sexta-feira, 20 de junho de 2014

O maior erro da campanha de Dilma será rifar Padilha em São Paulo


A história das eleições no estado mostra que o candidato a governador pelo PT costuma ter pelo 
menos 70% dos votos do candidato a presidente pelo partido; para boa parte do eleitorado 
paulista um voto está vinculado ao outro.

Por Renato Rovai

Há uma tese que começa a ganhar força no petismo, a de que a candidatura do ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a governador já naufragou e que agora é hora de salvar Dilma Rousseff da mesma tragédia em São Paulo. Este jornalista já escreveu em seu blogue, em outras oportunidades, que a candidatura de Paulo Skaf (PMDB) era pra valer e que o PT teria dificuldades de levar seu candidato ao segundo turno no estado.
Essa avaliação era feita com base no histórico eleitoral do PT em São Paulo. As eleições em dois turnos foram introduzidas na Constituição de 1988 e passaram a valer em 1989, na primeira eleição presidencial, que foi desvinculada das de governadores, senadores e deputados. Em 1990, o estado de São Paulo teve sua primeira disputa neste sistema. E viveu um segundo turno entre Luis Antônio Fleury e Paulo Maluf, vencido pelo primeiro.
Em 1994, houve outro segundo turno. Entre Mário Covas e Francisco Rossi, em que o tucano saiu vencedor. Em 1998, novo segundo turno, de Covas com Maluf, numa eleição em que a petista Marta Suplicy ficou fora dessa rodada final por 70 mil votos. Nesses três primeiros segundos turnos do estado, o PT ficou de fora de todos. Foi só em 2002 que o partido teve com Genoino sua primeira e única experiência numa disputa final. E depois disso todas as eleições em São Paulo foram decididas em primeiro turno.
Ou seja, a tese que o PT comprou de que nesta eleição haveria segundo turno em São Paulo e que, isso acontecendo, o partido enviaria seu candidato à rodada final não tem sustenção no histórico eleitoral do estado. De quatro disputas em segundo turno, o PT foi apenas a uma. É evidente que pode-se dizer que nas últimas disputas o partido teve votação sempre acima dos 30% dos votos para governador e que isso poderia garanti-lo na rodada final, se houvesse além do PSDB outra candidatura forte. Isso, porém, deveria ter sido relativizado pelo fato de que nas outras ocasiões não havia outra candidatura na qual as elites do estado poderiam apostar também como uma alternativa ao projeto tucano. E dessa vez essa elite tem Skaf.
Por que Dilma precisa de Padilha mais do que imagina
Desde 1994 há eleições casadas para governadores e presidente da República. Ou seja, já foram cinco pleitos consecutivos dessa forma. No primeiro, em 1994, o PT teve Lula para presidente da República e José Dirceu como candidato a governador. Lula teve 4 milhões e 205 mil votos (27,01% dos votos válidos), numa disputa em que Fernando Henrique venceu em primeiro turno. E Dirceu teve 2 milhões e 85 mil votos (14,86%). Foi a única vez que o candidato a governador do PT teve menos do que 70% dos votos do candidato a presidente pelo partido. Neste caso, 49,05%. Esta foi uma disputa com vários candidatos fortes. O então governador Fleury apoiou Barros Munhoz, que ficou em quarto lugar. Covas teve 44% dos votos válidos no primeiro turno. E um azarão conseguiu ir ao segundo turno, Francisco Rossi, apoiado num discurso centrado no público evangélico.
Depois dessa eleição, de 98 até 2010, em todos os pleitos os candidatos a governador tiveram no mínimo 70% dos votos que os candidatos a presidente pelo partido. Em 1998 a relação de votos entre Lula e Marta Suplicy foi 79,7%. Em 2006, a relação Lula e Mercadante foi de 83,6%. Em 2010, a proporção Dilma e Mercadante se estreitou ainda mais, foi de 91,71%. No ano de 2002, em que se teve o pior índice desse período, 70%, entre Lula e Genoino, não foi por conta de uma crise na candidatura estadual. Ao contrário, essa foi a única vez que o PT enviou um candidato ao segundo turno. A diferença é que naquela eleição Lula teve 9 milhões 107 mil votos e Genoíno bateu em 6 milhões 362 mil.
O voto petista no estado teve seu pico para presidente da República exatamente com Lula em 2002. Dilma chegou perto dessa votação em 2010, fez 8 milhões 741 mil. Deve-se levar em conta que em 2010 o eleitorado do estado era maior do que em 2002. Ou seja, a diferença proporcional em 2002 foi maior ainda. Para governador, a maior votação do PT foi a de Mercadante em 2010, 8 milhões e 16 mil votos, quando por muito pouco ele não conseguiu fazer um segundo turno contra Alckmin.
