A notícia de que a Polícia Federal prendeu 35 pessoas, entre elas integrantes da cúpula do Ministério do Turismo, funcionários de alto escalão ligados ao PT e ao PMDB, sob acusação de envolvimento em fraudes num convênio entre a pasta e uma ONG sediada em São Paulo, caiu como uma bomba na última terça-feira (9) em Brasília.
A aparatosa operação dfa PF deu lugar a nova crise política na base de sustentação do governo da presidente Dilma Rousseff, com um ingrediente explosivo a mais. Desta vez, o atingido não é apenas um partido periférico e conotado como recorrente em práticas irregulares na Esplanada dos Ministérios. Mas simultaneamente os dois principais partidos da base aliada, o PMDB e o PT, e com o agravante de que, no caso do PMDB, atinge aliados do presidente do Congresso, José Sarney, do líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, e a senadora e pré-candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy.
O motivo da operação, segundo a Polícia Federal, que diz ter provas “robustas” das acusações, foi o desvio de cerca de R$ 3 milhões repassados ao Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável) para capacitação de pessoas para atividades turísticas no Amapá.
Entre os presos está o secretário-executivo do ministério, Frederico Silva da Costa, número 2 do Turismo, que está na pasta desde 2003. Costa é ligado ao líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves. Outro preso é Mário Moysés, secretário-executivo na gestão anterior e que também presidiu a Embratur. Ele chegou ao ministério na gestão da ex-ministra, hoje senadora do PT, Marta Suplicy. E foi seu assessor quando ela era prefeita de São Paulo. Moisés foi também funcionário do jornal paulistano Folha de S. Paulo.
Outro preso é Colbert Martins, ex-deputado federal pelo PMDB da Bahia, ligado a Gerddel Vieira Lima, cacique do PMDB baiano.
Diante da repercussão política negativa e da crise que gerou na base aliada, o governo considerou a ação “atabalhoada”. A presidente Dilma reclamou de falta de informações sobre a operação por parte do ministro da Justiça. José Eduardo Martins Cardozo. Às mesmas conclusões chegaram os ministros do núcleo político do Planalto Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Casa Civil, e Ideli Salvatti, da Articulação Política.
Líderes do PT e do PMDB e do governo consideraram as prisões abusivas. Os ministros negaram a participação do governo.
O líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que "houve abuso de poder do Judiciário e do Ministério Público".
A ministra Ideli Salvatti disse esperar que a Polícia Federal não cometa abusos, mas fez questão de sublinhar que nem a presidente Dilma tinha conhecimento da ação.
O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), após falar com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse aos líderes do PMDB que não havia motivação política do Planalto.
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman tranquilizou o ministro do Turismo, Pedro Novais, afirmando que o governo tem por princípio defender seus ministros. Ele chegou a cogitar pedir demissão, mas limitou-se a determinar a suspensão temporária de convênios do ministério.
A ministra Ideli Salvatti também defendeu Novais: "O convênio base da investigação é de 2009. Portanto, o ministro Pedro Novais não teria participação nesse convênio", afirmou Ideli.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) saiu em defesa de Mário Moysés, preso na operação de ontem da Polícia Federal. "É um absurdo. O Mário Moysés é uma pessoa corretíssima, não estou entendendo nada", disse.
Questionada sobre possível motivação política, para atingir sua pré-candidatura a prefeita, reagiu: "Não tenho ideia do que seja, que coisa está sendo armada".
O caso dá munição à oposição e à mídia na sua campanha para escandalizar a política e exigir a convocação da “CPI da corrupção” e cria ambiente de desconfiança no seio do governo.
Lula
Luiz Inácio Lula da Silva disse sobre as denúncias que a única chance que alguém tem de não ser investigado é "não cometer nenhum delito". Ao mesmo tempo, afirmou: "Na medida em que você tem dez acusados e oito são culpados e dois inocentes, você diga que dois são inocentes e oito culpados, porque muitas vezes a devassa é feita antes de provar que as pessoas realmente cometeram todos os erros". O ex-presidente declarou, no entanto, que o Tribunal de Contas da União, a Controladoria Geral da República e a Polícia Federal agem com seriedade.
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