quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Governo grego expulsa deputados rebeldes e aprova pacote do FMI


Desemprego na Grécia está acima dos 25%; em protesto, cerca de 200 mil pessoas foram as ruas por dois dias seguidos.

O Parlamento grego aprovou na noite desta quarta-feira (7/11) um novo pacote de austeridade do FMI (Fundo Monetário Internacional), que prevê um desembolso de 31,5 bilhões de euros (cerca de R$ 35 bilhões) em troca de medidas impopulares de austeridade. Apesar da aprovação, a coalizão do primeiro-ministro Antonis Samaras, do partido Nova Democracia, de centro-direita, perdeu fileiras e começa a mostrar sinais de fraqueza.
Há quatro meses, quando foi eleito, Samaras contava com o apoio de 174 parlamentares. Na votação desta noite, 153 disseram sim ao pacote, resultado da debandada de membros da Esquerda Democrática, que se recusou a navegar com o governo pelos cortes profundos em todas as esferas do Estado grego. A oposição contabilizou 128 votos e outros 18 se abstiveram.
Como sinal do forte estremecimento na base do governo, a Nova Democracia expulsou um de seus deputados, que decidiu ir contra o pacote, e o PASOK, que também faz parte da coalizão, expulsou outros seis rebeldes. A sustentação de Samaras passará por mais um crivo importante no fim de semana, quando o Parlamento vota o orçamento grego.
O país vive uma clara crise social e a pressão por resultados aumenta a cada dia. Ontem, pelo menos 200 mil manifestantes marcharam em Atenas contra a austeridade. O protesto, que marcou o segundo dia de greve geral no país, foi desmobilizado pela ação da polícia grega, que envolveu a Praça Syntagma, em frente ao Parlamento, em um nevoeiro de gás lacrimogêneo.
Medidas e reações
No início da noite, pouco antes da votação, uma situação bizarra tomou conta do Parlamento grego. Seus funcionários descobriram que os salários que recebem seriam equiparados ao dos servidores públicos comuns, provocando revolta e paralisando momentaneamente os trabalhos. Mesmo assim, o processo parlamentar continuou.
Samaras, em seu discurso, pediu que os gregos provassem a “credibilidade” do país aceitando as medidas de austeridade. “Essa é a decisão mais crucial do Parlamento grego em 37 anos”, disse. “Hoje nós votamos se continuamos com o euro ou voltamos ao isolamento.”
O primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, disse que a decisão de hoje foi a mais difícil do Parlamento em 37 anos
Ele continuou, em críticas à oposição de esquerda: “Alguns precisam entender que não são mais sensíveis que nós, mas mais irresponsáveis. A Grécia sempre pediu empréstimos porque gastou mais do que tinha. Vamos por um fim a isso.”
Em resposta, o dirigente da Syriza, Alexis Tsipras, ironizou Samaras. “Como você pode ir tão longe? Quais são seus limites? Você diz ‘sim’ a todos porque tem medo que vão nos chutar para fora da zona do euro”, discursou. “Você precisa saber que não somos só nós que precisamos da Europa, mas a Europa também precisa da gente.”
Tsipras ainda atacou diretamente as medidas de austeridade do FMI. “A recessão vai chegar a 7% no ano que vem. Estamos pedindo novas eleições porque acreditamos que se você [Samaras] continuar no governo, esse país vai correr grandes riscos”, afirmou.
A Grécia vive uma profunda crise social, com desemprego acima dos 25% - e extrapolando os 50% entre jovens de 18 a 25 anos. O pessimismo atinge 100% da população, segundo pesquisa recente da União Europeia, e casos de violência contra imigrantes são cada vez mais comuns.
O pacote do FMI aprovado ontem prevê cortes em aposentadorias e salários, cortes no Judiciário e mudanças na Constituição grega para facilitar o pagamento da dívida. Enquanto isso, a população mantém a revolta antiausteridade. Uma nova greve geral dos transportes públicos está marcada para amanhã em Atenas.
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