quinta-feira, 4 de abril de 2019

Leilão de fotos de Lula tem 2 mil participantes e arrecada R$ 623.900 para instituto


Foto de Paulo Pinto, em 7 de abril de 2018, foi a que recebeu o maior lance (R$ 65 mil). Nesse 
dia, Lula foi preso. Recursos foram doados ao Instituto Lula
Em um esquina da Vila Madalena, bairro boêmio da zona oeste paulistana, um desavisado poderia
imaginar que havia uma festa concorrida, porque a quantidade de gente superou de longe a 
capacidade do bar. Mas era um leilão de fotografias, com tema único: o ex-presidente Luiz Inácio 
Lula da Silva. Às 23h05 da quarta-feira (3), quando o leiloeiro Cléber Melo considerou finalizada a 
venda do último dos 50 lotes, a arrecadação superou em 9,5 vezes a soma do lance mínimo (de R$ 
1.313 cada foto) e chegou a R$ 623.900. O ator José de Abreu arrematou uma das fotos.
Por sugestão do próprio Lula, o dinheiro será destinado ao instituto que leva o seu nome, que 
enfrenta dificuldades financeiras. “Este leilão significou o resgate de mais de 40 anos de militância 
do presidente Lula. Isso, para nós, não tem preço”, afirmou o presidente da entidade, Paulo 
Okamotto. “O objetivo é mostrar, principalmente para a juventude, que o presidente Lula serviu ao 
povo brasileiro. Ele está preso porque representa um projeto político. Quantos políticos teriam o 
privilégio de ter mais de 40 fotógrafos cedendo o seu trabalho?”, questionou.
Quarenta e três profissionais da imagem, organizados no grupo Fotógrafos pela Democracia, doaram
material para o leilão, mostrando Lula em diferentes situações em quatro décadas. A primeira
imagem leiloada, de Rogério Reis, foi tirada em 26 de julho de 1978, no Rio de Janeiro, quando o
então sindicalista Luiz Inácio da Silva participava do 5º Congresso Nacional dos Trabalhadores na 
Indústria, representando o incipiente “novo sindicalismo”.
E a última, vendida já depois das 23h, mostra Lula sendo carregado por uma multidão depois de 
participar daquele que seria seu último ato público antes de ser preso, em São Bernardo do Campo, 
ABC paulista, em 7 de abril do ano passado. A foto é do gaúcho Paulo Pinto, em São Paulo há 30 
anos. Ele acompanhou o leilão de ontem à distância. E soube que sua imagem foi a que teve o maior 
preço no bater do martelo: R$ 65 mil.
Quatro das 50 fotos do Leilão Lula Livre são daquele dia. Além da de Paulo Pinto, há uma, bastante 
parecida, do jovem Francisco Proner (R$ 25 mil), outra que mostra Lula bem de perto, retratado por 
Ian Manfeld (R$ 14.500) e uma com o ex-presidente também próximo, de Marlene Bergamo (R$ 11 
mil).
Democracia
Duas imagens de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula, arrecadaram valores expressivos. A que 
o ex-presidente aparece de costas, abraçado e envolvido por várias pessoas, em Barbalha (CE), em 
21 de setembro de 2016, foi vendida por R$ 50 mil. E a provavelmente mais divertida, em que o 
petista dança ao ritmo da Sarrada no Ar em evento da Juventude do PT, na Bahia, em 20 de agosto 
de 2017, chegou a R$ 40 mil. Todas as 50 foram autografadas por Lula. Os fotógrafos também 
assinaram seus trabalhos.
“A questão de Lula livre é a questão da democracia”, disse a fotógrafa Mônica Zarattini, 
organizadora do evento. “Lula não é um político preso, é um preso político. Todo brasileiro deveria 
ler o processo de Lula, para ver o que está escrito lá. Zero prova”, afirmou, minutos antes do Leilão 
001/2019, iniciado precisamente às 20h30. Os lances poderiam ser feitos online e presencialmente, 
no bar da Vila Madalena e em um hotel de João Pessoa. A fase eletrônica começou ainda na parte da 
