segunda-feira, 23 de setembro de 2019
Fábio Assunção: “Eu sinto amor e estive no Complexo do Alemão hoje”
Fábio Assunção no enterro de Agatha: “Sei o que
pensa esse grupo que enaltece a morte”
“Independentemente do que pensa esse grupo
que enaltece a morte, eu sinto amor e estive no
Alemão hoje. Solidário, empático com a dor
coletiva e marcando a posição que acredito”,
escreveu o ator. Foto: Reprodução
Por Redação
O ator Fábio Assunção amanheceu entre os assuntos
mais comentados do Twitter, na manhã desta
segunda-feira (23) após comparecer no enterro da
menina Agatha, de oito anos, morta na última sexta-
feira por um policial da Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP) no Complexo do Alemão, no
Rio de Janeiro.
“Independentemente do que pensa esse grupo que
enaltece a morte, eu sinto amor e estive no Alemão
hoje. Solidário, empático com a dor coletiva e
marcando a posição que acredito”, escreveu o ator.
O ator disse ainda que “aprendemos que os pobres
são perdedores, que os pretos são perigosos e que os
ricos venceram. Será que não conseguiremos
romper essa educação colonial e entender agora que
somente o coletivo, a soma e a diversidade podem
nos trazer alegria”.
Fábio Assunção no enterro de Agatha: “Sei o que
pensa uma parte da população. E venho aqui de novo dar minha cara a tapa. Mas, independentemente
do que pensa esse grupo que enaltece a morte, eu sinto amor e estive no Alemão hoje. Solidário,
empático com a dor coletiva e marcando a posição que acredito. Que é a urgência em nos
reconhecermos entre aqueles de quem aprendemos manter distância. Aprendemos que os pobres são
perdedores, que os pretos são perigosos e que os ricos venceram. Será que não conseguiremos
romper essa educação colonial e entender agora que somente o coletivo, a soma e a diversidade
podem nos trazer alegria?? Hoje caminhando ali percebi que tinha pouca gente no cortejo. Percorri
as ruas com moradores e moradoras chorando ou em silêncio. Existiam ali amor e tristeza. Ruas
cheias de buracos, casas sem fachada, obras paradas, esgoto a céu aberto. O morador da periferia e
da comunidade não merece viver? Está ali apenas para servir às classes que herdaram algo ou aos
que tiveram chance de conquistar uma moradia silenciosa, aos que não dormem ao som dos
tiroteios?
Agatha tinha 8 anos. Uma criança de 8 anos ainda é pura, ainda está na categoria de anjo, na minha
percepção. Minha filha tem 8. Meu filho já teve. Essa guerra em vigor é uma guerra inútil, onde
todos perdem. Todos. Policiais em serviço morrem. Cidadãos de bem morrem. Crianças morrem.
Quem teve a sorte de não estar na linha de tiro pode se posicionar também. Amorosa e
pacificamente. Talvez isso não aconteça amanhã, mas o tempo há de nos levar pelo caminho da
admiração mútua, pois todos precisam de amor, de afeto e de oportunidade de crescer. E todos são
maravilhosos, cheios de força e talento pra botar pra fora. Falta apenas um olhar. Morador pobre de
comunidade não é coitado. Coitados são aqueles que desprezam a vida do outro.”
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