segunda-feira, 5 de março de 2012

Os chineses estão se armando — e é fácil entender por quê

Pequim anuncia novo aumento de seu orçamento de defesa. Países como EUA, Japão e Índia acompanham com preocupação a ascensão do gigante asiático a potência militar.
Os gastos chineses com a defesa em 2012devem chegar ao equivalente a 83 bilhões de euros, conforme comunicado do presidente do Congresso Nacional Popular, Li Zhaoxing, divulgado um dia antes da reunião anual do grêmio em Pequim.
No início dos anos 1920, o escritor britânico Bertrand Russell passou alguns meses na China, num ciclo de palestras. Ao voltar ao Reino Unido, Russell escreveu um livro sobre o que viu, chamado “O Problema da China”.
Russell afirmou que a China poderia se tornar o maior país do mundo – desde que se tornasse militarmente mais forte. Naqueles dias, a China era virtualmente ocupada pelas potências ocidentais, depois de ter sofrido sucessivos reveses em guerras no século 19 exatamente por falta de cultura bélica. (No pior deles, nas chamadas Guerras do Ópio, a Inglaterra impôs que os chineses deixassem a droga ser vendida livremente no país. O ópio, produzido na Índia, era a espúria contrapartida que a Inglaterra encontrara para equilibrar seu comércio com a China, de quem consumia chá, seda e porcelana.)
As reflexões de Russell, quase cem anos depois, podem ajudar a entender a barulhenta controvérsia destes dias em torno do orçamento militar chinês. Como a economia do país, os gastos com a defesa têm crescido a uma taxa anual na casa dos dois dígitos.
Os Estados Unidos protestam, talvez por imaginarem que a China seja como eles mesmos. Mas não poderia haver duas culturas mais diferentes: a americana é a do consumo, da ganância, da ostentação e da dominação exploradora. A chinesa, derivada de Confúcio, é pacífica, centrada na educação dos jovens, respeito aos velhos e lealdade com os amigos.
Os chineses não são beligerantes, historicamente.Mas tolos também não são. Aprenderam com o passado em que sofreram sucessivas agressões.
Veja o que diz num editorial o jornal chinês Global Times, que reflete o pensamento do governo: “Sem uma defesa formidável, os sentimentos irracionais contra a China podem piorar, e se converter em ação. Na condição de maior potência militar, os Estados Unidos colocaram a China no centro de sua estratégia de defesa. A história prova que os Estados Unidos são ávidos por ações militares. Quando os americanos estão confiantes em sua superioridade, eles costumam usar a pressão militar sem nenhuma cerimônia.”
Clap, clap, clap.
Aplausos para a sabedoria chinesa. Quem acredita que o interesse dos Estados Unidos na questão do orçamento militar chinês é a paz acredita em tudo, como disse Wellington.
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