segunda-feira, 1 de julho de 2019

MARRECO SERÁ OUVIDO NESSA TERÇA POR 3 COMISSÕES DA CÂMARA


Nesta terça-feira (2), o ministro da Justiça, Sergio Moro, deve ser ouvido por três comissões da 
Câmara: de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ); de Trabalho, Administração e 
Serviço Púbico; de Direitos Humanos e Minorias. Os deputados querem esclarecimentos sobre 
o conteúdo revelado pelo site de notícias The Intercept Brasil, que trouxe mensagens 
supostamente trocadas entre Moro, então juiz federal, e o coordenador da força-tarefa da Lava 
Jato em Curitiba, o promotor Deltan Dallagnol. A reunião com o ministro da Justiça, Sergio 
Moro, está marcada para esta terça-feira (2), a partir das 14 horas.
OS NOVOS DIÁLOGOS MOSTRAM QUE A APARÊNCIA DE IMPARCIALIDADE DE 
MORO ERA SÓ O QUE IMPORTAVA
A OITAVA PARTE da Vaza Jato, publicada pelo Intercept, revelou que muitos procuradores do 
Ministério Público Federal tinham absoluta consciência de que o ex-juiz Sergio Moro utilizava o 
trabalho da força-tarefa com objetivos nada republicanos.
Pior que isso: eles se preocupavam com a maneira sistemática com que o ex-juiz descumpria as leis, 
mas toleravam por estarem se beneficiando. Uma frase da procuradora Monique Cheker virou a 
síntese da atuação do magistrado e da sua relação com o MPF: “Moro viola sempre o sistema 
acusatório e é tolerado por seus resultados”.
Enquanto os procuradores faziam de tudo para blindar a imagem de imparcialidade da Lava Jato, a 
vaidade de Moro colocava tudo a perder. Nos diálogos, o ex-juiz e sua esposa eram tratados como 
caipiras deslumbrados por não conseguirem disfarçar a preferência pelo candidato Bolsonaro nas 
redes sociais.
A preocupação dos procuradores não era com o fato de Moro atuar de forma parcial, mas com o fato 
de não parecê-lo. Eles gostavam dos “resultados” da atuação ilegal do juiz, mas desejavam que ele 
não desse tanta bandeira. Quando Moro decidiu integrar o governo Bolsonaro, caiu a máscara da 
imparcialidade. O fato constrangeu os procuradores. Mas é importante reforçar: para eles, o grave 
não foi usar máscara, mas tê-la deixado cair.
Boa parte dos procuradores — e não apenas Dallagnol — tinha consciência de que Sergio Moro 
extrapolava suas funções, atuava de acordo com uma agenda política-partidária e era movido por um 
projeto político pessoal. Mas se calou publicamente e se tornou cúmplice do ex-juiz.
Outro trecho revelador sobre os meandros da Lava Jato é do procurador Angelo Augusto Costa: 
“[Sergio Moro] Fez umas tabelinhas lá, absolvendo ali pra gente recorrer aqui”. Esse trecho confirma 
que a procuradoria e o juiz combinaram um jogo de cena jurídico apenas para manter a fachada de 
imparcialidade. É grave.
A vaidade de Moro começou a prejudicar a imagem do conluio lavajatista. Mas, apesar das 
reclamações internas, publicamente os procuradores eram só elogios ao ex-juiz. Deltan Dallagnol, o 
coordenador da força-tarefa, reconheceu haver problemas na nomeação de Moro como ministro de 
Bolsonaro, mas tentou conter a indignação dos seus pares lembrando que apoiá-lo era uma questão 
de sobrevivência. Segundo ele, apoiar Moro era o mesmo que apoiar a Lava Jato, o que confirma, 
mais uma vez, que acusação e juiz eram uma coisa só. A preocupação de Dallagnol era 
essencialmente política.
Agora, com veículos da grande mídia, como Folha de S. Paulo e Veja, atestando que o arquivo não 
foi adulterado não há mais para onde correr. Insistir na estratégia esfarrapada de não reconhecer a 
autenticidade e, ao mesmo tempo, não negar nada do que tem sido publicado, é cavar o fundo do 
poço do ridículo. A opção menos indigna para os procuradores seria reconhecer a autenticidade dos 
diálogos e pedir afastamento dos seus cargos. Mas como esperar isso de quem viu a Constituição 
sendo violada reiteradamente e, mesmo assim, tomou a decisão política de apoiar o violador a virar 
ministro da Justiça?
Dallagnol calculava os efeitos das ações da Lava Jato nas 
eleições
Na primeira publicação da Vaza Jato, ficou claro que os procuradores se mobilizaram para evitar que 
Lula desse entrevista, já que isso poderia “eleger o Haddad” ou permitir a “volta do PT” ao poder.
Ontem, a Folha de S. Paulo publicou novos trechos do arquivo obtido pelo Intercept que confirmam 
a intenção da Lava Jato em influenciar o jogo eleitoral. Ele tentou acelerar ações contra o petista 
Jaques Wagner para que elas acontecessem antes do fim do segundo turno das eleições presidenciais. 
Dallagnol queria um mandado de busca e apreensão na casa do senador antes da posse. “Isso é 
urgentíssimo. Tipo agora ou nunca kkkk”, falou Dallagnol para um dos procuradores. A pressa tinha 
como objetivo pegar o petista ainda sem foro privilegiado e arranhar a campanha de Haddad.
Uma procuradora lembrou que Jaques Wagner já havia sofrido uma busca e apreensão e ponderou 
que uma nova talvez não valesse a pena. Deltan respondeu que valeria por uma “questão simbólica”. 
O simbolismo de uma nova ação contra o petista não seria outro senão o político. Não há outra 
interpretação possível.
A Bahia é um do principais redutos eleitorais do PT, se não for o principal. Jaques Wagner, ex-
governador do estado por duas vezes, chegou a ser cotado para ser o candidato do PT nas eleições 
presidenciais e se tornou o coordenador da campanha de Haddad no segundo turno. Bolsonaro levou 
uma surra de Haddad nas urnas baianas no primeiro turno, tendo uma votação menor do que a de 
Aécio Neves em 2014. Não é difícil imaginar qual seria o valor simbólico de uma busca e apreensão 
na casa do senador baiano em plena campanha do segundo turno.
Não restam dúvidas de que algumas ações da Lava Jato foram sincronizadas com uma agenda 
eleitoral. Todas elas visando prejudicar Haddad e beneficiar Bolsonaro. O caráter antidemocrático da 
força-tarefa é inegável. A operação trabalhou em pelos menos duas oportunidades para prejudicar a 
campanha presidencial do PT. Pior: o seu coordenador atuou nos bastidores para articular um apoio 
dos procuradores à ida de Sergio Moro para o governo de Bolsonaro — que foi o principal 
beneficiário de toda essa operação. Se isso não é um ataque orquestrado contra a democracia, o que 
mais seria?

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