Eleições no Rio: samba do criolo doido ou loucura planejada? Prefeito Eduardo Paes lembra
orgias do deus do vinho, Baco, para definir cena eleitoral no Rio de Janeiro; marineiro Alfredo
Sirkis chama de "suruba" a consolidação das alianças partidárias; aliados da presidente Dilma
Rousseff fortalecem os principais adversários dela; governador Luiz Fernando Pezão leva
antecessor Sergio Cabral a sair da disputa pelo Senado para ter como candidato o ex-adversário
Cesar Maia (o Vaia do DEM); chapa Aezão, criada por Jorge Picciani, presidente regional da
legenda, se fortalece; petista Lindbergh Farias atrai deputado federal Romário (PSB) como
candidato a senador e, na prática, firma aliança com presidenciável Eduardo Campos; é o
Carnaval fora de época e proibidão?
Por Miguel do Rosário
Se a disputa no Rio de Janeiro já estava doida, com um cruzamento de apoios de fundir a cabeça de qualquer analista, agora ela entrou no terreno do psicodélico.
Doideira número 1: Aécio apoia Pezão e incentiva a formação de um bloco político nomeado “Aezão”. Os setores mais fisiológicos e mais reacionários do estado, liderados por Jorge Picciani, presidente local do PMDB, que não estão contentes com o governo federal, e não se identificam com suas políticas sociais, refluíram naturalmente para a direita, representada por Aécio Neves. Entretanto, há um detalhe: Pezão apoia oficialmente Dilma e aparecerá na campanha em fotos ao lado da presidenta.
Doideira número 2: o PSB fluminense resolveu apoiar Lindberg Farias, candidato do PT ao governo do estado. O próprio Campos já deu declarações de que aprova a coligação. Só que Lindberg apoia, obviamente, a presidenta Dilma e aparecerá ao lado da presidenta em sua propaganda eleitoral. O candidato a senador da chapa de Lindberg será o deputado Romário, do PSB, que ultimamente tem dito cobras e lagartos de Dilma, mas que agora está, oficialmente, numa chapa do PT.
Doideira número 3: César Maia (o Vaia), vereador e ex-prefeito do Rio, deverá ser o candidato a senador na chapa de Pezão. Ora, César Maia (o Vaia) sempre foi oposição radical a Sergio Cabral e a Eduardo Paes. E agora será o candidato do partido de Sérgio Cabral, Eduardo Paes, e Pezão.
Entretanto, como se dizia de Hamlet, alguma lógica há nessa loucura, e pode ser resumida na seguinte. O Rio está oferecendo um laboratório para uma polarização ideológica talvez mais racional do que se vê no plano nacional. Desse ponto-de-vista, a loucura estaria antes na política nacional do que na local. Lindberg teria conseguido, de fato, criar um pólo progressista, atraindo a esquerda do PSB, na figura sobretudo de Roberto Amaral, vice-presidente do partido, ex-ministro de Lula, e um dos raros quadros do partido que ainda podemos chamar de “socialista”.
Amaral foi o principal avalizador da parceria entre PT e PSB no Rio. Romário, por sua vez, apesar de sua implicância com Dilma, talvez seja melhor senador para o Rio do que Dornelles e Sérgio Cabral.
E os setores menos reacionários do PMDB fluminense também estarão com Dilma no Rio.
Então ficamos assim: Lindberg juntou a centro-esquerda, representada pelo próprio PT; a esquerda propriamente dita, representada pelo PCdoB; a centro-direita ambientalista (e por isso também progressista), representada pelo PV; e o centro, representado pelos setores do PMDB que não se uniram ao Aezão.
E Lindberg é um dos raros (raríssimos) nomes do PT que tem uma boa relação com Marcelo Freixo, principal nome do PSOL no estado, sobretudo em virtude de seu apoio firme ao deputado por ocasião dos embates recentes de Freixo contra a Globo e contra a direita raivosa fluminense.
Já há um acordo informal de apoio de Freixo à Lindberg num eventual segundo turno.
Pezão, por sua vez, apesar de ser um boa praça que goza de amizades importantes junto ao PT nacional, e estar conseguindo se descolar da forte rejeição de Sérgio Cabral, só reuniu, em torno de si, a direita fluminense mais empedernida. A entrada de César Maia (o Vaia) em sua chapa apenas agrava esse quadro. E será difícil para Pezão se manter, por muito tempo, distante das críticas que se faz a Cabral.
Mas não se subestime jamais um candidato que contará com uma máquina partidária monstruosa, bom tempo de TV, e um longo histórico de parcerias com Lula e Dilma.
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