por Tiberio Alloggio (*)
Os donos do poder nunca digeriram a “liberdade de informação”. É um conceito de difícil compreensão para quem olha o mundo de cima pra baixo. Mas todos eles, democráticos ou totalitários, já haviam se acostumando a lidar com ela, cooptando e domesticando os meios de comunicações.
Mas para atormentar a vida do Império Norte-Americano e seus vassalos, eis que surgi algo de “imprevisível”, A INTERNET, que pelo fato de não poder exercer o controle sobre ela, se tornou uma espécie de espada de Dámocles, em cima de quem se garante através de mentiras e meias verdades, escondendo tudo aquilo que possa se tornar uma “verdade incômoda”.
Ainda mais nos dias de hoje, vivenciados por uma rede virtual repleta de fontes de informações independentes.
E foi justamente com a publicação de milhares de “documentos secretos”, no site do Wikileaks, que as elites mundiais e as corporações jornalísticas que os encobrem foram pegas de saia curta.
Um dia ou outro teria que acontecer.
Wikileaks é um site criado em 2007, gerido por uma fundação se fins lucrativos, com sede legal na Alemanha e que opera na Suécia. É uma organização composta de apenas cinco funcionários, com cerca de 800 colaboradores e milhares de voluntários (jornalistas, especialistas em informática, advogados, etc.) espalhados pelo mundo afora.
Os “donos da informação” nos escondem que o Wikileaks foi criado por dissidentes chineses, aos quais juntaram-se ativistas da internet e defensores da livre comunicação, no intuito de difundir as informações que os governos, as multinacionais e as corporações midiáticas escondem à população.
É um enorme volume de informações que chegam via internet, criptografadas por uma tecnologia de ponta e colocadas à disposição de quem tem compromisso com a verdade.
Apesar de ter sofrido (desde o início) inúmeras tentativas de cooptação, Wikileaks nunca abriu mão de seus princípios. Incansável, insiste em denunciar as ingerências dos poderosos, os abusos, as torturas e os assassinatos no mundo todo. Desde a corrupção do presidente do Kenya, à reciclagem do dinheiro sujo nos bancos suíços, até as atrocidades cometidas pelos norte-americanos em suas guerras sujas.
Por suas atividades, Wikileaks já recebeu numerosos prêmios internacionais e é por causa do prestígio alcançado que agora preocupa os poderosos do mundo.
Por isso, os governos e os monopólios midiáticos tentam denegrir a credibilidade do Wikileaks e da informação independente. Mas os 70 mil documentos sobre o Afeganistão e os 400 mil sobre o Iraque, são originais e todos vazados “de dentro” da máquina mortífera norte-americana.
O governo de Barack “Ibroma”, através de Hillary Clinton, condenou a publicação dos documentos, sem dar um pio sobre a matança de milhares de civis e os inúmeros episódios de tortura praticados pelo exercito dos EUA.
Enquanto isso, a mídia dominante faz qualquer coisa para agredir o diretor do Wikileaks, Julian Assange, e desconstruir sua reputação. É aquela velha prática de atacar o mensageiro para esconder a mensagem. Um método sujo para neutralizar a verdade.
Assim fez o presidente Nixon com Daniel Ellsbergem em 1971. O homem que publicou os dossiês do Pentágono sobre os crimes da Guerra do Vietnã que mudaram a opinião da população sobre a guerra. Hoje, é o próprio Ellsberg que acompanha Assange em todas às entrevistas à imprensa.
A Fox News chegou ao cúmulo de se pronunciar a favor do seu assassinato e o New York Times atacou Assange através dos mesmos “jornalistas” que publicaram o falso dossiê sobre a suposta descoberta de armas de destruição de massa no Iraque.
Assange, hacker militante e ativista político, acabou transformado em uma personagem de romance policiesco. Um homem perseguido pelo Império, “marcado” pelo “FBI” e pela “CIA”, e obrigado a viver em semi-clandestinidade para fugir dos governos que procuram todo tipo de pretexto para algemá-lo e/ou silenciá-lo.
Um herói dos nossos tempos, líder de uma organização de voluntários da livre informação que recebe, de fontes anônimas, os secredos de um mundo corrupto.
Um pequeno “Davi” que enfureceu todos os “Golias” que não têm vergonha de seus crimes, mas que tem pavor que as “informações” possam abrir os olhos de quem os elegem e pagam seus honorários.
Mesmo que a consciência das grandes massas ainda não tenha sido alcançada, estamos assistindo a um acontecimento histórico, que fere o coração dos que dominam o mundo, e gozam da liberdade de fazer o que bem quiser. Até massacrar civis e usar a tortura, como no Iraque e no Afeganistão.
Preparam-se, pois Wikileaks está mudando a relação entre o cidadão e o poder, colocando em choque o filtro da grande mídia que escolhe como, quando, e o que publicar, sempre de acordo com os interesses do poder.
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* Sociólogo, reside em Santarém. Escreve regularmente no blog do Jeso
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