2006: Como a Globo ajudou a levar para o segundo turno
Por Luiz Carlos Azenha
O texto abaixo trará apenas uma novidade (considerável) para os leitores habituais do site.
Mas é importante repetir a história, especialmente para os leitores que chegam agora.
Em 2006 eu era repórter especial da TV Globo baseado em São Paulo. Fui escalado para cobrir as eleições presidenciais. Foi minha primeira experiência no gênero. Fui destacado para acompanhar o candidato Geraldo Alckmin.
Mas antes, durante as denúncias que pipocaram por causa do mensalão, comprovei em Goiás caixa dois do PT. O assunto foi parar em Brasília. Na hora agá, o denunciado abriu os arquivos e disse que tinha dado dinheiro a todos os partidos. A partir daí, o assunto morreu.
O incômodo que eu e muitos colegas sentimos nasceu mesmo na campanha. Eu friso muitos porque a Globo quis fazer parecer que eram apenas dois gatos pingados. Na minha contabilidade, pelo menos dez profissionais da emissora demonstraram abertamente que estavam alarmados com o andamento da cobertura.
Conversávamos abertamente a respeito, na redação.
Como jornalistas experientes, sabíamos detectar as nuances na cobertura da emissora:
1. Marco Aurélio Mello, editor de Economia do Jornal Nacional, nos contou que tinha recebido ordens do Rio para “tirar o pé” das reportagens econômicas que poderiam ser vistas como positivas para Lula, que buscava a reeleição;
2. Alexandre Garcia, comentarista de Brasília, começou a aparecer em programas de entretenimento para fazer análises eleitorais;
3. Todos os sábados, o Jornal Nacional repercutia as capas com denúncias da revista Veja ao governo, sem checar se as informações eram ou não verídicas;
4. Nos 50 segundos diários de cada candidato, muitas vezes a emissora repercutia as denúncias que havia apresentado contra o governo. Assim, eram três candidatos (150 segundos) pedindo explicações ou fazendo acusações ao governo (Geraldo Alckmin, Heloisa Helena e Cristovam Buarque) e 50 segundos de “defesa”.
5. Só entravam no ar denúncias contra o governo, o que levou o repórter Carlos Dornelles a fazer um protesto público. Colegas se reuniram para pedir isonomia ao editor regional de São Paulo. Como resultado do protesto, fui encarregado de fazer uma reportagem sobre o escândalo das ambulâncias, que envolvia aliados do candidato ao governo paulista, José Serra. A reportagem nunca foi ao ar.
6. Na semana do primeiro turno, a Globo bombou no ar as denúncias que envolviam o candidato do PT ao governo de Pernambuco, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, mas escondeu que aliados de José Serra estavam envolvidos no mesmo escândalo.
Aqui, a novidade: diante de tal descalabro, um colega chegou a ligar para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para denunciar que a Globo se empenhava em levar a eleição para o segundo turno.
E a Globo ajudou a levar, com a colaboração dos aloprados petistas, do delegado Edmilson Bruno e por causa da ausência do candidato Lula no debate final da emissora.
A diferença entre 2006 e 2010 é que naquela época éramos dez pessoas denunciando o descalabro, de dentro.
Agora, alguns milhares já são capazes de perceber a manipulação apenas assistindo TV.
Curiosamente, em 2010 Ali Kamel não terceirizou o golpe. Pretende aplicá-lo apenas com a ajuda do mais alto escalão, no qual se inclui William Bonner.
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