-Você, não. Senhor.
-Hãã…o senhor é o senhor Cloaca, não é?
-Até prova em contrário. E enquanto as pragas não pegarem…
-Será que voc…o senhor poderia me dar uma palavrinha?
-Uma só? Pode ser um adjetivo?
-Na verdade, tenho algumas perguntas…
-Então, por que pediu uma palavrinha em vez de perguntar se podia fazer algumas perguntas?
-É que…,como voc…o senhor vê, sou novo nisso.
-Não vi nada. Mas vejo que você tem um crachá da Folha.
-É, pois é.
-É seu mesmo? Deixe-me ver a foto…
(Cara, crachá, cara, crachá, cara, crachá)
-Não repare muito, senhor Cloaca.
-Vem cá, você é sobrinho da Tia Lenita?
-Quem?
- Deixa para lá…
- Mas, senhor Cloaca…as perguntas…
- Ah, sim, claro!
- Voc…o senhor não acha que o Presidente Lula está querendo censurar a imprensa?
- Não, não acho. De onde você tirou essa ideia estapafúrdia?
- É que me mandaram perguntar…
- Você acha isso?
- Sabe, eu sou apenas um operário da mídia…
- Estou vendo. E vamos deixar claro que não tenho nada pessoal contra você, meu caroooo… qual é mesmo seu nome?
- (mostra o crachá) Breno. Breno Costa. E o seu?
- Senhor. Senhor Cloaca.
- Sei. Mas o seu nome verdadeiro…
- Isso não é importante. Sequer sou famoso.
- Mas agora está famoso, não é?
- Quem está famoso é o Senhor Cloaca.
- Mas, essa história de o Presidente Lula querer calar a imprensa…
- Que história, rapaz?
- O Lula atacou a imprensa, oras!
- O que o Presidente Lula fez foi manifestar suas ideias a respeito de como certa imprensa o tem tratado. Isso não é atacar a instituição Imprensa. Aliás, se você viu a entrevista que ele acabou de dar para os blogueiros…
- Uma entrevista chapa-branca, não é?
- Chapa-branca? Pode me citar algum exemplo?
- Bem…veja bem…ãããnnn…
- Escuta, não está na hora do seu Toddynho?
- Que horas são?
- Exatamente, meio-dia e quarenta.
- Então, a censura à imprensa…
- Olha, meu filho, a mesma liberdade que certa imprensa tem de publicar o que quiser contra o Lula tem o Lula de dizer o que pensa daquilo que publicaram contra ele. Ou a Imprensa não pode ser criticada?
- Não é isso…é que…
- Seu jornal, por exemplo, teve toda a liberdade de publicar que o Lula é assassino e estuprador.
- Veja bem…quer dizer…
- Seu jornal chamou a ditadura de ditabranda.
- É, isso é verdade.
- O que é verdade?
- Meu jornal chamou a ditadura de ditabranda.
- E você trabalha lá.
- Como eu disse, sou apenas um operário…
- Objetivamente, o que você saber de mim, que já não saiba?
- Voc…o senhor trabalha onde?
- Você vai publicar exatamente o que eu disser, não é?
- Sim.
- Assessoro políticos do PT-RS, mas vou evitar o assunto.
- É verdade que, na hora da foto, o Lula disse: vem cá, ô Cloaquinha”?
- Sim, é verdade, ele disse.
- E o senhor fez o quê?
- Nada. Apenas fui.
- Não vai se gabar disso?
- Vou, sim. Estou até pensando em botar uma placa no pescoço com os dizeres: O Lula me chamou depois: ‘Vem cá, ô Cloaquinha!’
(Toca o celular. “Alô, mamãe! Como? Acabou??? Tudo bem, pode ser Ovomaltine!” Desliga o celular)
- Bem, obrigado pela entrevista, senhor Cloaca, mas estão me esperando para o almoço.
- Também vou indo. Até a próxima, Breno! E, olha, não aceite doces de estranhos na rua, tá?
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