sexta-feira, 4 de julho de 2014

As vidas paralelas de Dirceu e Barbosa


A Superstar do PIG e dos Coxinhas

por : Paulo Nogueira

Dois homens que frequentaram nos últimos anos as primeiras páginas iniciaram, nesta semana, uma
nova etapa em sua vida.
As fotos falam sozinhas.
É um Joaquim Barbosa reluzente, com ares de estrela de Hollywood, que você vê se despedindo do
STF.
Jornalistas se apressaram em tirar selfies ao lado de JB. Seu futuro é previsível. Fora a pensão vitalícia
de quase 30 mil reais, a possibilidade de fazer palestras em série com cachês milionários.
Quanto tempo vai demorar até que JB se torne colunista do Globo ou da Folha, comentarista da CBN
e da Globonews – todas aquelas coisas, enfim, que alavancam você para a vida de palestrante?
A direita cuida dos seus.
Mas antes de tudo o ócio esplêndido, gasto em parte provavelmente no apartamento de Miami
comprado com um expediente para evitar imposto.
A foto do segundo homem é bem diferente. É um Zé Dirceu muito mais magro e claramente abatido
que é fotografado a caminho do seu emprego.
Foram sete meses de prisão por um capricho de Joaquim Barbosa, que contrariou uma jurisprudência
consagrada para mantê-lo trancafiado.


Sete meses de cadeia deixaram marcas

Neste período de mais de meio ano, enquanto Barbosa fazia coisas como dar um giro pela Europa e
ver num camarote a abertura da Copa do Mundo, Dirceu desfrutava o que a mídia chamava de
“regalias” da Papuda.
O banheiro, por exemplo, não tem vaso sanitário, apenas um buraco. Mas para a mídia era como se
Dirceu estivesse no George 5 de Paris.
Ainda agora é este o tom. Leio no site do Globo que “especialistas dizem que Dirceu debochou” dos
brasileiros ao sair da prisão numa Hilux com motorista.
Como ele deveria sair para satisfazer o Globo? Ele deveria ir a pé para o trabalho? Numa perua Brasília 1974?
De quatro? Vou ver quem é o “especialista”. É Bolívar Lamounier, apresentado como “cientista
político”, simplesmente. Pobres leitores do Globo. Talvez eles imaginem que Lamounier seja um
analista “isento” e não, como é, um antigo militante do PSDB.
O que Lamounier tem a dizer sobre Robson Marinho, de seu partido, mantido há tantos anos no
Tribunal de Contas do Estado mesmo sob evidências cabais de contas secretas na Suíça?
Então ficamos assim: o Globo quer que alguém bata em Dirceu e vai procurar esta pessoa no PSDB.
Diz que ela é “especialista”, para lhe conferir autoridade. Só não avisa seu leitor de que o “especialista”
pertence ao PSDB.
Num certo momento, pouco mais de dez anos atrás, as vidas de Joaquim Barbosa e José Dirceu se
cruzaram. Estavam em situação diferente da atual.
Barbosa batalhava, sôfrego, por uma vaga no STF, e Dirceu era um ministro poderoso.
Algum tempo depois, no Mensalão, os papeis tinham mudado. Barbosa era Deus e Dirceu o demônio.
Nos últimos meses, em mais um giro da roda, Barbosa era o homem que podia fazer de Dirceu um
presidiário em tempo integral, mesmo sob a reprovação de quase todos os seus colegas de STF – e fez.
Agora, Barbosa parte para um futuro que promete trazer dinheiro e status em grandes quantidades.
Dirceu é uma incógnita: como a temporada na prisão o afetou?
Como a posteridade tratará dois homens tão diferentes mas que compartilharam uma mesma história de
forma tão intensa?
Representam visões tão opostas que um haverá de aparecer como vencedor e o outro como vencido
nos livros de história.
Qual o vencedor, qual o vencido?
Façam suas apostas, amigos.
Tenho a minha.
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