segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Rei do Mambo: Quem é o Cidadão de Bem, Dançarino de Lambazouk que atacou o Porta dos Fundos


VICTOR CALCAGNO - CARTA CAPITAL
Basta buscar por “Eduardo Fauzi” no YouTube para encontrar na lista de resultados dois tipos de 
vídeos com conteúdo contrastante: no primeiro, um homem alto e forte, de camisa aberta, dança com 
bailarinas em performances profissionais de lambazouk, ritmo caribenho de dança de salão. No 
segundo, o mesmo cidadão agride ao vivo, em 2013, com um soco na cabeça, o então secretário de 
Ordem Pública do Rio de Janeiro, Alex Costa, por ocasião do fechamento de estacionamentos 
irregulares no Centro carioca. As duas atitudes vêm do único suspeito identificado pela Polícia Civil 
como participante do ataque com coquetéis molotov à produtora Porta dos Fundos, na Zona Sul da 
cidade, em 24 de dezembro. 
Apelidado de “Rei do Mambo” ou apenas “Mambo” pela perícia na dança de salão, Eduardo Fauzi 
Richard Cerquise foi o reconhecido entre os cinco suspeitos que a polícia considera terem 
participado do ataque, uma vez que, ao contrário dos demais, ele aparece com o rosto descoberto nas 
imagens de câmeras de segurança. 
Segundo os agentes, Mambo teria sido o responsável por dirigir o veículo utilizado na ação, além de 
filmá-la, o que foi suficiente para que um mandado de prisão fosse expedido contra ele no dia 30, 
seguido de uma batida em seus endereços. 
Àquela altura, Fauzi, que se define como guardador de carros por estar ligado ao ramo de 
estacionamentos, tinha embarcado para Moscou, onde tem filho e namorada. Em entrevista ao site 
Projeto Colabora, em terras russas, afirmou não se arrepender, justificou a ação a partir de dogmas 
cristãos e disse ter recebido informações de que seria preso a tempo de deixar o País.
A polícia pediu a inclusão de Fauzi na lista de procurados pela Interpol e o Itamaraty deu início, na 
terça-feira 7, aos trâmites para o processo de extradição. Os outros suspeitos ainda não foram 
identificados e a polícia afirma que “as investigações estão em andamento”, com “os agentes 
analisando informações, provas obtidas e documentos”, além de o caso ter sido “tratado inicialmente 
como crime de explosão e tentativa de homicídio”, e não como ataque terrorista. 
Ainda assim, Fauzi tem passagem de volta comprada para o fim de janeiro e disse pretender retornar 
nessa data para “enfrentar as consequências”, embora afirme ter ingressado com pedido de asilo 
político na Rússia.
Mambo acumula 20 anotações criminais, entre elas a de ameaça e agressão denunciadas pela ex-
mulher, além de ser investigado por envolvimento com milicianos em estacionamentos rotativos 
irregulares no Centro do Rio – o que levantou suspeitas sobre os tipos de “conexões” que o teriam 
colocado a par dos procedimentos internos da polícia que resultaram em seu mandado de prisão.
Foi com surpresa que alunos da Faculdade de Economia receberam a notícia de que Eduardo Fauzi é 
egresso da instituição. “Barbárie”, “vergonha”, “vamos fazer um ato de repúdio!”, escreveram alguns 
estudantes em um grupo do Facebook. Politicamente, era filiado desde 2001 ao PSL, antigo partido 
do presidente Jair Bolsonaro, e também à Frente Integralista Brasileira. As duas organizações 
resolveram expulsá-lo depois de divulgada sua relação com o ataque à produtora.
O obscurantismo não dá, porém, tréguas. Na quarta-feira 8, o desembargador Benedito Abicair, da 6ª 
Câmara Cível do Rio de Janeiro, acatou uma ação da Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura 
e mandou a Netflix retirar do ar o Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de 
Cristo. 
O desembargador refez uma decisão de primeira instância, que havia negado a censura ao material. 
O especial de 46 minutos apresenta Jesus, interpretado pelo humorista Gregório Duvivier, surpreso 
com uma festa de aniversário de 30 anos ao voltar do deserto acompanhado pelo namorado, Orlando, 
desempenhado por Fábio Porchat. Na quinta-feira 9, o presidente do Supremo Tribunal Federal 
(STF), ministro Dias Toffoli, concedeu liminar autorizando a exibição.
Enquanto Fauzi se esconde na Rússia, em desembargador manda suspender o Especial de 
Natal do Porta dos Fundos
Nos depoimentos concedidos, o economista e empresário deixa clara a motivação religiosa do ataque 
ao Porta dos Fundos. Na entrevista ao Projeto Colabora, o fugitivo afirma que “um cidadão imerso 
na pós-modernidade liberal e ateísta não tem como acessar a violência simbólica do ato de 
profanação causado pelo Especial de Natal do Porta dos Fundos” e que “uma blasfêmia sempre será 
infinitamente pior do que qualquer reação contra ela”.
Apesar de ter afirmado a intenção de voltar ao Brasil no fim do mês, “a menos que não se sinta 
seguro”, o processo de extradição de Fauzi, ainda a ser encaminhamento às autoridades russas, 
formaliza a atitude sob um acordo de cooperação entre os dois países.
Caso o pedido seja aceito, após passar pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação 
Jurídica Internacional do Ministério da Justiça e o Ministério das Relações Exteriores, o Brasil tem 
60 dias para retirá-lo da Rússia e, ainda de acordo com a lei acertada entre os dois países, Fauzi não 
poderá cumprir pena maior do que teria se fosse condenado pelo mesmo crime em solo russo.

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