MINO CARTA ESCREVEU
Bom humor global?
Colocadas em 20º lugar na classificação das Empresas Mais Admiradas no Brasil, que a pesquisa TNS InterScience realiza e a CartaCapital publica, as Organizações Globo pretendiam inserir um anúncio na edição especial a ser lançada na segunda-feira 29. Rezava o anúncio: “De tanto nos investigar, a CartaCapital acabou descobrindo o que você já sabia”.
Não havia como aceitar a mensagem global, sutil como uma Panzer Divisionen da Wehrmacht. Ao recusar o anúncio, em carta dirigida ao diretor de propaganda da Central Globo de Comunicação, José Land, não deixamos de esclarecer as nossas razões. O texto pretendia demonstrar que CartaCapital investigou em vão certas situações a envolver as Organizações Globo. Tentativa obviamente mistificadora.
É do conhecimento até do mundo mineral o currículo da empresa da família Marinho. Apoio ao golpe de 1964 e à ditadura que se seguiu. Crescimento vertiginoso à sombra e com a ajuda do regime fardado. Oposição ferrenha à campanha das Diretas Já. Favorecimento sem conta durante o governo Sarney, com a bênção do ministro das Comunicações Antonio Carlos Magalhães.
E assim por diante, rosário de dezenas de outros episódios nada edificantes, sem excluir a tentativa in extremis de torpedear a reeleição do presidente Lula às vésperas do primeiro turno. Todos hão de lembrar o sinistro aparecimento no vídeo global dos reais do escândalo do chamado Dossiê Serra, diligente e sabiamente empilhados.
Na carta a José Land sublinhávamos também que a pesquisa da TNS InterScience junto a mais de 1.200 executivos registra as preferências de um público especial, que não representa a maioria dos brasileiros. Aspecto importante que, se não desqualifica o prêmio, desqualifica inapelavelmente o anúncio. E assim concluímos a carta: “Aceitaríamos de bom grado outro anúncio, que não nos ofendesse”.
Dois dias depois, recebemos a resposta de José Land. Sustenta que o anúncio “nada tem de ofensivo”, enquanto “nós é que poderíamos nos sentir ofendidos pelo tratamento invariavelmente hostil”. E aí volta à cena a divisão Panzer. “Estamos reagindo com bom humor”, escreve o diretor de propaganda, “e esperávamos que vocês tivessem tido o mesmo comportamento cordial, compatível com a liberdade de expressão que tanto defendem”.
Bom humor? Cordialidade? Resta entender até onde vão a falta de senso de oportunidade e a desfaçatez de quem se acostumou a pontificar sem contraditório. Mas tudo não passa de mais um episódio na história de uma mídia sempre a serviço do poder, por ser, ela própria, um dos seus rostos mais evidentes.
Quanto à liberdade de expressão, ocorre-me a liberdade de que alguns cidadãos dispõem para caluniar os semelhantes. De sorte que não nos surpreenderia ver o anúncio da Globo em outros veículos.
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