O último Prêmio Grammy teve momentos grandiosos, outros interessantes e outros descartáveis. Foi transmitido pela TV e comentado por alguns dias nas redes sociais. Madonna, vestida de Quaker, celebrou o casamento de casais gays, Stevie Wonder quase arruina a música “Get Lucky”, do Daft Punk, Paul McCartney e Ringo Starr se juntaram para tocar. Enfim, aquela festa absurda.
E um grupo brasileiro ganhou um prêmio, mas você não ficou sabendo. Nã saiu na TV, não saiu em lugar nenhum. O Trio Corrente levou o troféu de melhor álbum de jazz latino pelo CD “Song For Maura”.
Fabio Torres, o pianista, contou o que é ganhar um Grammy sem que ninguém note muito:
Eu, o baterista Edu Ribeiro e o baixista Paulo Paulelli fazemos música instrumental brasileira, tocando basicamente os grandes autores do choro, do samba e da bossa, como Jobim, Pixinguinha e Baden, e também nossas próprias composições
Escrevo sob o impacto do prêmio por nós recebido no dia 26 de janeiro, o Grammy de melhor álbum de jazz latino, pelo CD “Song for Maura”. Esse trabalho foi fruto de uma parceria entre o Trio Corrente e o saxofonista cubano radicado nos EUA, Paquito D’Rivera.
Muita gente me disse: “Eu assisti a cerimônia do Grammy na TV e não vi vocês lá”. É bom esclarecer que além dessa premiação televisionada que reúne as grandes estrelas do Pop, num teatro menor ao lado do imenso Staples Center é realizada uma outra cerimônia que entrega 72 Grammys para as mais diversas categorias como jazz, gospel, música clássica e outras.
Pois bem, é aí que estão incríveis grupos de música de câmara, compositores e intérpretes de música erudita, bem como alguns dos jazzistas mais conceituados dos EUA e do mundo. Vimos alguns de nossos ídolos ganhando ou perdendo seus prêmios na nossa frente. E, esperamos 40 categorias – mais ou menos 2 horas – até chegar nossa vez. Apenas um brasileiro havia faturado essa categoria até hoje, nosso maestro Tom Jobim em 1996.
Eu fiz de tudo pra fugir do espírito de competição, exorcizar o terrível “winners and losers” dos americanos. Mas o fato é que foram duas horas da mais terrível angústia. E o instante em que anunciaram nosso nome foi algo indescritível. Sim, é um pouco piegas, mas foi exatamente isso.
Uma mistura de alívio com extrema felicidade. Pensei também na enorme e artificial distância que nos separava dos outros indicados preteridos. Após nos tornarmos “Grammy Winners” nos tiraram da platéia e nos levaram pra sessões de fotos e entrevistas enquanto os outros eram como que abandonados à própria sorte.
Logo depois fomos ao Staples Center assistir a premiação das estrelas do pop, rock, country, rap etc. Eu estava acompanhado de minha filha e entramos pelo tapete vermelho junto com dois caras com roupas de robô. Também havia muitas luzes e burburinho mas sou completamente ignorante em matérias de ícones pop. Minha filha acha que no centro de uma rodinha muito agitada pela qual passamos estava a Madonna…mas podia ser a…Taylor Swift??
Vimos de pertinho o Paul e o Ringo, o Stevie Wonder e uma negra muito, muito linda que, há pouco descobri, se chama Beyoncé. Claro que, para ouvidos de músico experiente, foi fácil identificar muitos artistas sem nenhuma substância musical, alguns inclusive sendo consagrados e que serão vítimas da efemeridade inclemente. Assim como foi fácil perceber o porquê de alguns veteranos fazerem sucesso durante tanto tempo, tal a verdade de sua arte.
Toda essa experiência inusual me fez pensar muito sobre a música, o sucesso. Pensei na distância que separava a nossa música da música daquelas estrelas. Pensei na estrutura imensa, paquidérmica, que move essa fábrica de celebridades e no quanto, cada vez mais, essa estrutura será ameaçada pela multiplicidade de vozes que a internet traz.
Muitas pessoas se queixaram da ausência do Trio Corrente na televisão brasileira, na noite da premiação. Achavam que deveria ser destacado o fato de artistas brasileiros serem premiados. Estarei sendo sincero em confessar que isso não diminui nem sequer uma ínfima fração de meu contentamento. Não tenho televisão em casa e tive a sorte de conhecer uma moça que também não tinha e me casar com ela.
Logo depois fomos ao Staples Center assistir a premiação das estrelas do pop, rock, country, rap etc. Eu estava acompanhado de minha filha e entramos pelo tapete vermelho junto com dois caras com roupas de robô. Também havia muitas luzes e burburinho mas sou completamente ignorante em matérias de ícones pop. Minha filha acha que no centro de uma rodinha muito agitada pela qual passamos estava a Madonna…mas podia ser a…Taylor Swift??
Vimos de pertinho o Paul e o Ringo, o Stevie Wonder e uma negra muito, muito linda que, há pouco descobri, se chama Beyoncé. Claro que, para ouvidos de músico experiente, foi fácil identificar muitos artistas sem nenhuma substância musical, alguns inclusive sendo consagrados e que serão vítimas da efemeridade inclemente. Assim como foi fácil perceber o porquê de alguns veteranos fazerem sucesso durante tanto tempo, tal a verdade de sua arte.
Toda essa experiência inusual me fez pensar muito sobre a música, o sucesso. Pensei na distância que separava a nossa música da música daquelas estrelas. Pensei na estrutura imensa, paquidérmica, que move essa fábrica de celebridades e no quanto, cada vez mais, essa estrutura será ameaçada pela multiplicidade de vozes que a internet traz.
Muitas pessoas se queixaram da ausência do Trio Corrente na televisão brasileira, na noite da premiação. Achavam que deveria ser destacado o fato de artistas brasileiros serem premiados. Estarei sendo sincero em confessar que isso não diminui nem sequer uma ínfima fração de meu contentamento. Não tenho televisão em casa e tive a sorte de conhecer uma moça que também não tinha e me casar com ela.
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