Na “Folha” de hoje, uma boa entrevista com Consuelo González, a refém das FARC, recém libertada (clique aqui).
Mulher notável, pela serenidade com que se comporta depois da libertação. Alguns trechos da entrevistas são bastante reveladores do caráter de Consuelo e do caldeirão onde as FARC vão aliciar seus militantes:
"Eu me atrevo a dizer que a guerrilha não é louca [longa pausa]. Os militantes com quem tínhamos trato eram muito distantes, pois é proibido conviver com reféns. A troca de comunicação, de idéias, é pouca. Mas, no que se podia acessar deles, a maioria segue de forma muito estrita o determinado pelos chefes", conta.
"A primeira pergunta foi: "Há quanto tempo está na guerrilha?". Ela me disse: "Sete anos". "Por que ingressou na guerrilha?" Ela me disse: "Consuelo, porque, quando era menina, dois ou três anos, mataram o meu pai". "Quem matou os seus pais?" "Os paras". "O que aconteceu com a sua mãe?" "Teve de fugir." "Quanto eram?" "Seis ou sete." "E o que aconteceu com vocês, com todas as crianças?" "Fomos a viver com uma avozinha que tinha uns 80 anos. Eu tive de trabalhar numa casa de família para que a minha avó conseguisse comprar um pouco de arroz. Não podia estudar, não tinha como". Era uma pobreza que me golpeava terrivelmente ouvir", afirma.
E continua a história: "Ela disse: "Não tive alternativa à guerrilha". "E os seus irmãos?" "Três das minhas irmãs estão na guerrilha também'".
"Ou seja, quatro da mesma família estão na guerrilha por causa da violência, pela falta de oportunidades. Mas, além disso, isso me produz uma enorme tristeza, porque eu passo essa situação ao meu caso particular. Eu prefiro fazer a reflexão: e se isso tivesse ocorrido às minhas filhas?", indaga González, mãe de duas jovens e e avó de uma menina, nascida quando ela estava em cativeiro.
E continua: "Eu via que, no fundo do seu coração, ela tinha algo de humano, toda hora ela me dizia: "Consuelo, estou fazendo um esforço para que a liberação não dê errado. Estou fazendo um esforço para que vocês saiam, para que Clara encontre o seu filho, para que você se reúna com suas filhas, seu neto. E todo dia me dizia, de longe: "As coisas vão bem'".
(...) González conta como terminou o relacionamento de vários dias com a guerrilheira: "No dia em que nos entregaram, eu já ia ao helicóptero, e ela disse: "Consuelo, adeus". Eu não havia me despedido dela. Voltei, lhe dei um beijo e disse: "Obrigado e reflita'".
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