quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os piratas de Marajó

No sul, conflitos no campo e, ao norte, ações de piratas. Segurança pública no Pará tem a ajuda de lanchas e búfalos no maior arquipélago fluvial do planeta.

Carta Capital

O navio trefegava pela foz do rio Camará, próximo à ilha de Groa Grande, no arquipélago de Marajó, quando um barco metalizado se aproximou. Armados com revolveres e escopetas, os cinco assaltantes se aproximaram da embarcação e, disparando os primeiros tiros, renderam o comandante. Pouco depois, já a bordo, espalharam pânico entre os 186 passageiros que seguiam viagem. Os piratas, como estão sendo chamados pelo próprio governo paraense, levaram objetos pessoais, celulares, dinheiro e equipamentos eletrônicos.
Uma semana depois, em 22 de junho, outra embarcação, esta conhecida como Arca da Aliança, foi invadida por três assaltantes durante a madrugada enquanto navegava pelas águas do Furo da Jararaca, na Baía do Marajó, entre os municípios de Muaná e São Sebastião da Boa Vista. O navio levava 45 pessoas. Durante a ação, os piratas mataram uma passageira de 20 anos, identificada como Rafaelen Sousa Cavalcante. O tiro fatal foi disparado, segundo a polícia, após um dos piratas agredir um tripulante com uma coronhada, o que acabou acionando a arma. Era a segunda morte provocada em assaltos nos rios da região desde março, quando uma ação semelhante vitimou o barqueiro Lourivaldo Pinheiro Gonçalves, de 23 anos.
A onda de assaltos na maior bacia hidrográfica do mundo é hoje um dos principais desafios em um Pará envolto em dificuldades para garantir a segurança da população em áreas onde o Estado é quase figura decorativa, como provam os conflitos agrários que deixaram ao menos cinco mortos nos últimos dois meses – entre eles o casal extrativista José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, no assentamento de Nova Ipixuna, a mais de 700 quilômetros da área dominada pelos piratas. 
A região parece o cenário ideal para os crimes, promovidos geralmente durante a madrugada e conduzidos por quem já não compete com a bandidagem por terra.
Nas contas da polícia, existem ao menos 5 mil embarcações que trafegam pelos rios paraenses. Tudo no local parece superlativo. Só na ilha de Marajó existem 3 mil ilhas e ilhotas. São 50 mil quilômetros quadrados só na ilha principal, o equivalente a 33 cidades do tamanho de São Paulo: um esconderijo entre rios e florestas que funcionam como rota de fuga para os assaltantes. Do outro lado, a segurança é quase rudimentar. A precariedade do policiamento é ilustrada pela ronda ostensiva feita com a ajuda até mesmo dos búfalos, o símbolo máximo de Marajó. Parece piada, mas não é: em Soure, cidade de 23 mil habitantes da ilha, dez animais são usados pela Polícia Militar num agrupamento chamado de Bufalaria da PM, que atua há quase 20 anos na cidade.
No site do governo paraense, um policial garante que os búfalos respeitam o comando e são ótimos para tração em áreas alagadas – o que seria, segundo ele, uma vantagem em relação aos cavalos. Falta combinar com os bandidos que, em terra, tem como especialidade o roubo de gado.
Para o combate nos rios, o governo lançou, no mês passado, um grupamento fluvial especializado em ação dos piratas, que reuniu homens das policias Militar e Civil. A iniciativa conta com lanchas de apoio e rádio para comunicação.
As primeiras prisões, no entanto, foram feitas por terra. Em 16 de junho, cinco suspeitos do assalto aos 186 passageiros na Groa Grande foram detidos – uma mulher e quatro homens, entre 22 e 44 anos – em uma ação realizada nos bairros Pratinha I e II em Belém. Com eles, a polícia paraense encontrou os objetos roubados dos passageiros e tripulantes, como aparelho de som, joias, pulseiras e até anel de brilhantes. Em depoimento, os detidos disseram que a ação rendeu para cada um de 800 a 900 reais.
LEIA MAIS
_________________________

Nenhum comentário: