Foto de Paulo Pinto, em 7 de abril de 2018, foi a que recebeu o maior lance (R$ 65 mil). Nesse
dia, Lula foi preso. Recursos foram doados ao Instituto Lula
Em um esquina da Vila Madalena, bairro boêmio da zona oeste paulistana, um desavisado poderia
imaginar que havia uma festa concorrida, porque a quantidade de gente superou de longe a
capacidade do bar. Mas era um leilão de fotografias, com tema único: o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Às 23h05 da quarta-feira (3), quando o leiloeiro Cléber Melo considerou finalizada a
venda do último dos 50 lotes, a arrecadação superou em 9,5 vezes a soma do lance mínimo (de R$
1.313 cada foto) e chegou a R$ 623.900. O ator José de Abreu arrematou uma das fotos.
Por sugestão do próprio Lula, o dinheiro será destinado ao instituto que leva o seu nome, que
Por sugestão do próprio Lula, o dinheiro será destinado ao instituto que leva o seu nome, que
enfrenta dificuldades financeiras. “Este leilão significou o resgate de mais de 40 anos de militância
do presidente Lula. Isso, para nós, não tem preço”, afirmou o presidente da entidade, Paulo
Okamotto. “O objetivo é mostrar, principalmente para a juventude, que o presidente Lula serviu ao
povo brasileiro. Ele está preso porque representa um projeto político. Quantos políticos teriam o
privilégio de ter mais de 40 fotógrafos cedendo o seu trabalho?”, questionou.
Quarenta e três profissionais da imagem, organizados no grupo Fotógrafos pela Democracia, doaram
material para o leilão, mostrando Lula em diferentes situações em quatro décadas. A primeira
imagem leiloada, de Rogério Reis, foi tirada em 26 de julho de 1978, no Rio de Janeiro, quando o
então sindicalista Luiz Inácio da Silva participava do 5º Congresso Nacional dos Trabalhadores na
material para o leilão, mostrando Lula em diferentes situações em quatro décadas. A primeira
imagem leiloada, de Rogério Reis, foi tirada em 26 de julho de 1978, no Rio de Janeiro, quando o
então sindicalista Luiz Inácio da Silva participava do 5º Congresso Nacional dos Trabalhadores na
Indústria, representando o incipiente “novo sindicalismo”.
E a última, vendida já depois das 23h, mostra Lula sendo carregado por uma multidão depois de
participar daquele que seria seu último ato público antes de ser preso, em São Bernardo do Campo,
ABC paulista, em 7 de abril do ano passado. A foto é do gaúcho Paulo Pinto, em São Paulo há 30
anos. Ele acompanhou o leilão de ontem à distância. E soube que sua imagem foi a que teve o maior
preço no bater do martelo: R$ 65 mil.
Quatro das 50 fotos do Leilão Lula Livre são daquele dia. Além da de Paulo Pinto, há uma, bastante
Quatro das 50 fotos do Leilão Lula Livre são daquele dia. Além da de Paulo Pinto, há uma, bastante
parecida, do jovem Francisco Proner (R$ 25 mil), outra que mostra Lula bem de perto, retratado por
Ian Manfeld (R$ 14.500) e uma com o ex-presidente também próximo, de Marlene Bergamo (R$ 11
mil).
Democracia
Duas imagens de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula, arrecadaram valores expressivos. A que
Duas imagens de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula, arrecadaram valores expressivos. A que
o ex-presidente aparece de costas, abraçado e envolvido por várias pessoas, em Barbalha (CE), em
21 de setembro de 2016, foi vendida por R$ 50 mil. E a provavelmente mais divertida, em que o
petista dança ao ritmo da Sarrada no Ar em evento da Juventude do PT, na Bahia, em 20 de agosto
de 2017, chegou a R$ 40 mil. Todas as 50 foram autografadas por Lula. Os fotógrafos também
assinaram seus trabalhos.
“A questão de Lula livre é a questão da democracia”, disse a fotógrafa Mônica Zarattini,
organizadora do evento. “Lula não é um político preso, é um preso político. Todo brasileiro deveria
ler o processo de Lula, para ver o que está escrito lá. Zero prova”, afirmou, minutos antes do Leilão
001/2019, iniciado precisamente às 20h30. Os lances poderiam ser feitos online e presencialmente,
no bar da Vila Madalena e em um hotel de João Pessoa. A fase eletrônica começou ainda na parte da
tarde.
