quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Compra da Xstrata maquia desnacionalização da Vale?

HSBC e Santander colocaram à disposição US$ 50 bilhões para ambevizar a Vale, avaliada em US$ 120 bilhões. Outros US$ 30 bilhões seriam pagos em ações, com direito a voto, aos controladores da mineradora anglo-suíça.

O governo federal poderá vetar a aquisição da mineradora anglo-suíça Xstrata pela Vale do Rio Doce. Pela proposta que está sendo gestada pela direção da Vale, conforme divulgada pela imprensa, a empresa corre o risco de ser desnacionalizada e ficar pendurada em bancos e especuladores estrangeiros. O governo considera o negócio prejudicial aos interesses do país.

Para concretizar a compra, a Vale, avaliada em US$ 120 bilhões, precisaria entre US$ 70 bilhões e US$ 100 bilhões. De acordo com o jornal londrino “Financial Times”, já está acertado que US$ 50 bilhões seriam financiados por bancos estrangeiros tais como o HSBC, Santander, Credit Suisse, Citigroup, BNP Paribas, Barclays e RBS. O restante, cerca de US$ 30 bilhões, seria obtido através da transferência de ações preferenciais da Vale aos controladores da Xstrata.

O principal acionista da Xstrata, a trading Glencore, seria beneficiado com as ações da Vale, além dos demais acionistas da mineradora anglo-suíça, em sua maioria especuladores como a Axa Investments, Alliance Bernstein, Black Rock. Caso a negociação seja concretizada, significaria a transferência para os estrangeiros de grande parte do capital da empresa.

Segunda maior mineradora do mundo e a primeira na produção de minério de ferro, a Vale é estratégica para o desenvolvimento do país. Atualmente, as ações ordinárias representam 60% do capital total da Vale do Rio Doce, e as preferenciais (PN), 40%. O detalhe é que as ações preferenciais da Vale são da classe A, que dão direito a voto.

Para preservar a empresa da desnacionalização e entrega do subsolo nacional aos estrangeiros, basta os representantes do BNDESPar e da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) vetar a negociação no Conselho de Administração da Vale. O governo conta com uma “golden share” (ação especial) que garante poder de veto em algumas situações, entre elas em relação ao aumento de capital estrangeiro na companhia.

Na segunda-feira, o Conselho de Administração começou a analisar a operação. O presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, disse que “é só um estudo pra ver realmente se fecha nas condições, se é factível, se tem geração de caixa, esses detalhes todos. Depois, na decisão, [os representantes do] governo tem poder [pra resolver]”, disse ele. O Bradesco é acionista da Vale e participa do conselho através da Bradespar.

O negócio da Vale com a Xstrata está sendo comparado com o da AmBev, que resultou na desnacionalização da principal indústria cervejeira brasileira. Em 1999, Brahma e Antarctica anunciaram fusão e criação da AmBev, sendo aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no ano seguinte. Mais tarde, o processo de desnacionalização surgiu maquiado por uma campanha que dava conta de que as cervejas brasileiras ganhariam o mundo através de uma associação com a empresa belga InterBrew. Mais ainda, de que a AmBev seria a dona da InterBrew. O que ocorreu foi o contrário. Com a dita “fusão”, foi criada a belga InBev, que passou a controlar a AmBev e monopolizar o mercado nacional de cerveja.

Por LUIZ ROCHA

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