Duas charges sobre Santa Maria mostram como chargistas podem ser brilhantes ou infames perante tragédias
Fazer charge num drama como o de Santa Maria é uma tarefa para poucos.
É fácil fazer bobagem, e é difícil fazer coisa boa.
Na tragédia de Santa Maria, tivemos as duas situações. O cartunista Carlos Latuff, que se celebrizou no Brasil há pouco tempo depois de ser acusado de antissemita, brilhou.
Latuff ironizou o abominável comportamento da mídia diante de calamidades como a da casa noturna Kiss. Um repórter tenta extrair palavras de um familiar da vítima no enterro, numa exploração abjeta da dor alheia.
Clap, clap, clap. De pé.
Latuff deu voz a milhões de brasileiros que somaram à tristeza pelas centenas de mortes a indignação pela atitude de jornalistas que não respeitam a dor alheia e simulam, como canastrões, uma dor que não sentem.
O lado B veio com Chico Caruso, no Globo. Ele fez uma prisão em chamas, na qual ardem as pessoas ali dentro e da qual se exala uma fumaça sinistra. Dilma, sempre Dilma, observa de longe e exclama: “Santa Maria!”
Era para rir? Os leitores acharam que não. Mas viria uma segunda etapa. Numa decisão estapafurdiamente incompreensível, Ricardo Noblat republicou a charge em seu blogue com o acréscimo da palavra “humor”.
É fácil fazer bobagem, e é difícil fazer coisa boa.
Na tragédia de Santa Maria, tivemos as duas situações. O cartunista Carlos Latuff, que se celebrizou no Brasil há pouco tempo depois de ser acusado de antissemita, brilhou.
Latuff ironizou o abominável comportamento da mídia diante de calamidades como a da casa noturna Kiss. Um repórter tenta extrair palavras de um familiar da vítima no enterro, numa exploração abjeta da dor alheia.
Clap, clap, clap. De pé.
Latuff deu voz a milhões de brasileiros que somaram à tristeza pelas centenas de mortes a indignação pela atitude de jornalistas que não respeitam a dor alheia e simulam, como canastrões, uma dor que não sentem.
O lado B veio com Chico Caruso, no Globo. Ele fez uma prisão em chamas, na qual ardem as pessoas ali dentro e da qual se exala uma fumaça sinistra. Dilma, sempre Dilma, observa de longe e exclama: “Santa Maria!”
Era para rir? Os leitores acharam que não. Mas viria uma segunda etapa. Numa decisão estapafurdiamente incompreensível, Ricardo Noblat republicou a charge em seu blogue com o acréscimo da palavra “humor”.
Latuff captou o comportamento abjeto da imprensa
A reação nas redes sociais foi imediata. Caruso e Noblat foram simplesmente abominados. No próprio blogue de Noblat, os leitores — em geral arqui-conservadores como o blogueiro — manifestaram repúdio. Um deles notou que a dupla conseguiu unir petistas e anti-petistas na mesma reprovação torrencial.
Noblat defendeu Chico Caruso, e sobretudo a si próprio, em linhas antológicas: quem não gostou da charge, foi o que ele essencialmente disse depois de uma cômica interpretação do desenho, não a entendeu. Os leitores são burros, portanto.
Tenho para mim que parte da raiva se deve ao fato de ambos estarem fortemente identificados com a Globo. Alguma coisa da rejeição que existe em boa parte da sociedade à Globo se transmite a seus funcionários.
Mas a questão vai além. É complicado, ficou claro, fazer charge decente para as Organizações Globo. A de Latuff jamais seria publicada pelo Globo. O espesso conservadorismo da empresa acaba por ceifar a possibilidade de iconoclastia, de inconformismo de cartunistas da Globo.
Se nas colunas políticas o reacionarismo nos veículos da Globo não chega a chocar, porque é esperado, na charge aparece como um estigma. De artistas se espera uma atitude diferente, mais arejada, mais provocativa.
Caruso, nos anos 1980, se destacou como um dos melhores chargistas de sua geração. Prometia mais do que entregou, é certo, mas fez uma carreira boa.
Agora, vai passar para a história como o autor da charge mais repudiada e mais infame da mídia brasileira em muitos anos — em parte por um mau momento, em parte por carregar no peito o crachá das Organizações Globo.
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