por Tiberio Alloggio (*)
A morte física talvez seja a ocorrência que mais aterroriza o ser humano. A “ideia do fim” é para nós tão pavorosa, insuportável, que gastamos nossas vidas recusando-nos de pensar nela de uma forma lógica e racional.
A morte não é apenas um evento acidental, imprevisível, que interrompe um percurso. É um fenômeno totalmente natural, fundamental para a manutenção da vida, irreversível e inevitável. A morte, assim como a vida, é um “processo”.
Assim como a morte, a falência de uma Nação (default) não é apenas um fato pontual. O default também é o resultado de um processo, o ponto final, no qual, uma sociedade, declara que não poderá mais pagar suas contas. O que inevitavelmente, trará o caos no país devedor, gerando pânico nos países credores e no mundo afora.
Mesmo que o default (como a morte) possa nos aparecer como algo de impensável e terrível, vivemos em tempos onde esse fenômeno já ocorre em algumas nações e está prestes a ocorrer em outras zonas geográficas do nosso velho mundo.
Se observamos o fenômeno do default sob a lógica do processo, veremos que já são muitos anos que o mundo vem sendo afetado por turbulências financeiras, que cada vez mais estão reduzindo a capacidade de nos defendermos de eventos dessa natureza.
Para conter os danos, podemos, sim, tentar amenizar essas crises com acordos que distribuam os ônus do default entre devedores e credores. Mas, convenhamos, o default não é uma crise qualquer, trata-se da maior contração da circulação monetária, dos investimentos, da produção, da ocupação, da renda, do poder de compra e da fuga irreversível de capitais, e sobretudo, da impossibilidade a longo prazo em recorrer a novos empréstimos.
Enfim, um olhar mais atento sobre as turbulências que sacudem o nosso mundo, captará que mais do que um efeito, estamos vivenciando os fenômenos que precedem e preparam o default.
Pegamos o caso da Grécia. Desde que o governo grego tornou público seu balanço financeiro, todo mundo sabe que a Grécia, há mais de um ano, é um país em default. Todavia, ninguém fala ou tem a coragem de admiti-lo, nem a mídia, nem os políticos, nem os economistas e tampouco os banqueiros.
Mas os especuladores estão sabendo sim e se esfregando as mãos. Por isso, estão comprando títulos da dívida grega um terço mais barato do valor nominal, pois sabem que na hora da declaração do default, o Banco Central Europeu os recomprarás pelo dobro do preço.
Mas, então, porque não impor, desde já, um default pilotado para a Grécia?
Porque evitar o default é a grande desculpa das instituições financeiras para poder estrangular a Grécia. A mentira com a qual o FMI e o Banco Central Europeu irão depredar sua economia, ou melhor, farão com que a especulação financeira internacional (que é quem manda de verdade) a saqueie até o último centavo.
Empregos, salários, aposentadorias, saúde, educação, serviços públicos, praias, ilhas, portos, monumentos, tudo estará a venda (a preços de sucata) para levantar o “valor” a ser devolvido aos credores, presenteando a especulação financeira com os bens comuns de um país inteiro.
Durante décadas, mesmo que seja só para pagar juros e renegociar seus vencimentos, a Grécia não terá mais como pagar sua dívida. Esse é o default como processo.
Talvez a situação poderia mudar se os governos mudassem as regras de governança sobre aquela santidade chamada “mercado”. Mas nada disso está acontecendo e nada deixa pensar que isso possa acontecer.
O que ocorre mesmo é exatamente o contrário, os governos correspondendo aos interesses dos “mercados”, aceitando como fato cumprido a transferência da “soberania popular” para essa estranha entidade conhecida como “mercado”.
Crise nos Estados Unidos, crise da Zona Euro e primeiros sinais de crise na China, sem esquecer o nexo entre a crise econômica e a impossibilidade ilimitada do crescimento.
O que será do mundo nos próximos 20 anos?
Estariam se concretizando as previsões do grande mestre Karl Marx? O tempo da autodestruição do capitalismo pela concentração excessiva da riqueza e da renda estaria próximo? O mundo estaria acabando por isso?
Temos crises, sim, mas também temos as revoluções na África do Norte e nos Países do Médio Oriente, além de um movimento mundial que enfrenta a ditadura do “mercado” no seu próprio coração.
Algo está morrendo, mas algo também está nascendo.
O consolo é que estamos tendo a sorte de viver em tempos como esses, pois teremos o privilegio de poder observar muitos acontecimentos históricos, todos eles ocorrendo num curto espaço de tempo.
E a impressão que fica, é que todos estes acontecimentos sejam a introdução para algo maior….. Mas o quê? E aqui fica a pergunta.
* Sociólogo, reside em Santarém. Escreve regularmente no Blog do Jeso
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