sábado, 27 de julho de 2019

ANÁLISE: Como Moro pode ter armado a história dos hackers


Por Luis Nassif
Peça 1 – A teoria do fato
Em 9 de junho de 2016, publiquei um Xadrez sobre a “teoria do fato” (não confundir com a “teoria 
do domínio do fato”), a técnica que passou a ser utilizada pelo Ministério Público Federal em suas 
investigações.
Para não se perder com a quantidade de informações levantadas, o investigador deveria desenvolver 
uma “teoria do fato” inicial, uma tese na qual coubessem as provas levantadas, ainda que incipientes. 
Depois, a teoria inicial seria gradativamente modificada, à luz dos novos fatos que fossem 
aparecendo.
Peça 2 – a teoria do fato na Operação Spoofing
Entendido isso, vamos aplicar a Teoria do Fato na Operação Spoofing, que prendeu os hackers russos 
de Araraquara.
São apenas hipóteses, mas que formam um todo lógico.
Há mais de um mês já corriam rumores de grampo nos celulares da Lava Jato. Imaginou-se, então, 
uma estratégia que permitisse desviar o foco do conteúdo das mensagens para a criminalização da 
origem. No limite, permitir a deportação de Glenn Greenwald.
Passo 1 – identificar algum pequeno criminoso digital e prepará-lo para ser o hackeador mor da 
República.
Passo 2 – fornecer a ele os celulares de personalidades relevantes da República, de presidentes de 
Tribunais a presidentes da República,
Passo 3 – deflagrar a Operação Spoofing e anunciar a prisão dos hackers com estardalhaço.
Passo 4 – montar o alarde em cima dos números de celulares de autoridades encontradas no celular 
do hacker, independentemente de comprovação se foram ou não hackeadas. E aproveitar o clima de 
catarse para articular a deportação de Glenn Greenwald.
Peça 3 – os pontos que reforçam a Teoria do Fato
As seguintes informações reforçam essa narrativa, que acabou se perdendo pela inverossimilhança.
Ponto 1 – a má escolha dos culpados, um DJ, um motorista do Uber, um aluno de curso técnico de 
uma cidade do interior. Pelo histórico, dificilmente teriam informações até sobre o The Intercept, que 
atinge um público mais sofisticado. Muito menos teriam capacidade técnica para uma operação de tal 
envergadura.
Ponto 2 – a descoberta que o principal suspeito ficou sete anos sem movimentar sua conta do 
Twitter, retornou um mês antes, transmudado. De filiado ao DEM, apoiador de Bolsonaro, a crítico 
do PT, tornou-se petista, passando a retuitar matérias críticas a Bolsonaro. Além disso, um belo 
trabalho da Revista Fórum descobriu que os tuítes eram disparados de Brasilia e o primeiro perfil a 
seguir o hacker foi do Antagonista, espécie de veículo oficial da Lava Jato e de Moro.
Ponto 3 – a ansiedade de colunista de tecnologia de O Globo que, antes mesmo de qualquer 
informação da Polícia Federal ou declaração de Moro, referendou a tese de que os hackers detidos 
teriam sido os informantes do The Intercept, e foi a manchete principal do jornal durante toda a 
manhã do espetáculo.
Ponto 4 – a pressa de Sergio Moro em atribuir aos hackers o dossiê do The Intercept, antes de 
qualquer vistoria da PF.
Ponto 5 – a decisão de Moro de telefonar a várias autoridades para comunicar que tinham sido 
hackeadas. A Polícia Federal sequer tinha aprofundado a perícia. A única prova eram os números de 
celulares no celular do hacker.
Ponto 6 – Finalmente, a Portaria 666, publicada hoje, sobre deportação de estrangeiros.
Peça 4 – onde a Operação falhou
O factoide dos hackers durou um dia. No final do dia, choveram críticas pesadas de vários setores, 
que aumentaram de volume quando o presidente do Superior Tribunal de Justiça, Otávio Noronha, 
divulgou o telefonema de Moro comunicando o suposto grampo contra ele e a decisão de destruir os 
arquivos apreendidos com os supostos hackers.
A atitude despertou várias suspeitas, que enfraqueceram o impacto das manobras de Moro.
Sobre os telefonemas – ficou-se em dúvida sobre as intenções de Moro, se tentar, pelo favor ou pela 
chantagem implícita, apoio para uma radicalização contra o The Intercept.
Sobre a destruição dos arquivos – para impedir que suas conversas tenham outro ponto de vazamento 
ou para impedir que se descubra a manipulação dos arquivos encontrados com o hacker?
Outros fatores contribuíram para o fracasso da estratégia, o mais relevante dos quais foi o 
profissionalismo da equipe da Polícia Federal que tocou a operação. A coletiva sobre o caso foi 
objetiva, sem avançar em ilações e convicções, como a Lava Jato costumava fazer.
De uma fonte da PF ouvi a afirmação, de que não aceitariam repetir o IPM (Inquérito Policial 
Militar) do Riocentro, um episódio que manchou para sempre a imagem do Coronel Job, o 
incumbido de esconder o fato.
Em dois momentos, a postura profissional dos policiais abortou factoides de Moro.
Momento 1 – os vazadores de Moro trataram de difundir frases descontextualizados dos hackers 
detidos, como a história de que tentaram vender o material para o PT e que mantiveram contato com 
Glenn Greenwald. Aí a PF divulga a informação de que os hackers admitiram não ter entrado 
pagamento pelas informações, praticamente isentando o The Intercept da suspeita de cometimento de 
crime.
Seria curiosíssima a reconstituição desse interrogatório preliminar do hacker, que arrancou dele uma 
declaração que, na prática, absolveria o The Intercept mesmo que fosse ele a fonte do jornal.
Momento 2 – logo após vazar a declaração de Moro, de que iria destruir os arquivos recolhidos, a 
PF soltou uma nota oficial negando a intenção e dizendo que a autorização teria que ser do juiz do 
caso.
A grande bomba se transformou em um crack, quando até o Jornal Nacional se armou de cautelas 
para cobrir o tema. E, com o palco esvaziado, Moro lança seu último projétil, o tal decreto de 
extradição que acaba explodindo em um palco vazio com a força de um track.
Peça 5 – à guisa de conclusão
Tudo o que escrevi se baseia em uma hipótese, uma Teoria do Fato. À medida em que novos fatos 
forem surgindo, a Teoria poderá ser refeita. Ou, o que parece mais provável, reforçada.
A quantidade de irregularidades cometidas em apenas um dia mostra um Sérgio Moro totalmente 
descontrolado. Vazou informações para autoridades do governo de uma operação sigilosa; antecipou 
conclusões antes mesmo das perícias; anunciou a destruição de provas, sem ter poder para tal; 
finalmente, solta um decreto propondo expulsão de estrangeiros de forma sumária, atropelando todas 
as salvaguardas da Constituição. Para atingir Greenwald, Moro espalhou o terror entre todos os 
Departamento que trabalham com estrangeiros.
Essa série de abusos liquida completamente o apoio que recebe das forças institucionais, Ministros 
do Supremo e Organizações Globo, entre elas.
A partir de agora, o único caminho que restará a Moro será apoiar cada vez mais nos grupos de 
ultradireita que povoam as redes sociais. E no apoio condescendente de Jair Bolsonaro.
15:43 Agra à tarde, Moro explicou que o decreto 666 vale apenas para os paraguaios exilados, que 
ele decidiu deportar. É factível.

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