"Se querem me aniquilar, marquem o dia", diz Protógenes
Protógenes Queiroz, delegado da Polícia Federal e ex-responsável pela Operação Satiagraha, que duas vezes prendeu o banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity, aproveitou palestra que fez no fim da manhã de hoje na Universidade Católica de Brasília para desabafar e criticar pessoas que, segundo ele, favorecem a corrupção no Brasil. Queixou-se de estar sendo perseguido.
- Meus celulares, computadores e pen drives foram apreendidos - disse.
A apreensão aconteceu às 5h de quarta-feira, no quarto do Hotel Shelton, no Rio de Janeiro, e no apartamento do delegado em Brasília. A PF de Protógenes investiga se ele passou informações à imprensa em 26 de abril, quando a Satiagraha foi deflagrada.
- Os quatro colegas que chegaram ao hotel aquele dia de manhã não tinham um mandado de busca e apreensão e estavam indignados de fazerem aquele trabalho. Ninguém percebe que estamos passando por uma inversão de valores em que o investigador passa a ser o investigado? -, perguntou. E foi além:
- Eu já disse para eles, se querem me aniquilar, marquem dia e hora que eu vou comparecer. Cortem os pedacinhos e joguem no oceano Pacífico, para que eu não volte para perturbar vocês.
O delegado voltou a defender a condenação do banqueiro:
- Se ele não for condenado e preso, a Justiça estará desacreditada, vai ser um estímulo à corrupção no país - afirmou.
Durante a palestra, Protógenes fez questão de repetir que a Operação Satiagraha rachou o Brasil em dois: o lado dele, com a maioria, e o de Dantas, com os poderosos. E aí aproveitou para criticar o habeas corpus concedido ao banqueiro ontem pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF):
- Daniel Dantas tumultua tudo e sempre acaba conseguindo sair de foco. A busca na minha casa foi perto da liberação de Dantas de propósito. Isso faz parte da patranha armada pelo Supremo. Lá existe o pacto do silêncio -, acrescentou.
Protógenes falou livremente sobre o que queria. Foi irônico, criticou, falou da família, e garantiu que volta à área de investigações da Polícia Federal no próximo dia 26. E diz que “há um temor pela sua volta”.
Ao final da palestra, ele levantou o tom de voz e declamou o poema "Só de Sacanagem", de Elisa Lucinda:
Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: “Não roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, Esse apontador não é seu, minha filhinha”.
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” e eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!
EM TEMPO: Em entrevista publicada pela Folha Online, o Supremo Presidente do STF, Gilmar Mendes, se recusou a comentar as declarações de Protógenes com a seguinte frase: "Não discuto com delegado".
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