sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Áudios revelam general do governo Bolsonaro chamando Amazônia de deserto para escoar Soja e Milho


MOVIDO A PARANOIA
Documentos e áudios inéditos mostram plano de Bolsonaro para povoar Amazônia contra 
chineses, ONGs e Igreja Católica
De Tatiana Dias, do Intercept Brasil, e Manuella Libardi, do Open Democracy


(…) O objetivo é escoar a produção de soja do centro-oeste e integrar uma região até agora 
“desértica”, nas palavras do secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da 
República, general Maynard Santa Rosa (ouça áudio), um militar da reserva dado a teorias da 
conspiração sobre as intenções de ambientalistas na floresta e que alimenta paranoias sobre a 
insegurança das fronteiras brasileiras no extremo norte devido à “escassez populacional”. Ele 
defende a extensão da estrada desde pelo menos 2013 Pelo projeto, a rodovia também atravessaria
Reserva Nacional de Cobre e Associados, rica em minérios, e daria acesso a uma região de savanas 
que pode ser convertida em plantações de soja e milho.
(…) O projeto também foi apresentado em abril a empresários do agronegócio na sede da Federação 
da Agricultura e Pecuária do Pará. Dentro do Palácio do Planalto, foram feitas várias reuniões para 
discutir o assunto. A última delas, em 19 de junho, contou com a participação do general Santa Rosa, 
do secretário de Planejamento Estratégico, Wilson Trezza, e do diretor de Assuntos Internacionais 
Estratégicos, Paulo Érico Santos de Oliveira. Não há, na agenda oficial, registro de participação de 
autoridades do Ministério do Meio Ambiente nessas discussões.
(…) A secretaria afirmou que não houve visita oficial de comitiva interministerial para apresentação 
do programa no Pará. Não é verdade. Segundo o Portal Transparência, César Calderaro foi à 
Santarém em visita oficial de comitiva interministerial em fevereiro de 2019, com recursos da 
própria secretaria. Discutiu o projeto, inclusive, com o prefeito de Santarém, Nélio Aguiar, do 
Democratas, e o encontro foi registrado publicamente no Facebook.
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O governo de Jair Bolsonaro está discutindo, desde fevereiro, o maior plano de ocupação e 
desenvolvimento da Amazônia desde a ditadura militar. Gestado pela Secretaria de Assuntos 
Estratégicos, com coordenação de um coronel reformado, o projeto Barão de Rio Branco retoma o 
antigo sonho militar de povoar a Amazônia, com o pretexto de desenvolver a região e proteger a 
fronteira norte do país.
Documentos inéditos obtidos pelo Intercept detalham o plano, que prevê o incentivo a grandes 
empreendimentos que atraiam população não indígena de outras partes do país para se estabelecer na 
Amazônia e aumentar a participação da região norte no Produto Interno Bruto do país. A revelação 
surge no momento em que o governo está envolvido numa crise diplomática e política por conta do 
aumento do desmatamento no Brasil. Bolsonaro se comprometeu a proteger a floresta em 
pronunciamento em cadeia nacional de televisão, mas o projeto mostra que a prioridade é outra: 
explorar as riquezas, fazer grandes obras e atrair novos habitantes para a Amazônia.
O plano foi apresentado pela primeira vez em fevereiro deste ano, quando a secretaria ainda estava 
sob o comando de Gustavo Bebbiano. O então secretário-geral da Presidência iria à Tiriós, no Pará, 
em uma comitiva com os ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Damares Alves, dos 
Direitos Humanos, para se reunir com entidades locais. Bolsonaro, no entanto, não sabia da viagem. 
Foi surpreendido pelas notícias e vetou a comitiva — uma das razões que culminaram na crise que 
tirou Bebbiano do governo em 18 de fevereiro. O plano acabou sendo apresentado dias depois só 
pelo coronel reformado Raimundo César Calderaro, seu coordenador, sem alarde, em reuniões 
fechadas com políticos e empresários locais.
Parte do conteúdo do encontro foi revelado no mês passado pelo Open Democracy. O Intercept, 
agora, teve acesso a áudios e à apresentação feita durante uma reunião organizada pela Secretaria 
Especial de Assuntos Estratégicos no dia 25 de abril deste ano na sede da Federação da Agricultura 
do Pará, a Feapa, em Belém. A secretaria afirmou ter reunido a sociedade, academia e autoridades 
locais para ouvir opiniões e sugestões que guiarão os estudos sobre o programa. Mas os documentos, 
até agora inéditos, revelam que indígenas, quilombolas e ambientalistas parecem ter ficado de fora 
da programação.
Plano De Desenvolvimento Da Amazônia20 pagesNa apresentação, os responsáveis esmiuçaram a 
preocupação do governo com a “campanha globalista” que, de acordo com o material, “relativiza a 
soberania na Amazônia” usando como instrumentos as ONGs, a população indígena, quilombola e 
os ambientalistas. E afirmaram ser necessária a execução de obras de infraestrutura — investimentos 
“com retorno garantido a longo prazo” —, como hidrelétricas e estradas, para garantir o 
desenvolvimento e a presença do estado brasileiro no local.
Fumaça de incêndios na floresta amazônica na região de Altamira, no Paraná, em agosto 
passado. Foto: João Laet/AFP/Getty Images

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