sexta-feira, 27 de setembro de 2019

RECEIO DE BOICOTE POR CRISE NA AMAZONIA LEVA FRIGORÍFICOS A PREPARAR CAMPANHAS

Escalada retórica entre Europa e presidente Jair Bolsonaro no embalo de críticas à destruição 
da Amazônia ameaça exportações de carne do Brasil e pressiona papéis. Esse é o tamanho da 
irresponsabilidade deste governo, que pode atingir não só frigoríficos, mas todo o agronegócio. 
E não adianta divulgar fakenews ou mentir na ONU.
Por Rafael Gregorio, Valor Investe — São Paulo
As ações das principais frigoríficas brasileiras com papéis na bolsa de valores operaram nesta sexta-
feira (23) em forte queda, como efeito do acirramento de uma disputa retóricaentre o governo 
brasileiro e nações estrangeiras em torno do desmatamento na Amazônia.
Veja um retrato tirado no fechamento do mercado:
JBS (JBSS3) caía 4,85%, negociada a R$ 29,06;
Minerva (BEEF3) caía 4,76%, negociada a R$ 8,40.
BRF (BRFS3) caía 2,45%, negociada a R$ 38,59;
Marfrig (MRFG3) caía 2,44%, negociada a R$ 7,98;
Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), o Brasil 
exportou 982 mil toneladas de carne bovina no acumulado de janeiro a julho de 2019, faturando R$ 
3,73 bilhões.
As quedas acontecem no embalo do que especialistas começam a chamar de “crise amazônica” – a 
escalada retórica entre o presidenteJair Bolsonaro e líderes de países estrangeiros, principalmente a 
França, em torno do aumento do desmatamento e das queimadas na floresta Amazônica.
O presidente francês, Emmanuel Macron, chamou as queimadas na Amazônia de “uma crise 
internacional” e ameaçou levar o tema para discussão na próxima reunião do G7.
Em nota, Macron também pôs em dúvida a ratificação do acordo de livre comércio entre Mercosul e 
União Europeia, obtido no fim de junho.
Já os governos da Finlândia e da Irlanda pediram à União Europeia para barrar importações de carne 
do Brasil, o que, segundo fontes, gerou preocupações junto à ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
E o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, mostrou “profunda preocupação” com a 
situação. “Em meio à crise climática mundial, não podemos nos permitir mais danos a uma grande 
fonte de oxigênio e biodiversidade. A Amazônia deve ser protegida”, escreveu em sua conta no 
Twitter.
Em resposta, o presidente brasileiro acusou Macron de ser “sensacionalista” e disse que lamenta que 
ele “instrumentalize uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos para ganhos 
políticos pessoais”.
Já o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que líderes europeus mentem e que “nós não 
precisamos ter lição de ninguém” e que “os europeus usam a questão do meio ambiente por duas 
razões: confrontar os princípios capitalistas e estabelecer barreiras ao crescimento e ao comércio do 
Brasil”.
Entre janeiro e a segunda-feira passada, o total de incêndios na região cresceu quase 84% em relação 
ao mesmo período de 2018 – o maior aumento desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais 
(INPE) começou a monitorar o desmatamento via satélite, em 2013.
Segundo dados do Inpe, os pontos com mais queimadas coincidem com os municípios que tiveram 
os maiores aumentos nos índices de desmatamento em 2019 na comparação com 2018.

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