“Mas por que, afinal de contas, estariam tão empenhados os paulistas em derrubar o
governador carioca (do PMDB), e nada falam do seu próprio (do PSDB)?
Lula Miranda
Um grupo de oitocentos a mil
manifestantes interditaram, na noite da última sexta-feira, a Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro. O grupo portava cartazes e uma imensa faixa preta onde se lia, em bom “carioquês”: “Vaza, Alckmin!”. O protesto teria sido organizado em solidariedade aos paulistas que se manifestam, por seguidas semanas, com o intuito de derrubar o seu governador. A manifestação se pretendia pacífica. Mas um grupo de contados 12 “anarquistas”, autointitulados de Black Blocs, tomou outra direção, seguiu por outro caminho e depredou cerca de 13 agências bancárias e um furgão da TV Record, desviando-se assim da manifestação original – curiosamente, só atacaram agências bancárias pertencentes a instituições privadas. Ou seja, os jovens “anarquistas” deram o seu recado.
O leitor deve ter estranhado essa notícia descrita no 1º parágrafo desse texto – não é fato? Com toda razão. Deve estar se indagando: “Como assim, uma manifestação no RJ pedindo a derrubada do governador de SP?!”. Ou ainda: “Como assim, essa conversa improvável de carioca demonstrar solidariedade ao povo paulista?! A situação no RJ nem é tão distinta assim de SP!”.
Então, a notícia acima é estranha e falsa mesmo. Mas apenas estão invertidos aqui, propositadamente, os nomes e os papéis. Por mais estranho que possa parecer, foram os paulistas que protestaram, na sua avenida cartão-postal, contra o governador Sérgio Cabral, diz-se que “em solidariedade aos irmãos cariocas”. E o que se lia na portentosa faixa era, na verdade, “Vaza, Cabral!” – em autêntico “paulistês”. Nunca se soube, até então, de tamanha “irmandade” ou “solidariedade” entre paulistas e cariocas.
Nelson Rodrigues, dentre outros tantos cariocas ou fluminenses, parecia não ter lá em muito boa conta os paulistas. Numa de suas mais lendárias, lapidares e provocativas frases teria dito que “a pior forma de solidão é a companhia de um paulista”. Paulistas e cariocas sempre tiveram, por assim dizer, uma (in)certa “bronca” gratuita entre si. Coisa à toa: uma disputazinha boba de “estilos de vida” e de riqueza, de modelos de civilização distintos, digamos assim, sem abdicarmos do bom humor e da ironia, tão caros a cariocas e paulistas, nessa ordem.
Mas diante dessa demonstração de amor e solidariedade pelos paulistas aos cariocas, percebe-se, tanto melhor, que essa “bronca” é coisa do passado.
Mas por que, afinal de contas, estariam tão empenhados os paulistas em derrubar o governador carioca (do PMDB), e nada falam do seu próprio (do PSDB), que também despencou nas pesquisas de aferição de popularidade pós-manifestações? Seria um mero “detalhe” partidário?
Será que as mesmas mazelas que afetam os cariocas não afetam os paulistas? A violência não já se tornou endêmica em SP – não é isso que atestam os inúmeros, incontáveis arrastões e latrocínios, e a onipresença, nada civilizada, do crime organizado? A Educação em SP é de boa qualidade, ao menos razoável? E os serviços de Saúde prestados à população paulista, são bons? Os serviços de metrô e de trem em SP não são caóticos, abaixo da crítica?! A corrupção não é, por acaso, endêmica em SP? Alckmin não dá também os seus passeios com a família no helicóptero do governo? Repito aqui a pergunta que não quer calar: Por que o governador paulista é tão blindado pela mídia? Por que será?
Vá ver que é tudo culpa do Cabral. Não do governador, mas do Pedro Álvares, o nosso “descobridor”. Ou talvez seja tudo culpa da Dilma. Ou, quem sabe, do Lula!
Confesso que não sei ao certo, mas lhes prometo passar a ler a Veja, a Folha e o Estadão, e a assistir a TV Globo, pra ver se aprendo para valer um pouco mais sobre a nossa realidade e sobre quem são os verdadeiros mocinhos e bandidos dessa história toda – obviamente estou me utilizando aqui de uma pitada de bom-humor e de ironia tão cara aos cariocas, paulistas, baianos, mineiros, cearenses etc.”