Algumas fotografias foram disputadas acirradamente. A de Celso Júnior, por exemplo, em que Lula
aparece de calção no mar, na Praia da Lagoa Doce, em Luís Correia (PI), demorou mais do que a
média porque duas concorrentes, uma de São Paulo e outra do Paraná, faziam uma oferta sobre a
outra. A paranaense acabou levando a imagem, por R$ 15 mil.
A cada foto vendida, aplausos e gritos. A do lote 30 – posse de Lula, em 2003 – recebeu palmas
A cada foto vendida, aplausos e gritos. A do lote 30 – posse de Lula, em 2003 – recebeu palmas
ainda mais entusiasmadas pelo valor ter sido de R$ 13 mil, remetendo ao número do partido do
presidente. Por sinal, foi comprada pela mesma pessoa que levou a foto de maior preço no leilão.
Vendida para o “presidente”
Além de Okamotto, estavam lá os diretores do instituto Clara Ant e Artur Henrique, que também
Além de Okamotto, estavam lá os diretores do instituto Clara Ant e Artur Henrique, que também
arrematou uma foto, de Lula no estádio de Vila Euclides (atual 1º de Maio), em São Bernardo, em
1979 – o clique é de Rosa Gauditano. Um participante ativo foi José de Abreu, que tentou várias
vezes, até que conseguiu comprar a foto do lote 22, de Roberto Parizotti, profissional da CUT,
conhecido como Sapão: em 1989, em uma festa na Associação dos Metalúrgicos Aposentados, Lula
segura uma bandeira do PT. “Vendi a foto para o presidente”, brincou Sapão. Em brincadeira recente
nas redes sociais, o ator se “autoproclamou” presidente da República. Ainda ontem, ele celebrou pelo
Twitter: “foi lindo o leilão, gente! uma coisa deslumbrante!”.
Quem permaneceu no local o tempo todo, sem participar do leilão, foi o ex-deputado e ex-presidente
Quem permaneceu no local o tempo todo, sem participar do leilão, foi o ex-deputado e ex-presidente
do PT José Genoino. Já perto do final, o vereador Eduardo Suplicy também assistiu, assim como
Ana Estela Haddad, mulher do ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad, e o ex-deputado Djalma
Bom, preso com Lula e outros sindicalistas durante a greve dos metalúrgicos do ABC em 1980,
ainda durante a ditadura.
Djalma anunciou que, para lembrar a data, haverá uma manifestação no próximo dia 19. O ato será
diante do Memorial da Resistência, onde ficava o Dops, local da prisão dos metalúrgicos, na região
central de São Paulo.
“Foi um leilão ímpar”, afirmou Cléber Melo, responsável pelo processo, enquanto Daiana Martins –
“Foi um leilão ímpar”, afirmou Cléber Melo, responsável pelo processo, enquanto Daiana Martins –
a primeira leiloeira da Paraíba, segundo ele – comandava o andamento em João Pessoa. Mineiro de
Belo Horizonte, agora morando na capital paraibana e há 10 anos trabalhando como leilões, Cléber
disse que a algazarra não o surpreendeu. Há leilões ainda mais agitados, contou, como aqueles que
envolvem venda de animais. Segundo ele, mais de 2 mil pessoas se inscreveram para os das fotos do
ex-presidente. Mostrando fôlego para narrar os lances por mais de três horas, ele disse que havia
feito outro leilão pela manhã. “E tenho um sábado agora”, acrescentou.
Havia algum receio sobre a presença de opositores ao leilão no processo virtual. Pelas regras, todos
os participantes deveriam apresentar CPF, identidade e comprovante de residência, no caso de
pessoas físicas. As jurídicas precisavam de CNPJ, CPF, identidade e comprovante de residência do
representante legal. O pagamento deve ser feito via transferência bancária ou por cartão (crédito ou
débito) em até 72 horas depois do leilão. Quem não paga, lembrou, arrisca-se a ficar com nome sujo.
“A gente entra com protesto.”
Como não poderia deixar de ser, a noite terminou com um “boa noite, presidente Lula”, repetido três
Como não poderia deixar de ser, a noite terminou com um “boa noite, presidente Lula”, repetido três
vezes. Alternando repertório, Suplicy cantava Se todos fossem iguais a você, de Tom Jobim e
Vinícius de Moraes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário