Mas, por incrível que pareça, foi com a “conquista do oeste” (o faroeste dos filmes de bang bang) que os nortes americanos ganharam o imaginário ocidental como os “bom mocinhos”. Os “civilizados” contra os “incivilizados”. Desde então, os EUA combateram inúmeras guerras, despejaram duas bombas nucleares no Japão, combateram na Coreia, no Vietnã, derrotaram a ex-União Soviética, embargaram Cuba, declararam guerra ao terror, foram ao Iraque e no Afeganistão.
Isso pra não falar dos inúmeros golpes militares e o apoio aos regimes autoritários dos mais perversos em todos os continentes.
Entre altas e baixas, os EUA foram eliminando, um por um, todos os “inimigos da civilização”. Enfim, uma nação que se edificou no “sangue” e que no sangue encontrou a forma de se tornar potência planetária, até se constituir em Império, e de lá querer acabar com todos os “inimigos da civilização”. Mas agora?
Executado Saddam, deletado Bin Laden e com Kadafi linchado em mundovisão, a “civilização” estará finalmente a salvo? Ou será que o Império apontará para novos inimigos? Afinal, a luta entre o Bem e o Mal, além de um dogma espiritual, é a alma dos negócios deles. Mas quem poderá ser o próximo? Mahmud Ahmadinejād?
O presidente do Irã é o primeiro da lista. Suas culpas são infinitas. É muçulmano. Insiste em apontar a ganancia dos Estados Unidos como principal fonte dos problemas do planeta. Quer ter energia nuclear e talvez a bomba atômica, tal e qual ao Estado de Israel, que à diferença Irã é do Bem.
Para piorar, Ahmadinejad recusa-se negociar em dólares as riquíssimas fontes de energia do seu país, e como se não bastasse, mantém um sistema bancário que não se baseia em juros, definidos como agiotagem, o que para o “mercado”, é a pior de todas as heresias.
Bashār al-Assad? Tá na cara que o chefe da Síria tem os dias contados. Mas por que se nunca foi um problema para os EUA? Porque ao receber o capeta, resolveu entregar sua alma e começou a massacrar o povo. Mesmo seus opositores, organizados e armados, venham do Iraque e da Turquia, seu governo não tem futuro, será derrubado. Quem sabe, tivesse dado ouvido à psicopata americana Hillary Clinton, e assinado o tratado de paz com Israel (que é do bem), teria escapado, mas recusou. Em breve, deve morrer.
Kim Jong? O ditador norte-coreano é o mais divertido entre os “inimigos” dos Estados Unidos. Uma figura folclórica. Só serve de brinquedo aos EUA quando não têm ninguém para apelar, e aí ficam batendo nele. Mas Kim tem saúde frágil, e logo será substituído pelo filho, e aí os EUA terão que reinventar a roda.
Fidel Castro? O velho revolucionário cubano, mais do que homem do mal, é um mito vivente e mitos não morrem. Companheiro de Che Guevara, cometeu o pecado capital de promover a revolução na ilha caribenha próxima aos EUA. Entre provocações, embargues e tentativas de invasão, Cuba sofreu, mas resistiu. Agora, só resta esperar a sua morte (que pelo desespero deles demora). Quem sabe então, Cuba possa voltar aos velhos e sagrados valores do mercado, com direito aos cassinos e puteiros dos bons tempos.
Hugo Chavez? Os Estados Unidos costumam representá-lo como o próprio Diabo. Satanás em pessoa. De fato, Chavez é um prato cheio para quem está de olho na fartura de petróleo da Venezuela. Por isso, é grande a probabilidade de se tornar o alvo de uma futura “operação humanitária”. Mas por sua sorte, as atenções americanas ainda estão concentradas no Oriente Médio e Chavez pode ficar “relativamente” tranquilo e cuidar de sua saúde em paz. Por enquanto, claro.
O russo Vladimir Putin e o premiê chinês Hu Jintao, por representarem os maiores países concorrentes da hegemonia americana, podem vir a ser os próximos. Pois, mais cedo, mais tarde, se tornarão um sério quebra-cabeça politico por Washington. Se, por ventura, aquele dia vier a ocorrer, será o pior confronto mundial de todos os tempos e o mundo finalmente conhecerá sua verdadeira paz, a Paz Celeste.
Sorte de todos nós, que ainda não será agora. Além desses, deve haver muitos outros inimigos da “civilização ocidental” por aí. Mas que só irão aparecer de acordo com os interesses circunstanciais dos Estados Unidos. Enquanto escrevo isso, Barak Obama acaba de anunciar o envio de tropas militares a Uganda. Mais uma “missão humanitária” para acabar com as violências que matam homens, mulheres e crianças na África Central. Uganda? Sim, em Uganda, onde foram descobertas reservas de petróleo da ordem de 2 bilhões de barris, em uma região que faz divisa com o Sudão do Sul, um “novo” país, recentemente “criado” pelas tropas americanas da ONU (Africom) e detentor das maiores reservas africanas de petróleo, depois da Líbia.
Coincidência não é? De saída do Iraque os “bons mocinhos” tinham que ir ao encontro de seu glorioso destino: a civilização do continente africano. Entenderam agora? Seja através do lexotan de Barak Obama, ou com os supositórios de G.W.Bush, a luta continua. Os Estados Unidos querem civilizar o mundo. Nada mais do que isso.
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* Sociólogo, reside em Santarém. Escreve regularmente no Blog do Jeso.
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