Janira Rocha alega que comunicou o presidente da Assembleia Legislativa e o procurador sobre o caso.
Denúncia atrapalha filão que partido tentava atingir com construção de imagem limpa. Problema seria resolvido se as siglas buscassem o financiamento público de campanha
por Helena Sthephanowitz
Dois ex-funcionários da presidenta estadual do Psol e deputada estadual Janira Rocha procuraram na Assembleia Legislativa (Alerj) a também deputada Cidinha Campos (PDT-RJ) para vender um dossiê sobre a ex-chefe por R$ 1,5 milhão. Cidinha fingiu negociar e marcou uma data na semana seguinte. Avisou a polícia e os dois foram presos em flagrante, com o material apreendido, que inclui cópias de relatórios, recibos e gravações.
As acusações são sobre exigir parte do salário dos funcionários, chamada cotização, e também caixa dois de campanha com dinheiro do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (Sindsprev), do qual foi diretora.
O ex-funcionário Marcos Paulo Alves declarou que ganhava de salário R$ 7.200 e devolvia R$ 4 mil. “Porque fazia a cotização, dizia que era para os nossos projetos, para as nossas coisas e no final não tinha nada disso”, disse.
No material apreendido havia uma gravação na qual Janira aparece falando: "Eu não faço nada dentro desse mandato que eu possa me envergonhar. Pode até ser que tenha algumas coisas que são feitas aqui, como a única que é a cotização, que não é legal lá fora, entendeu? Mas isso não me envergonha, eu não estou roubando dinheiro para mim, entendeu?"
Em outra gravação, ela aparece admitindo ter usado dinheiro do Sindicato do Previdenciários, do qual era diretora, para a campanha eleitoral: "A gente pode botar no relatório que o dinheiro foi para atividades políticas, mobilizadoras. Não pode dizer, ah, foi para construção do Psol, foi para disputa para eleger deputado. Isso não pode, isso é crime. Então é um crime tanto do sindicato como um crime nosso, né? Crime eleitoral...", disse.
Janira renunciou à presidência do PSOL fluminense e à liderança do partido na Assembleia enquanto os fatos são investigados. O Psol abriu pedido de expulsão dos dois ex-assessores.
Ela se defende, dizendo que os dois funcionários foram demitidos no início de junho. No dia 15 de agosto ela disse que foi procurada por emissários dos ex-assessores que ameaçaram divulgar o dossiê se a dupla não fosse recontratada. Afirmou que recusou e fez a denúncia de extorsão ao Ministério Público, onde prestou depoimento no dia 29 de agosto. Disse também que comunicou o fato ao presidente da Assembleia, Paulo Melo (PMDB), e ao procurador-geral de Justiça do Rio, Marfan Vieira.
Quanto às gravações, Janice afirma: "Pinçaram uma fala minha e colocaram como se isso fosse sistemático. É mentira. A outra acusação [sobre o sindicato] apareceu a partir de um debate sobre dar dinheiro ou não a sindicatos, e também fizeram parecer que eu faço uso dessa prática. Também não é verdade (...) estou de consciência tranquila. Não é nada que resista a uma boa perícia”, disse.
Essa confusão toda desarranja o marketing que o Psol fluminense vinha fazendo em cima do filão anticorrupção. "Até tu?", dirão os manifestantes indignados.
Se os partidos que realmente são contra as atuais regras de financiamento de campanha se unissem em torno da reforma política pelo fim do financiamento privado com mais vigor, em vez de apenas procurarem tirar vantagem dos deslizes dos outros que chegam ao noticiário, o sistema político e de cidadania sairia ganhando.
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