tarde.
Algumas fotografias foram disputadas acirradamente. A de Celso Júnior, por exemplo, em que Lula 
aparece de calção no mar, na Praia da Lagoa Doce, em Luís Correia (PI), demorou mais do que a 
média porque duas concorrentes, uma de São Paulo e outra do Paraná, faziam uma oferta sobre a 
outra. A paranaense acabou levando a imagem, por R$ 15 mil.
A cada foto vendida, aplausos e gritos. A do lote 30 – posse de Lula, em 2003 – recebeu palmas 
ainda mais entusiasmadas pelo valor ter sido de R$ 13 mil, remetendo ao número do partido do 
presidente. Por sinal, foi comprada pela mesma pessoa que levou a foto de maior preço no leilão.
Vendida para o “presidente”
Além de Okamotto, estavam lá os diretores do instituto Clara Ant e Artur Henrique, que também 
arrematou uma foto, de Lula no estádio de Vila Euclides (atual 1º de Maio), em São Bernardo, em 
1979 – o clique é de Rosa Gauditano. Um participante ativo foi José de Abreu, que tentou várias 
vezes, até que conseguiu comprar a foto do lote 22, de Roberto Parizotti, profissional da CUT, 
conhecido como Sapão: em 1989, em uma festa na Associação dos Metalúrgicos Aposentados, Lula 
segura uma bandeira do PT. “Vendi a foto para o presidente”, brincou Sapão. Em brincadeira recente 
nas redes sociais, o ator se “autoproclamou” presidente da República. Ainda ontem, ele celebrou pelo 
Twitter: “foi lindo o leilão, gente! uma coisa deslumbrante!”.
Quem permaneceu no local o tempo todo, sem participar do leilão, foi o ex-deputado e ex-presidente 
do PT José Genoino. Já perto do final, o vereador Eduardo Suplicy também assistiu, assim como 
Ana Estela Haddad, mulher do ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad, e o ex-deputado Djalma 
Bom, preso com Lula e outros sindicalistas durante a greve dos metalúrgicos do ABC em 1980, 
ainda durante a ditadura.
Djalma anunciou que, para lembrar a data, haverá uma manifestação no próximo dia 19. O ato será 
diante do Memorial da Resistência, onde ficava o Dops, local da prisão dos metalúrgicos, na região 
central de São Paulo.
“Foi um leilão ímpar”, afirmou Cléber Melo, responsável pelo processo, enquanto Daiana Martins – 
a primeira leiloeira da Paraíba, segundo ele – comandava o andamento em João Pessoa. Mineiro de 
Belo Horizonte, agora morando na capital paraibana e há 10 anos trabalhando como leilões, Cléber 
disse que a algazarra não o surpreendeu. Há leilões ainda mais agitados, contou, como aqueles que 
envolvem venda de animais. Segundo ele, mais de 2 mil pessoas se inscreveram para os das fotos do 
ex-presidente. Mostrando fôlego para narrar os lances por mais de três horas, ele disse que havia 
feito outro leilão pela manhã. “E tenho um sábado agora”, acrescentou.
Havia algum receio sobre a presença de opositores ao leilão no processo virtual. Pelas regras, todos 
os participantes deveriam apresentar CPF, identidade e comprovante de residência, no caso de 
pessoas físicas. As jurídicas precisavam de CNPJ, CPF, identidade e comprovante de residência do 
representante legal. O pagamento deve ser feito via transferência bancária ou por cartão (crédito ou 
débito) em até 72 horas depois do leilão. Quem não paga, lembrou, arrisca-se a ficar com nome sujo. 
“A gente entra com protesto.
Como não poderia deixar de ser, a noite terminou com um “boa noite, presidente Lula”, repetido três 
vezes. Alternando repertório, Suplicy cantava Se todos fossem iguais a você, de Tom Jobim e 
Vinícius de Moraes.

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