Ou seja, se Padilha vier a ter uns 20% dos votos no estado de São Paulo, o que certamente o deixaria fora do segundo turno e o que vários petistas já consideram em conversas privadas como muito provável, sua votação será de aproximadamente 5 milhões de votos. Na última eleição os votos válidos no estado no primeiro turno se aproximaram de 24 milhões. Para se garantir num segundo turno, dada a divisão atual entre Padilha, Alckmin e Skaf, o candidato petista teria que ter ao menos algo em torno de 7 milhões de votos. Ou ainda um pouco mais. Essa votação provavelmente, levando em consideração o histórico dos votos no estado, levaria Dilma a ter algo entre 8 e 8,5 milhões em São Paulo. Algo próximo da sua votação na eleição passada (8 milhões 741 mil). Se Padilha vier a ter algo 5 milhões de votos, Dilma não deve ter muito mais do que 6 mihões. Ou seja, ela perderia algo como de 2 a 2,5 milhões de votos no primeiro turno em São Paulo. E teria muitos problemas na rodada final, já que ou a eleição já teria sido decidida em primerio turno ou haveria uma rodada final sem ninguém do seu partido no principal estado da federação.
Dilma tem dois candidatos em São Paulo
Essa é uma tese que também vem sendo defendida por aqueles que acham que a presidenta pode ter uma campanha descolada da de Padilha no estado. Mas isso não tem acontecido na prática. Paulo Skaf tem visitado cidades em todo o estado dizendo exatamente ao contrário. Diz que é oposição em São Paulo porque acha que o projeto tucano se esgotou e também porque o PT não é solução. E dá como exemplos de má condução administrativa petista, os governos Haddad e Dilma. E para completar afirma que sua candidatura não tem compromisso com a da presidenta e que não pretende se associar a ela. Ou seja, Skaf quer ser a alternativa no estado entre os polos do PT e do PSDB.
Skaf sabe que para o projeto petista ir para o segundo turno em São Paulo é fundamental. E ele não quer empinar um discurso de apoio à presidenta porque acha que toda a estrutura do Palácio do Planalto trabalhará para empinar a campanha do ex-ministro da Saúde.
Seu discurso como candidato só não tem sido mais duro com a presidenta, porque o vice Michel Temer tem atuado como bombeiro nessa operação. Skaf ensaiou conversas com Kassab para que esse viesse apoiar a sua candidatura e atribui a Lula e em menor medida, mas também a Dilma, o insucesso até o momento dessa operação.
Dilma e a operação salva Padilha
A eleição em São Paulo é decisiva para a reeleição de Dilma. Dos prováveis 25 milhões de votos válidos no estado, ela não poderá ter uma votação muito inferior ao seu adversário num provável segundo turno. Principalmente porque se ele for Aécio Neves, a tendência é que a presidenta venha a perder em Minas Gerais. Na eleição passada a diferença de votos entre Dilma e Serra foi de 12 milhões de votos. Ela teve 55,7 milhões e ele , 43,7 milhões. Em Minas, no segundo turno de 2010, Dilma teve 6,2 milhões de votos. Serra teve 4,4 milhões. Ou seja, dos 12 milhões de votos de diferença para Serra, 1,8 milhão foram em Minas. Em São Paulo, Serra teve 12,3 milhões de votos. E Dilma 10,5 milhões. Uma diferença também de aproximadamente 1,8 milhão de votos. Ou seja, Minas compensou São Paulo para a presidenta.
A diferença entre os candidatos no eixo Minas e São Paulo foi praticamente inexistente e garantiu os 12 milhões de votos de diferença de Dilma no total Brasil. Em 2010, no segundo turno, São Paulo e Minas somaram 33,5 milhões de votos de um total aproximado de 100 milhões de votos válidos no país inteiro. Se um candidato vier a ter apenas 40% nos dois estados somados e outro 60%, isso significaria uma diferença de 6,5 milhões de votos. Seriam 20 milhões contra 13,4 milhões. Uma diferença dessas poderia definir o resultado final da eleição. Ou deixá-la muito difícil para quem viesse a perder por essa diferença.
Em SP, a disputa PT e PSDB é a mais ideologizada do país
Ou seja, a disputa em São Paulo é estratégica tanto para a oposição quanto para a situação. E neste ano os tucanos, mesmo depois de muitas dificuldades, conseguiram montar uma operação onde estão levando uma vantagem bastante razoável. E isso se deve muito mais a erros do PT do que a acertos dos tucanos. O candidato a governador não conseguiu sair dos 3% das intenções de voto também porque tem feito um discurso muito conservador e não tem empolgado nem a militância nem o eleitorado tradicional do partido. Afora isso, e não menos importante, o governo de Fernando Haddad, na capital, tem índices sofríveis de aprovação. E o governo Dilma dialogou muito pouco com os movimentos sociais do estado.
Ou seja, a estratégia de soltar Dilma da candidatura de Padilha não resolverá o problema da presidenta. É em São Paulo que a disputa PT x PSDB é a mais ideologizada do país. E até por este motivo a relação de votos entre os candidatos a governador e a presidente têm alto índice de fidelidade. Dificilmente isso se modificará em 2014. Ou seja, Dilma e Padilha (principalmente eles, mas não só eles) precisam voltar a dialogar mais intensamente com e para o eleitorado que votou no partido nos últimos pleitos do estado. O primeiro eleitor a ser cativado é aquele que mais facilmente pode ser seu. Parece uma regra básica e boba, mas não é incomum ser esquecida. E parece estar sendo esse o caso do PT em São Paulo.
Todos os resultados têm como fonte o Tribunal Superior Eleitoral (www.tse.jus.br). Os números foram arredondados para facilitar a leitura.
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