sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Julian Assange e o WikiLeaks

Sabe-se muito pouco dele além do nome, Julian Assange.
Nasceu na Austrália em julho de 1971, foi hacker e diz, napoleonicamente, querer “reformar a civilização”. 
Troca de celular como as pessoas trocam de camisa, segundo um jornalista americano, e se hospeda nos hotéis com nomes falsos.
Ele é cofundador e editor de um site que até bem recentemente vivia na semiobscuridade e em estado quase falimentar, a ponto de suplicar por donativos para conseguir ficar no ar. A missão do site, o WikiLeaks, aparece em duas palavras em sua página no Twitter e traduz a alma messiâ­nica do editor: “Abrir governos”.
Assange tem fala mansa e baixa, mas é singularmente intrépido nas ações. Numa de suas raras entrevistas, afirmou que tem um prazer especial em “esmagar canalhas”.
Como diz o nome, a inspiração do site vem da Wikipédia e seu espírito de colaboração. Fundado em 2007, o WikiLeaks, segundo Assange, especializou-se em permitir a pessoas “censuradas”, sobretudo jornalistas investigativos, que publiquem sob completa confidencialidade informações consideradas importantes.
Por trás do site está a Sunshine Press. É uma organização financiada por ativistas de direitos humanos, jornalistas investigativos, gente do mundo da alta tecnologia e o público em geral.
O site não trabalha com conteúdo impresso.“Em três anos, o WikiLeaks já deu mais furos que o Washington Post nos últimos 30”, comentou alguém, na semana passada, diante da produtividade investigativa do WikiLeaks.
Assange e o WikiLeaks ganharam notoriedade planetária em abril de 2010.
O motivo disso foi a divulgação, pelo WikiLeaks, de dois vídeos com áudio que mostram o ataque, a partir de um par de helicópteros Apaches do Exército americano, a um grupo de pessoas em Bagdá, a capital do Iraque.
Um dos vídeos é extenso, o outro é a versão curta. Era julho de 2007, e os disparos mataram 12 pessoas, além de ferir duas crianças. Entre os mortos estavam dois funcionários da agência de notícias Reuters; um fotógrafo, de 22 anos, e seu assistente e motorista.
A câmara do fotógrafo foi confundida com uma arma e a turma toda, que vinha caminhando pelas ruas de Bagdá, foi tomada como “insurgentes”, a designação dos que combatem a presença americana no Iraque.
O episódio foi catalogado na época pelo Exército americano de maneira categórica: “Não há dúvidas de que os soldados dos helicópteros estavam claramente engajados numa operação contra uma força hostil”.
Os vídeos do WikiLeaks, e isso é um ponto inquestionável, estão longe de confirmar essa afirmação. Em dois dias, a versão curta já tinha sido vista mais de 4 milhões de vezes no YouTube e suscitara questionamentos sobre um sem-número de temas, da guerra em si e do papel dos Estados Unidos no mundo moderno ao jornalismo investigativo na era digital.
Ainda em julho de 2007, a Reuters teve acesso ao material, que lhe foi apresentado “off-the-records”. É uma informação que alguém (uma fonte) passa a jornalistas para que eles saibam, mas não publiquem. Era um conteúdo classificado pelo governo americano como “confidencial”.
A Reuters tentou obter autorização para publicar o que vira, com base na Lei de Acesso às Informações. Nada. Posteriormente, também o jornal The Washington Post teve o material. Outra vez, nada.
A imobilidade de grandes organizações de mídia abriu o caminho para que o WikiLeaks de Assange e um punhado de voluntários conquistassem celebridade jornalística instantânea e globalizada em poucas horas.
Calar o WikiLeaks é virtualmente impossível para governos ou organizações que gostariam de silenciá-lo.
O site está hospedado em servidores de diversos países. Um deles é a Suécia, onde uma lei obriga a confidencialidade das fontes. É exatamente ali, na Suécia, que Assange enfrenta agora dramáticos problemas jurídicos: duas mulheres suecas o acusaram de violência sexual.
Ele está foragido. Especula-se que esteja na Inglaterra. Assange afirma que por trás das acusações está o governo americano, numa vendeta. 
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