas empresas de cerca de 20% do total liberado na primeira década de 2000
para mais de 30% no ano passado. Se retirássemos as típicas áreas onde os pequenos não atuam (setor
público, infraestrutura e comércio exterior), os financiamentos para os menores representariam 50%
dos desembolsos do banco.
Das cem maiores empresas que atuam no Brasil, 93 mantém relação bancária com o BNDES. Entre as
500 maiores, 480 são seus clientes. Como sustentar que o BNDES escolhe “meia dúzia” se o banco
apoia quase todas as empresas brasileiras dos mais variados setores de nossa economia?
A candidata Marina lembrou recentemente que uma mentira repetida diversas vezes não a transforma
em verdade. Isso também vale para o papel que o BNDES vem desempenhando nos últimos anos.
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