A igreja Episcopal Anglicana do
Brasil lançou uma nota onde
rechaça as últimas declarações e
ações do governo Bolsonaro;
"Isto nos preocupa seriamente
porque são atitudes publicamente
assumidas por quem deveria ser
guardião dos direitos e garantias
individuais da Constituição", diz
um trecho da nota.
Leia a íntegra:
Desde há algum tempo, temos assistido ao desmonte de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários
que tem trazido imensos prejuízos, especialmente as pessoas mais vulneráveis em nosso País.
Isso por sí só já tem sido objeto de preocupação pastoral de nossa Igreja e temos afirmado isso em
diversos posicionamentos pastorais na qualidade de Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana
do Brasil.
Há, no entanto, fatos novos e ainda mais preocupantes que nos chamam a atenção por seu caráter
perverso, insano até, de se estimular a partir da política oficial dos órgãos governamentais, e do
próprio Presidente da República em pessoa, a violação do direito à vida, ao meio ambiente e à
dignidade intrínseca das pessoas.
O assassinato de liderança indígena Emira Waiãpi por ocasião de uma invasão armada à sua aldeia,
devido aos interesses de garimpeiros de explorar a área, mostra bem que este governo patrocina, por
omissão e ação, um projeto de morte. As pessoas não são prioridades. A prioridade é o lucro e quem
se opor a este projeto será eliminada, não interessa se sejam defensores de direitos humanos,
indígenas ou quilombolas.
O Presidente ainda tem a coragem de levantar dúvidas sobre a autoria do assassinato, inclusive antes
que as investigações apontem os responsáveis. E ainda tenta criminalizar os movimentos de defesa dos povos indígenas.
Outro fato a se considerar seriamente é a afirmação preocupante do Presidente da República contra o
Presidente da OAB, dizendo que um dia explicaria a este último como o pai dele, Fernando Santa
Cruz de Oliveira, desapareceu nos porões da ditadura. E ao fazer esta afirmação ao vivo, o fez sem
esboçar nenhuma empatia, nenhum respeito à familia. Não é a primeira vez que isso é feito, mas é a
primeira vez que se afirma conhecer a prática de um crime sem cumprir a sua responsabilidade de
servidor público número um da Nação. Isto nos preocupa seriamente porque são atitudes
publicamente assumidas por quem deveria ser guardião dos direitos e garantias individuais da
Constituição.
Em nosso ministério episcopal, trabalhamos com pessoas, com seus sentimentos, esperanças e
angústias. Por esta razão, manifestamos nosso repúdio a esse tipo de comportamento que,
lamentavelmente é sublinhado por algumas lideranças religiosas que se afirmam como cristãs. Este
não é o Cristo que confessamos.
O Cristo que afirmamos é aquele que encarnou nossa natureza, nos amou profundamente e deu a sua
vida exatamente para que a morte não se tornasse a marca da sociedade. Nosso Deus nos convida a
estar do lado das pessoas pobres e exploradas. A vida é o fundamento do reino de Deus. Qualquer
regra ou prática que banalize a vida, a natureza e a dignidade de todos os seres, deve ser condenada
como obra do Maligno. Conclamamos nosso povo a orar e a vigiar.
A testemunhar por palavras e obras o nosso compromisso com o Reino de Deus.
Com nossas orações e bênçãos, Câmara Episcopal
Bispo Naudal Alves Gomes, Diocese Anglicana do Paraná e Primaz
Bispo Maurício Andrade, Diocese Anglicana de Brasília
Bispo Renato Raazt, Diocese Anglicana de Pelotas
Bispo Francisco de Assis da Silva , Diocese Sul- Ocidental
Bispo Humberto Maiztegui , Diocese Meridional
Bispo João Câncio Peixoto, Diocese Anglicana de Recife
Bispo Eduardo Coelho Grillo, Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Bispa Marinez Rosa dos Santos Bassotto, Diocese Anglicana da Amazônia
Bispo Clóvis Erly Rodrigues, Emérito Bispo Almir dos Santos, Emérito
Bispo Celso Franco, Emérito Bispo Jubal Pereira Neves, Emérito
Bispo Orlando Oliveira, Emérito Bispo Filadelfo de Oliveira, Emérito
Bispo Saulo de Barros, Emérito