quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

OBAMA ENCARA O MERCADO

Luis Nassif

Barack Obama entra no momento certo – em que o pouco tempo de mandato ainda lhe assegura cacife político – para a luta do século: a desmontagem do poder político do mercado financeiro norte-americano e mundial, consolidado por anos de trabalho intenso de propaganda, ideologia e financiamento de campanha.
A batalha tem duas frentes: o fim dos paraísos fiscais e a estatização de dois dos principais bancos norte-americanos.
A lógica determina que Citigroup e Bank of America sejam estatizados – ainda que sendo posteriormente reprivatizados. São bancos zumbis, especialmente o Citigroup, sem muita esperança de salvamento, a não ser recorrendo aos recursos dos contribuintes.
Mas não será tarefa fácil. Consumada a operação, cada passo em falso será reverberado pela imprensa. Cada mês de atraso na recuperação será atribuído à reestatização.
Como na economia é difícil definir com clareza causas e consequências, a ideologia de mercado sempre atribuiu a terceiros (políticas sociais, gastos públicos) problemas criados para beneficia-los (política de juros, política fiscal, dívida pública).
O Citigroup é fruto de uma ideologia que começou a imperar nos anos 70, da preponderância dos grandes grupos sobre o direito de concorrência. A partir da escola de Chicago desenvolveu-se o princípio de que, com a mobilidade de capital no mundo, não havia mais razão para se aplicar as leis de defesa da concorrência. Quanto maior a empresa, maiores os ganhos de sinergia. E como elas visavam sempre ampliar mercado, tratariam de trabalhar com margens pequenas. Caso extrapolassem, sempre haveria a possibilidade do surgimento de um novo competidor, do nada, turbinado por fundos de investimento, capazes de competir.
Em cima dessa lógica, em 1998 foi abolida uma lei que vinha da Grande Depressão. impedindo bancos e corretoras de se unirem. Aberto o caminho, montou-se o Citigroup e outros grandes conglomerados – que estão no epicentro da crise global.
Essa conglomerização eliminou também a racionalidade da supervisão, como lembra The Wall Street Journal. Passaram a ser regulados conjuntamente pelo Federal Reserve, pelo Escritório da Controladoria da Moeda e a Federal Deposit Insurance Corp., pela agência de seguro-depósito, pelo Departamento do Tesouro.
Agora haverá o rearranjo, a reversão do mito da conglomerização. Mas há dois cadáveres insepultos, no meio da sala.
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