Lula Miranda
Um grupo de oitocentos a mil
manifestantes interditaram, na noite da última sexta-feira, a Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro. O grupo portava cartazes e uma imensa faixa preta onde se lia, em bom “carioquês”: “Vaza, Alckmin!”. O protesto teria sido organizado em solidariedade aos paulistas que se manifestam, por seguidas semanas, com o intuito de derrubar o seu governador. A manifestação se pretendia pacífica. Mas um grupo de contados 12 “anarquistas”, autointitulados de Black Blocs, tomou outra direção, seguiu por outro caminho e depredou cerca de 13 agências bancárias e um furgão da TV Record, desviando-se assim da manifestação original – curiosamente, só atacaram agências bancárias pertencentes a instituições privadas. Ou seja, os jovens “anarquistas” deram o seu recado.
O leitor deve ter estranhado essa notícia descrita no 1º parágrafo desse texto – não é fato? Com toda razão. Deve estar se indagando: “Como assim, uma manifestação no RJ pedindo a derrubada do governador de SP?!”. Ou ainda: “Como assim, essa conversa improvável de carioca demonstrar solidariedade ao povo paulista?! A situação no RJ nem é tão distinta assim de SP!”.
Então, a notícia acima é estranha e falsa mesmo. Mas apenas estão invertidos aqui, propositadamente, os nomes e os papéis. Por mais estranho que possa parecer, foram os paulistas que protestaram, na sua avenida cartão-postal, contra o governador Sérgio Cabral, diz-se que “em solidariedade aos irmãos cariocas”. E o que se lia na portentosa faixa era, na verdade, “Vaza, Cabral!” – em autêntico “paulistês”. Nunca se soube, até então, de tamanha “irmandade” ou “solidariedade” entre paulistas e cariocas.
Nelson Rodrigues, dentre outros tantos cariocas ou fluminenses, parecia não ter lá em muito boa conta os paulistas. Numa de suas mais lendárias, lapidares e provocativas frases teria dito que “a pior forma de solidão é a companhia de um paulista”. Paulistas e cariocas sempre tiveram, por assim dizer, uma (in)certa “bronca” gratuita entre si. Coisa à toa: uma disputazinha boba de “estilos de vida” e de riqueza, de modelos de civilização distintos, digamos assim, sem abdicarmos do bom humor e da ironia, tão caros a cariocas e paulistas, nessa ordem.
Mas diante dessa demonstração de amor e solidariedade pelos paulistas aos cariocas, percebe-se, tanto melhor, que essa “bronca” é coisa do passado.
Mas por que, afinal de contas, estariam tão empenhados os paulistas em derrubar o governador carioca (do PMDB), e nada falam do seu próprio (do PSDB), que também despencou nas pesquisas de aferição de popularidade pós-manifestações? Seria um mero “detalhe” partidário?
Será que as mesmas mazelas que afetam os cariocas não afetam os paulistas? A violência não já se tornou endêmica em SP – não é isso que atestam os inúmeros, incontáveis arrastões e latrocínios, e a onipresença, nada civilizada, do crime organizado? A Educação em SP é de boa qualidade, ao menos razoável? E os serviços de Saúde prestados à população paulista, são bons? Os serviços de metrô e de trem em SP não são caóticos, abaixo da crítica?! A corrupção não é, por acaso, endêmica em SP? Alckmin não dá também os seus passeios com a família no helicóptero do governo? Repito aqui a pergunta que não quer calar: Por que o governador paulista é tão blindado pela mídia? Por que será?
Vá ver que é tudo culpa do Cabral. Não do governador, mas do Pedro Álvares, o nosso “descobridor”. Ou talvez seja tudo culpa da Dilma. Ou, quem sabe, do Lula!
Confesso que não sei ao certo, mas lhes prometo passar a ler a Veja, a Folha e o Estadão, e a assistir a TV Globo, pra ver se aprendo para valer um pouco mais sobre a nossa realidade e sobre quem são os verdadeiros mocinhos e bandidos dessa história toda – obviamente estou me utilizando aqui de uma pitada de bom-humor e de ironia tão cara aos cariocas, paulistas, baianos, mineiros, cearenses etc.”
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