terça-feira, 29 de março de 2011

O petróleo, ainda ele

por Tiberio Alloggio (*)

Quando o muro de Berlim caiu, até aqueles como eu, que achavam que sua queda não fosse apenas o resultado da fome de democracia, mas sim da globalização, não tiveram nenhuma saudade de Stalin, Breznev e do Império Soviético.
Por isso, da mesma forma, não vamos hoje chorar por Kadafi, mesmo sabendo que amanhã poderemos nos acordar com mais um fantoche parido por mais uma guerra “humanitária” do imperialismo norte-americano.
Portanto, além de prestar nossa maior solidariedade à rebelião na Líbia, que se somou a esperança da “primavera árabe”, devemos também redobrar nossa atenção para os movimentos imperiais das grandes potências. Afinal no Egito, a nova constituição não correspondeu em nada às exigências das mobilizações populares. Enquanto na própria Tunísia, ainda persiste um clima de confusão em relação aos desfechos democráticos. Infelizmente, em ambos os países, a rebelião ainda está longe de se tornar uma “revolução”.
Nesse contexto, o drama líbio aparece ainda mais complicado. E a piorar a situação, eis aí a intervenção militar, apesar da oposição de Alemanha, Rússia, Índia, China e do Brasil.
Sem chorar para Kadafi, então, mas também sem as hipocrisias que preenchem as análises dos meios de comunicação, nessa guerra ideológica e midiática que acompanha a batalha pelo controle do petróleo da Líbia.
Isso ficou claro nas palavras do presidente Obama quando, em terra brasileira, deflagrou o conflito declarando: “Não estamos entrando numa guerra, apenas estamos cumprindo uma ação humanitária autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU”. Foi dessa forma hipócrita que começou a verdadeira guerra da Líbia.

De novo aquele velho cheiro de enxofre, exalado da nação supostamente “mais democrática do mundo”, que embora use e abuse de “desodorantes”, continua entupindo o nosso nariz com seu prepotente fedor.
Se o Brasil teve a coragem de se abster na ONU contra mais uma loucura do Império, o “Prêmio Nobel” Barack Obama, em plena visita ao Brasil, teve a insolência de ordenar os bombardeios na Líbia. Uma afronta ao Brasil.
Uma chuva de “bombas humanitárias” justificada como proteção ao povo líbio, mesmo na evidência que nunca houve negociação com a Líbia, e sem nenhuma missão diplomática da ONU. Enfim, na total ausência de uma pressão diplomática real, que impusesse o cessar dos combates em solo líbio.
Uma enorme desproporção entre as palavras e os fatos, que obrigou a Liga Árabe a voltar atrás, colocando em discussão a “interpretação” dada ao artigo 41 da resolução que autorizou a missão militar.“O que queremos é a proteção dos cidadãos, não o bombardeio de outros cidadãos”.
Uma fúria essa dos Obama, Sarkozy e Cameron da vida, que não se justifica com a queda de ditador nenhum e ainda mais com a defesa dos direitos humanos. Se essa é a defesa dos “direitos humanos” por que não bombardeiam também o Yemen? E o Bahrein?
A sorte da Líbia de ter o petróleo se tornou agora a sua desgraça, especialmente hoje, após o apocalipse nuclear japonês, que tornou “ouro negro” ainda mais vital para a economia do Império.
É a revigoração do velho imperialismo, para o qual o petróleo tornou-se um produto maximamente imperial, desencadeando a cobiça de norte-americanos e anglo-franceses.
Se até ontem a Líbia de Kadafi não passava de um empecilho (como tantos outros) que o Império podia suportar, agora, na onda da rebelião líbia, tornou-se uma gorda ocasião para fechar a parêntese kadafiana. Uma oportunidade única para a “redistribuição” do “ouro negro” entre os “libertadores”.
Ainda não dá para para dizer como se dará a repartição do butim líbio entre as grandes potências, pois temos consciência que “para o pior, nunca existe fim”.
Mas uma coisa já dá para afirmar: Barack Obama não passa de um George W. Bush Jr. disfarçado atrás de um sorriso sonso. A lógica é a mesma. A única diferença entre eles é a cor da pele.
O Brasil, que se cuide. Amazônia e pré-sal estão aqui. Arnold Schwarzenegger também.
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* Sociólogo, reside em Santarém. Escreve regularmente no Blog do Jeso.
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