segunda-feira, 25 de julho de 2011

Amy


Onde você vai estar daqui a dez anos?, perguntou o jornalista.
Era fevereiro de 2004, e Amy Winehouse acabara de surgir para o mundo com seu talento assombroso e versátil de cantora e compositora. Ela estava concedendo uma de suas primeiras entrevistas. Foi publicada no Observer, jornal britânico que circula aos domingos. Nela, Amy já mostrava sua candidez, sua franqueza desconcertante. Fez o elogio do sexo casual, e confessou que jamais ouvira seu primeiro disco inteiro, da primeira à última faixa. Disse também que não o tinha em casa.
“Não vou mais estar nisso”, ela respondeu. Amy, aos 20 anos, se referia à música. “Vou estar casada e cuidando de meus sete filhos.”
Foi outro o seu caminho que não o casamento e filhos.
Sua avassaladora marcha rumo à autodestruição foi pública. A bebida e as drogas foram tomando um tal espaço em sua vida que a música foi ficando para trás.
A cantora que se imaginava que fosse encantar o mundo por muito tempo passou a aparecer no palco quase sempre em situação lastimável. Errava as letras, se atrapalhava, cambaleava. Não escondia um copo ou uma garrafa.
Mesmo com uma banda de apoio fenomenal – como esquecer os dois cantores de apoio? – ela simplesmente já não conseguia fazer uma apresentação. A última, na Sérvia, dias atrás, terminou em vaias porque Amy estava completamente fora de si.  A intenção de fazer uma turnê européia foi abortada logo no primeiro concerto.
Amy com apenas dois discos entrou para a história. Suas músicas tão confessionais percorrerão os tempos – e serão o testemunho eterno da tragédia de uma menina em quem o talento precoce e incomparável só encontrou paralelo numa dor tão intensa, tão completa, tão voraz que a levou a procurar obsessivamente o único refúgio que ela imaginou que pudesse aplacá-la: a morte.
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