quinta-feira, 15 de maio de 2008

ANALÍSES e OPINIÕES

FIM DE CASO

Por Tibério Alloggio


Lula, ao assumir o Brasil em 2003, levou para o governo algumas das jóias do movimento social, cultural e ambiental. Gilberto Gil e Marina Silva foram os casos mais emblemáticos, principalmente Marina, uma personagem de reconhecimento mundial na defesa da Amazônia e do desenvolvimento sustentável.

O desenvolvimento sustentável emergiu no mundo como uma opção, que admite o crescimento econômico, mas garantindo os benefícios para as gerações atuais e futuras. Sua causa cresceu, através do chamado "consumo justo e responsável", que não olha apenas o custo dos produtos, mas que considera o ciclo de vida e da produção como um todo, verificando se nesse ciclo a balho infantil,alnão ocorreu o desmatamento, o uso de trabalho infantil e escravo e outros procedimentos condenáveis. E ainda se preocupando com o que será feito com os resíduos.

O desenvolvimento sustentável nunca foi proposta “excêntrica” de amantes da natureza, desde seu surgimento significou o “confronto” entre os que querem o crescimento econômico a qualquer custo, e os defensores das causas ambientais e sociais da espécie humana.

A disputa sobre os transgênicos, por exemplo, não é apenas uma questão de saúde, mas de exigência do consumidor. Se no mercado há um volume maior de consumidores que não querem os transgênicos, produzi-los se torna um negócio cego. Pois os ganhos de produtividade e de custos ficam menores que os deságios nos preços da commodity. Ou seja, se produz por um menor custo, mas se obtém menor preço.

A oposição de Marina aos transgênicos é uma questão estratégica, de posicionamento econômico no mercado, onde o ambiental é apenas um fator dessa opção.

Foi com Marina Silva no governo, que Lula descobriu que entre o jogo dos interesses econômicos e a visão do desenvolvimento sustentável surgia uma contradição difícil de ser gerenciada dentro do próprio Governo, porem o carinho especial que Lula tinha por Marina, o levava a defendê-la contra as pressões internas e externas.

Foram muitos os casos em que ela parecia derrotada, mas com o total apoio de Lula sempre conseguia sustentar suas posições. Marina vencia pela resistência passiva, pela humildade, e avalizando uma imagem internacional de um Brasil defensor dos recursos naturais.

Mas os sucessivos embates e desgastes acabaram minando a relação afetiva. No último grande embate, em torno do desmatamento na Amazônia, Lula não deu à Marina Silva o apoio que precisava, a deixou sozinha a enfrentar os governadores/produtores predadores.

É fato que o desmatamento aumentou, mas Lula achava que, do ponto de vista internacional, era melhor para o Brasil mostrar dados mais favoráveis. Irritou-se com a divulgação por Marina dos dados reais.

Foi um erro de Lula, pois números e estatísticas são sempre contestáveis, mas sempre é preciso ter um aval, e o aval, no caso brasileiro, sempre foi a imagem de seriedade de Marina Silva.

Lula parece estar agora fascinado com o brilhantismo intelectual de Mangabeira Unger tanto que deu para ele o Plano da Amazônia Sustentável.

Chamou Marina mãe do PAS, mas o entregou a ele, achando que Mangabeira, pelo seu domínio do inglês e outros idiomas, vai poder "enrolar" o mundo. Está é enrolando o próprio Lula.

Marina percebeu e resolveu romper, e de maneira formal. Esquivou-se do embate emocional não entregando o cargo pessoalmente para não correr o risco de ser convencida a não fazê-lo. Foi de forma irreversível, e com uma frieza que não lhe é peculiar, mas de quem percebeu que o “caso” acabou.

Sabia que Lula iria ficar irritadíssimo por não ter sido procurado pessoalmente, e por não ter lhe dado a oportunidade de demovê-la.

Um grande baque pessoal para Lula, que estava se achando o máximo, com a sua popularidade.

A saída de Marina Silva tem um significado muito maior do que uma simples mudança ministerial. Significa que alem da quebra de um dos mais importantes sustentáculos da imagem do Brasil no mundo, acabou com ela a lua de mel do movimento sócio ambiental com o Governo Lula.

Blairo Maggi deve estar adorando.


O Autor é Sociólogo e escreve em vários Blogs

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